Pela décima primeira vez em sua história, a Sociedade Esportiva Palmeiras é campeã brasileira! O título, que já a algumas rodadas era apenas questão de tempo, foi confirmado durante a tarde do dia 2 de novembro, após a vitória por 1×0 do América-MG sobre o Internacional, acabando com as remotas chances de título do time gaúcho. Se o troféu foi conquistado sem a equipe estar em campo, já que jogaria apenas a noite, a atuação palmeirense na goleada por 4×0 frente ao Fortaleza serviu como a merecida apoteose de uma equipe que dominou completamente a competição, liderando-a desde a décima rodada.

Para contar a história do título e homenagear os hendecacampeões brasileiros, escolhemos 11 pontos-chave da espetacular campanha palmeirense para um olhar um pouco mais detalhado. Ainda que muitas outras coisas possam (e devam!) ser lembradas, cada um desses 11 pontos, sem dúvidas, deixou esse título com um sabor mais único e especial. Vamos a eles!

Abel Ferreira

Falar da qualidade e importância de Abel Ferreira e sua equipe técnica no comando palmeirense já é chover no molhado. Ainda assim, é mais do que necessário destacar a grandiosidade dessa figura para o clube. É simbólico que o título brasileiro tenha vindo exatamente dois anos depois de Abel desembarcar no Brasil para assumir a equipe. Desde aquele 2 de novembro de 2020, foram nada mais nada menos que seis títulos conquistados, culminando na espetacular campanha do título brasileiro.

Na chegada de Abel ao Palmeiras, dissemos que, mesmo sendo uma aposta, o novo treinador trazia consigo a esperança de uma real evolução no desempenho da equipe, algo inexistente com os treinadores anteriores. A aposta sem dúvidas se pagou por muito. Já em sua terceira temporada no comando palmeirense, vemos uma equipe extremamente madura, competitiva, forte coletiva e individualmente e com uma força mental assustadora. Vencer o Palmeiras é tarefa das mais ingratas, fruto de um trabalho que parece estar sempre em evolução.

Gigantesco é pouco para descrever, talvez, o maior treinador da história do clube.

Manutenção e polivalência do elenco

Muitas críticas têm sido feitas nos últimos dois anos à diretoria palmeirense por uma certa timidez nas contratações. Nessa campanha do título, porém, o outro lado da moeda ficou mais exposto. Se o clube contrata relativamente pouco, é também porque mantém seu elenco e perde poucos jogadores.

Contando com uma base de atletas que chegaram ao clube entre 2015 e 2020 (casos de Wéverton, Gustavo Gomez, Luan, Marcos Rocha, Mayke, Zé Rafael, Veiga, Scarpa, Dudu e Rony), percebemos que o amadurecimento do jogo palmeirense se dá também pela evolução de todos esses jogadores dentro da proposta já muito bem fixada da comissão técnica. Essa força e maturidade, considerando o elenco curto que tem o Palmeiras, aumenta as opções e variações possíveis na forma de escalar a equipe e disputar as partidas.

Nesse tempo, Rony saiu da ponta para se tornar o camisa 9 que a torcida tanto quis (23 gols em 2022, artilheiro palmeirense na temporada, sendo 12 no Brasileirão), Mayke atuou na ponta direita, Scarpa jogou de ala/lateral, Luan atuou como volante, entre outras opções. Diferentes formações e diferentes variações com os mesmos jogadores fizeram com que o Palmeiras de 2022 tivesse alto desempenho durante toda a temporada.

Palmeiras
Foto: Cesar Greco/Palmeiras/Fotos Públicas

Defesa que ninguém passa e decide na frente

Como de costume nas últimas temporadas, a defesa palmeirense se mostrou extremamente segura e dura de ser vazada. Em conversa com os líderes e já campeões brasileiros do elenco antes do início do torneio, Abel os questionou sobre os principais pontos que faziam de uma equipe campeã brasileira. Além de citarem a força como mandante e a constância durante a competição, todos comentaram sobre a importância de se ter a melhor defesa do campeonato. Objetivo cumprido à risca com extrema competência.

Que nosso setor defensivo se estabelecesse como ponto forte da equipe todos nós palmeirenses já estávamos habituados. O ponto fora da curva da temporada foi a imensa quantidade de gols marcados por nossos zagueiros no ano. Simplesmente a temporada mais artilheira de um grupo de zagueiros palmeirenses num só ano. Luan com um gol, Murilo com dez e Gomez com onze (maior número de gols marcados por um zagueiro em uma temporada na história do Palmeiras) colaboraram e muito com a conquista do hendecacampeonato.

