Futebol e modernismos: repensando os 100 anos da Semana de Arte Moderna

Data início: 15/02/2022Data de encerramento: 24/02/2022Local: CPF Sesc

Futebol e modernismos

Proponentes: Bernardo Buarque e Daniela Alfonsi
Este curso online prevê uma articulação inovadora entre o movimento modernista no Brasil e o fenômeno do futebol, mostrando as inter-relações entre as duas áreas da vida coletiva brasileira, a cultural e a esportiva, apresentando obras artísticas – crônicas, poemas, contos, pinturas, romances, roteiros de filmes, etc. – sensíveis aos significados sociais e estéticos de um jogo coletivo e popular.

Sob a forma de uma série de quatro mesas-redondas, o projeto prevê uma articulação inovadora entre o movimento modernista no Brasil e o fenômeno do futebol. Este, no início da década de 1920, já constituía uma modalidade esportiva popular, integrada ao discurso da identidade nacional ao menos desde 1919, quando da conquista do III Campeonato SulAmericano de 1919, comemorado de forma coletiva e entusiástica pela população. A proposta das gravações é mostrar as inter-relações entre as duas áreas da vida coletiva brasileira, a cultural e a esportiva, de modo a mostrar como, ao contrário da suposição que as coloca na condição de esferas distantes e apartadas entre si, os escritores e os artistas da
Semana de 1922, junto àqueles surgidos na esteira do modernismo naquele decênio e nos anos 1930 e 1940, lançaram um olhar para a prática futebolística e produziram obras artísticas – crônicas, poemas, contos, pinturas, romances, roteiros de filmes, etc. – sensíveis aos significados sociais e estéticos de um jogo coletivo e popular.

Mesa 1 – 15/02/2022 – terça, às 18h30-20h30
Mediação: Daniela Alfonsi

Os escritores e o futebol antes da Semana de Arte Moderna
Prof. Dr. André Mendes Capraro (UFPR)
Proposta: É inegável que os modernistas – sobretudo aqueles voltados à prosa e à poesia – ao valorizarem o futebol como temática de interesse nacional, elevaram tal prática esportiva a outro patamar no ambiente intelectual. Porém, outros nomes relevantes da literatura brasileira já tinham percebido que o esporte de origem europeia chamava, gradativamente, a
atenção da população. Esta intervenção procura apresentar os primórdios da aproximação entre o futebol e a literatura no Brasil das primeiras décadas do século XX.

O futebol na poesia modernista de Oswald de Andrade
Prof. Dr. Bernardo Buarque (FGV CPDOC)
Proposta: Grande expoente da vanguarda paulistana, Oswald de Andrade não ficou alheio ao fenômeno esportivo e cultural do futebol, cujo processo de popularização já se intensificava na década de 1920. Esta apresentação enfocará as imagens do futebol transmitidas na poesia modernista dessa figura proeminente da Semana de Arte Moderna de 1922.

Mesa 2 – 17/02/2022 – quinta, às 18h30-20h30
Mediação: Dra. Daniela Alfonsi

Mário de Andrade, a música e o futebol
Prof. Dr. José Geraldo Vinci de Moraes (USP)
Proposta: A poética de Mário de Andrade, sensível aos elementos materiais e sonoros da cultura popular e do folclore, não escapou seu olhar para o fenômeno urbano do futebol entre os anos 1920 e 1940. Em poesias e crônicas, e mesmo na obra-prima Macunaíma, há referências incidentais ao tema. A exposição procura mostrar de que forma a concepção marioandradina da música popular se refletiu na abordagem que o autor dispensou a aspectos intrínsecos do jogo e ao seu significado no projeto de construção da identidade nacional.

