Chamada Futebois, Carnavalizações, Performances: sonorizações da cultura popular

Data início: 22/08/2021Data de encerramento: 15/07/2022Local: Revista FuLiAData limite inscrição: 15/08/2022

CHAMADA v. 8, n. 1 (2023): submissão até 15 de agosto de 2022

Há uma inquietante definição do antropólogo Tim Ingold a respeito do fenômeno da sonorização, que para ele se sustenta pelo e num movimento indissociável à vida: “o som, assim como a respiração, é experimentado como um movimento de ir e vir, inspiração e respiração. Se é assim, então deveríamos dizer do corpo, quando canta, sibila, assobia ou fala, que é sonorizado” (2011).

O presente Dossiê é inspirado nessa indissociabilidade entre os sentidos, apreensão e simbolização sensível das coisas ao nosso redor, que desse ponto de vista se recusa à divisão das tarefas sensoriais (ver, ouvir, tocar….) no ato de produzir conhecimento. Já Steve Feld defini o som como “um sistema abstrato e arbitrário de representações fonêmicas e fonéticas, mas como um sistema que motiva tanto a relação entre sensação e conhecimento perceptivo do mundo quanto a capacidade de engajamento quase imediato, simultaneamente abstrato e sensorial com o mundo” (2020).

Tais percepções amparadas nos sentidos, que animam os corpos, nascem dos órgãos (olhos, ouvidos) que se colocam à disposição não apenas como artefatos ou “instrumentos de reprodução” e aferição representacional de realidades externas, mas como meios de observação e percepção de mundos inventados por nós. E na medida em que é por intermédio dos sentidos que nos movemos (caminhando, pulando, cantando, jogando) em estreita interrelação simbólica, constituímos culturas e modos de vida singulares e relacionais, que em atos contínuos sempre nos colocam vendo, ouvindo, olhando, falando, tocando, cheirando.

Essa teoria vitalista, que dialoga com a noção de “fato social total” do antropólogo Marcel Mauss, alcança os temas que podem ser desenvolvidos nesse presente Dossiê, que buscará contemplar propostas que misturem ou coloquem em relevo nas práticas futebolísticas as formas de sonorização emanadas das linguagens performáticas ou dos silêncios impostos por conjunturas específicas. As arquibancadas vazias dos estádios na pandemia fizeram ecoar outros sons que levaram à necessidade de outras escutas. Trata-se de apreender “a construção emocional e social no e pelo som” (Feld, 2020) das performances individuais e coletivas.

Portanto, o Dossiê procurará agregar reflexões que possam oferecer experiências de atores concretos, sejam jogadores, torcedores, coletividades torcedoras e carnavalescas em performances nas ruas, nos estádios, nas arquibancadas, nos espaços de ajuntamento popular, que evocam estados de efervescência e engajamento promovidos pelo jogo. Ou explicitando o caráter socioantropológico presente na etnomusicologia contemporânea: “Investigações etnomusicológicas recentes valorizam a dinâmica social, na medida em que a pesquisa da música em dada comunidade representa, simultaneamente, um projeto comunitário. Ao invés da retórica acadêmica, prevalece aqui a voz dos membros dessa comunidade” (Oliveira Pinto, 2008).

As sonorizações vindas das múltiplas práticas ou as escutas dos sons futebolísticos podem ser capturadas em diversos rituais, performances corporais carnavalizadas – mobilizando esse amplo conceito cunhado por Mikhail Bakhtin –, expressas nos cantos, gritos de guerra, arranjos percussivos, execução de instrumentos, vocalizações e corporalidades de práticas transgressoras ou insurgentes, enfim, linguagens sonoras que elevam a performance esportiva num vórtice de significados em que jogar e olhar (torcer), e também ouvir, pactuam os múltiplos sentidos sobre o jogo.    

Serão valorizadas as propostas que levem em conta as experiências concretas dessas manifestações e ou aquelas que contemplem reflexões conceituais originais que estejam relacionadas diretamente a essas experiências de sonorização presente no multiverso do futebol, ou no universo dos futebóis.

Coorganizadores: Dr. Luiz Henrique de Toledo (UFSCar/Brasil); Dr. Tiago de Oliveira Pinto (UNESCO Chair, University of Music Franz Liszt, Weimar/Alemanha)

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