Repertório ofensivo

Desde a chegada de Abel ao comando do Palmeiras, a forma de jogar da equipe foi constantemente criticada por sua suposta reatividade. Segundo muitos especialistas, Abel montava o time de forma a se proteger defensivamente e apenas explorar contra-ataques, de forma com que a equipe tinha grande dificuldade em criar jogadas de gol contra times mais fechados. Crítica justa em certos pontos, ainda que um pouco exagerada no geral.

Em 2022, porém, o cenário foi outro. Com a forma de jogar cada vez mais consolidada, o Palmeiras demonstrou força e repertório ofensivo para se afirmar como o melhor ataque do Brasileirão. Desde a evolução do jogo de construção pelo meio, passando pelas rápidas transições ao recuperar a posse de bola, juntamente com o desequilíbrio individual causado por Dudu, Veiga e Scarpa pelas pontas e ainda uma infinidade de jogadas de bola parada no portfólio, parar o ataque palmeirense foi tarefa quase impossível para os rivais.

Domínio nos clássicos

O desempenho alviverde nos clássicos paulistas durante o Brasileirão foi praticamente impecável. Em seis jogos foram cinco vitórias e um empate, conquistando 16 dos 18 pontos possíveis contra seus grandes rivais, marcando oito gols e sofrendo apenas um. A importância de se ter um alto desempenho nos clássicos se dá por dois fatores: em primeiro lugar, pela capacidade que rivais em momentos não tão bons têm de se desdobrar em campo e fazer grandes jogos contra equipes melhores; em segundo, pelo ganho moral que cada vitória contra um rival proporciona.

Com exceção da vitória por 3×0 contra o Corinthians logo na terceira rodada do primeiro turno, os outros cinco jogos foram bastante difíceis e resolvidos por detalhes. Seja nas vitórias por 1×0 contra o Santos, na vitória no Derby na Neo Química Arena contando com um gol contra, ou mesmo na virada contra o São Paulo em pleno Morumbi com dois gols nos acréscimos, todos esses jogos exigiram da equipe grande força mental para conquistar a vitória. Com um pouco mais de sorte contra o São Paulo no Allianz, já com o título encaminhado, a equipe teria saído do Brasileirão com 100% de aproveitamento. Simplesmente espetacular.

Palmeiras
Foto: Cesar Greco/Palmeiras/Fotos Públicas

Visitante indesejado

17 jogos, nenhuma derrota, 37 pontos conquistados, 72,5% de aproveitamento. Com mais uma vitória nos dois jogos fora de casa que ainda lhe restam, o Palmeiras de 2022 ultrapassará o Fluminense de 2012 como o melhor visitante da história dos pontos corridos. Uma campanha absurda fora de seus domínios, que só comprova a força mental desse time. 

Depois de quebrar o recorde de partidas de invencibilidade como visitante da Libertadores, o Palmeiras pode também se tornar o único time invicto como visitante na história dos pontos corridos do Brasileirão. Histórico.

Força da torcida

Se o desempenho palestrino longe de seus domínios é considerado espetacular, dentro de casa a equipe não deixou por menos. Até o final da rodada 35, na qual conquistou o título, o Palmeiras liderava a “tabela dos mandantes” do campeonato, com 40 pontos em 18 jogos (dois pontos a mais que o Internacional, segundo colocado, que tem um jogo menos), além de ostentar o melhor ataque a segunda melhor defesa junto de sua torcida.

Torcida essa que deu verdadeiro show e jogou junto com o time em toda a competição, emendando 14 jogos seguidos com mais de 30 mil pessoas presentes no estádio, muitos deles com lotação superior ou próxima a 40 mil. Sob a marca do canto “Vamo pra cima Porco/ Hoje eu vim te apoiar/ Sair vencedor/ Lutem sem parar”, a sinergia entre jogadores e torcida ajudou a equipe a construir vitórias difíceis e emendar grandes apresentações para pavimentar o caminho do título.

Não perder nenhum confronto contra os segundos colocados

Rodada 22 – Corinthians 0 x 1 Palmeiras; 

Rodada 23 – Palmeiras 1 x 1 Flamengo;

Rodada 24 – Fluminense 1 x 1 Palmeiras.

O que todos esses jogos tinham em comum? O Palmeiras enfrentou, por três rodadas consecutivas, o vice-líder da competição. Venceu o dérbi e empatou com a dupla FlaFlu no momento em que os rivais tinham a chance de diminuir a diferença de pontos pelo confronto direto. Demonstração de controle e força impressionantes, não apenas para manter ou aumentar a distância na ponta, mas para principalmente minar a expectativa dos rivais.