Pinturas modernistas: os esportes nas telas de Ismael Neri, Tarsila do Amaral, Cândido Portinari e Vicente do Rego Monteiro
Prof. Dr. Evandro Nicolau (Escola DIEESE de Ciências do Trabalho e MAC-USP)
Proposta: Dentre muitos aspectos temáticos, presentes em pinturas do modernismo brasileiro, está o tema identidade. Em um mesmo momento, o futebol passa a se constituir como elemento cultural de uma certa democracia racial que busca a construção de uma integração nacional. A proposta abordará uma vertente do modernismo que, eventualmente,
vai inserir o esporte em sua iconografia, como um signo de multiculturalismo, seja pela imigração europeia, seja pela presença dos negros nas pelejas do futebol, como expressão de povo brasileiro nascente. Nas pinturas de alguns artistas modernos, iremos abordar o esporte, a luz, o nacionalismo e o futebol, como pano de fundo de uma cultura embebida por alguma expectativa utópica de modernidade. Como uma obra relevante para puxar o assunto, traremos a pintura Futebol em Brodósqui (1935) de Candido Portinari, entre outras obras que citaremos no programa.

Mesa 3 – 22/02/2022 – terça, às 18h30
Mediação: Bernardo Buarque (FGV CPDOC)

Futebol e arte sob o olhar irreverente do chargista
Prof. Dr. Marcelino da Silva Rodrigues (UFMG)
Proposta: Levando humor e leveza para as páginas dos jornais e das revistas da primeira metade do século XX, as charges e caricaturas ocupavam um lugar importante no cenário em que o futebol e o Modernismo se desenvolveram no Brasil. Mais do que isso, elas dialogaram intensamente com a história desses dois fenômenos, participando de sua construção e reverberando o seu sucesso. Nesta intervenção, falaremos um pouco sobre essa história, com um foco especial no trabalho do cartunista e artista plástico mineiro Fernando Pieruccetti, criador das famosas mascotes do futebol mineiro.

Raízes do futebol-arte: Gilberto Freyre e Mário Filho
Profa. Dra. Leda Maria da Costa (UERJ)
Proposta: É nos anos de 1930 que ganha força a produção de um conjunto de interpretações e imagens positivas em torno do futebol brasileiro que serão posteriormente consolidadas e se transformarão nos elementos basilares da concepção de futebol-arte. Esta exposição procura apresentar um pouco da trajetória da construção da noção de futebol-arte, enfocando os significativos papeis desempenhados, nesse processo histórico, pelo jornalista Mario Filho e pelo sociólogo Gilberto Freyre.

Mesa 4 – 24/02/2022 – quinta, às 18h30
Mediação: Bernardo Buarque

Nelson Rodrigues e a crônica esportiva moderna
Prof. Dr. José Carlos Marques (UNESP/Bauru)
Proposta: Nelson Rodrigues já foi considerado o responsável por inaugurar o moderno teatro brasileiro com a peça Vestido de Noiva (1943). Podemos estender sua contribuição igualmente para a crônica de esportes no Brasil, em função de seu olhar de literato e de sua escrita inovadora em jornais cariocas a partir da década de 1940.

Adeus, modernismo? Os escritores contemporâneos e as narrativas pós-modernas do futebol
Prof. Dr. Gustavo Cerqueira Guimarães (UFMG)
Proposta: A apresentação traz uma seleção de escritores contemporâneos que narraram ficcionalmente o futebol, a exemplo de Edilberto Coutinho, de Maracanã, adeus (1980), e de Sérgio Sant’Anna, autor dos contos “Na boca do túnel” – do livro O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro (1982) – e “No último minuto”, de Notas de Manfredo Rangel, repórter (1973). O programa debate de que maneira imagens, tomadas de vídeo, fragmentação da narrativa, entre outros dispositivos da literatura pós-moderna, caracterizam o narrador presente nos autores examinados, tensionando e esgarçando a acepção de moderno tal qual verificada nas origens da Semana de 1922 e em seus desdobramentos modernistas.

Sobre os participantes

André Mendes Capraro
Formado em Educação Física e Psicologia com mestrado e doutorado em História. Em 2013, realizou estágio pós-doutoral na Università Ca´ Foscari di Venezia. Já orientou no Programa de Pós-graduação em História da UFPR e, atualmente, está vinculado ao Programa de Pósgraduação em Educação Física na mesma instituição. Os seus atuais projetos de pesquisa têm
como focos a proximidade entre o esporte e a literatura, o turismo esportivo e a relação entre esporte e memória (manifesta por meio da oralidade).