Palmeiras
Foto: Cesar Greco/Palmeiras/Fotos Públicas

Vitória contra o Galo

Marcelo Lomba, Marcos Rocha, Kuscevic, Murilo, Piquerez, Luan, Atuesta (Jorge), Scarpa (Tabata), Mayke (Navarro), Rony (Breno Lopes), Dudu (Garcia). Cheio de desfalques por conta de convocações, suspensões e lesões, essa foi a escalação enviada a campo por João Martins (Abel também estava fora) para o duro duelo contra o Atlético Mineiro pela vigésima oitava rodada do Brasileirão. 

Aquela altura da competição, todos enxergavam este jogo como aquele em que o Internacional, que enfrentava o Bragantino em casa, poderia encostar no Palmeiras. O empate dos colorados por 0 x 0, aliado a grande vitória palestrina por 1 x 0 com gol de Murilo foi um gigante balde de água fria nas expectativas dos rivais de encostarem no Verdão, que ali deu mais um grande passo rumo ao título.

Scarpinha Last Dance

Andar de skate, resolver cubos mágicos, ler centenas de livros, causar com os gringos e comemorar títulos bebendo leite condensado e comendo Trakinas na frente da placa de entrada de sua cidade. Este é Gustavo Henrique Scarpa, o craque do Campeonato Brasileiro de 2022.

Muito longe do perfil boleirão, o roqueiro Scarpa superou o difícil início no clube, a falta de sequência na equipe e as diversas improvisações para se tornar a grande referência técnica desta equipe campeã brasileira. Assistências, bolas paradas, conduções. Scarpa vive seu auge no futebol brasileiro. 

Tudo isso depois de no meio do ano anunciar que iria para a Inglaterra realizar seu sonho de morar fora do país e vivenciar outra cultura ao final de seu contrato com o Palmeiras em dezembro. Sem dúvida alguma Scarpa se despede do Verdão da melhor e incrível maneira possível.

Um fenômeno chamado Endrick

Desde o início do ano, quando o Palmeiras conquistou pela primeira vez a Copinha, o torcedor esperava ansiosamente o dia 21 de julho. O motivo? Endrick, fenômeno da base palmeirense, completaria 16 anos e poderia assinar seu primeiro contrato profissional com o clube. No decorrer de 2022, a cada gol marcado pelas categorias sub17 e sub20, a cada final por ele decidida e a cada título conquistado, a expectativa pela sua estreia apenas aumentava.

Em 18 de setembro, o menino foi relacionado pela primeira vez por Abel Ferreira. Em 6 de outubro, fez sua estreia entrando no decorrer do segundo tempo. Em 25 de outubro, no seu quarto jogo, frente ao Atlhético em Curitiba, balançou a rede pela primeira vez com a camisa palestrina, e logo em dose dupla. No dia 2 de novembro, sua estreia como titular, marcou pela primeira vez no Allianz Parque. Campeão em todas as categorias pelo Palmeiras, do sub11 ao profissional, mais jovem jogador na história do clube a entrar em campo e a marcar um gol. O futuro do futebol brasileiro já se encontra em nosso presente.

Que de fato é campeão!

Em um campeonato tão longo quanto o Brasileirão, muitas são as lembranças e histórias deixadas pelo caminho. Além desses onze pontos por nós aqui citados, com certeza cada palmeirense guarda mais algum do decorrer desses sete meses de disputa. E talvez isso seja o mais importante. Vivemos uma época gloriosa do Verdão. A Terceira Academia de Futebol, batizada pelo Divino Ademir da Guia.

Daqui dez, vinte, trinta anos serão essas as histórias que contaremos às futuras gerações palestrinas. Presenciamos a Era Abel Ferreira, vimos Dudu, Gomez, Weverton ganharem tudo em solo brasileiro e sulamericano.

O futuro é Verde e tem muito mais ainda pela frente… Todos somos 11!

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Gustavo Dal'Bó Pelegrini

Professor de Educação Física e mestrando na área de Educação Física e Sociedade. E um pouco palmeirense. @camisa012

Leonardo Megeto Montelatto

Formado em Educação Física pela UNICAMP. Professor de futebol na Arena Belletti e na Associação Rocinhense.

Como citar

PELEGRINI, Gustavo Dal'Bó; MONTELATTO, Leonardo Megeto. 11 pontos-chave do Palmeiras 11 vezes campeão. Ludopédio, São Paulo, , 2022.
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