Bernardo Buarque
Doutor em História Social da Cultura, pela PUC-Rio, e professor adjunto da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV CPDOC). É bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq e autor dos livros O descobrimento do futebol: modernismo, regionalismo e paixão esportiva em José Lins do Rego (2004) e ABC de José Lins do Rego (2012). É coordenador do Laboratório de Estudos do Esporte (LESP).

Daniela Alfonsi
Doutora em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP). Foi diretora de conteúdo do Museu do Futebol e do seu Centro de Referência do Futebol Brasileiro. Organizadora de exposições e simpósios dedicados ao futebol. Atualmente é coordenadora de projetos na Expomus. Autora de artigos e organizadora da coletânea Futebol – objeto das ciências humanas (2014).

Elcio Cornelsen
Doutor em Estudos Germanísticos pela Freie Universität Berlin, na Alemanha, e professor titular da Faculdade de Letras, da Universidade Federal de Minas Gerais. É bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq e coorganizador dos livros Futebol, Linguagem e Artes (2015), Futebol, Linguagem, Artes, Cultura e Lazer (2015) e Futebol – fato social total (2020). É coordenador do Núcleo de Estudos sobre Futebol, Linguagem e Artes (FULIA), da UFMG.

Evandro Nicolau
Artista, historiador da arte, curador e professor. É Educador no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo e professor no Bacharelado Interdisciplinar em Ciências do Trabalho na escola de na Faculdade DIEESE. Doutor e Mestre pelo Programa de Pós-graduação Estética e Historia da Arte Mestrado e Doutorado e Estagio Acadêmico na Edinburgh University Art Space + Nature, Escócia. Graduado em Licenciatura em Artes Visuais pelo IA UNESP. Autor do livro FUTEBOL E IMAGEM, o jogo transformado em arte (não publicado, prelo) e criador e participante do PodCast Futebol e Arte – Portal Fruta Preta 2021.

Gustavo Cerqueira Guimarães
Doutor e mestre em Estudos Literários pela UFMG. Cofundador e editor da revista FuLiA/UFMG. Leitor brasileiro em Moçambique, pelo Itamaraty, atuando como professor de literatura, arte e cultura brasileiras na Universidade Eduardo Mondlane e no Centro Cultural Brasil-Moçambique.

José Carlos Marques
Professor Associado do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Unesp. LivreDocente em Comunicação e Esporte pela Unesp, Doutor em Ciências da Comunicação pela USP e Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Autor do livro “O futebol em Nelson Rodrigues” (2a. ed., EDUC: São Paulo, 2012).

José Geraldo Vinci de Moraes
Professor associado de Metodologia e Teoria da História do departamento de História da FFLCH-USP. Autor de Criar o Mundo do Nada (Ed. Intermeios), História e Música (Ed. Alameda), Conversas com historiadores brasileiros (Ed 34), Metrópole em sinfonia (Ed Estação Liberdade) e Sonoridades paulistanas (Funarte).

Leda Maria da Costa
Professora visitante da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professora colaboradora do Programa de Pós-graduação em Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Autora do livro Os vilões do futebol. Jornalismo esportivo e imaginação melodramática. Curitiba: Appris, 2020.

Marcelino Rodrigues da Silva
Com mestrado em Teoria da Literatura e doutorado em Literatura Comparada, Marcelino Rodrigues da Silva é professor associado da Faculdade de Letras da UFMG. Como pesquisador, publicou diversos trabalhos sobre as relações entre futebol, jornalismo, arte e literatura, com destaque para os livros Mil e uma noites de futebol: o Brasil moderno de Mário Filho (Editora UFMG, 2006) e Quem desloca tem preferência: ensaios sobre futebol, jornalismo e literatura (Relicário Edições, 2014).

 

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