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5 toques de filmes brasileiros que tratam do futebol no século XXI, por José Carlos Marques

Este mês apresentamos a dicas do convidado José Carlos Marques, professor associado da Universidade Estadual Paulista (Unesp/Bauru), onde atua como docente do Programa de Pós-graduação em Comunicação e do Departamento de Ciências Humanas da Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design. José Carlos Marques é líder do Grupo de Estudos em Comunicação sobre Esporte e Futebol (GECEF/Unesp) e integra o Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Futebol e Modalidades Lúdicas (LUDENS/Usp). Desde maio de 2010, é um dos coordenadores do programa radiofônico “Observatório do Esporte”, divulgado semanalmente pela Rádio Unesp FM. Em 2017, foi eleito Diretor da Rádio Unesp FM.

Jose Carlos Marques publicou inúmeros textos que articulam comunicação e esporte. É autor de O futebol em Nelson Rodrigues (2000), e participou da organização de diversas coletâneas, dentre as quais destacamos Comunicação e esporte: diálogos possíveis (2007), Futebol, cinema e Cia: ensaios (2011), Futebol, Comunicação e Cultura (2012), A Copa das Copas? Reflexões sobre o mundial de futebol de 2014 no Brasil (2015) e Qual legado? Leituras e reflexões sobre os Jogos Olímpicos Rio-2016 (2018).

No Ludopédio, José Carlos Marques tem inúmeras contribuições, boa parte delas organizadas na coluna “A bola como ela é”. Em 2012, foi entrevistado pela equipe do portal, ocasião em que fez um balanço de sua produção, incluindo sua passagem como árbitro de futebol profissional.

José Carlos Marques apresenta uma lista de filmes brasileiros produzidos no século XXI que tratam de futebol. Vamos, assim, aos 5 toques do convidado:

1º toque: O dia em que o Brasil esteve aqui, dirigido por Caíto Ortiz e João Dornelas, 2005

Em fevereiro de 2004, um golpe de estado no Haiti derruba o presidente Jean-Bertrand Aristide, e guerrilheiros armados tomam as ruas do país. Tentando restaurar a paz, tropas brasileiras a serviço da ONU são enviadas para o Haiti. Num ambiente caótico, o primeiro-ministro interino fez uma declaração inesperada: “em vez de tropas, o Brasil deveria enviar sua seleção de futebol”, campeã mundial em 2002. Quase seis meses depois, em 18 de agosto de 2004, a capital Porto Príncipe assiste a um amistoso entre as seleções de Brasil e do Haiti. O objetivo era promover a paz no pequeno país caribenho. O documentário acompanha os preparativos desta partida, o desembarque da seleção brasileira, o cortejo da delegação rumo ao estádio e a decepção dos locais por não poderem ter mais atenção dos jogadores canarinhos.

 

2º toque: O casamento de Romeu e Julieta, dirigido por Bruno Barreto, 2005

O filme aborda o tema do amor impossível entre dois jovens; neste caso, não se trata de filhos de famílias rivais, mas de um casal que se conhece por acaso e que tem paixões clubísticas opostas. A rivalidade coloca de um lado uma torcedora do Palmeiras, Julieta, jogadora do time feminino do Verdão e filha de um membro do Conselho Deliberativo do clube; o pai, aliás, não admite que a garota namore alguém que torça por outro time. Do outro lado, temos Romeu, um médico oftalmologista que é, ao lado de sua família, um torcedor fanático do Corinthians. Para conquistar o coração de Julieta, Romeu finge ser palmeirense, e de quebra atrai ainda a simpatia e concordância do futuro sogro. A mentira, porém, gera uma série de confusões e peripécias cômicas entre as personagens. Além da inspiração Shakespeariana, o filme também é uma adaptação livre da obra Palmeiras, Um Caso de Amor, de Mário Prata.

 

3º toque: O ano em que meus pais saíram de férias, dirigido por Cao Hamburguer, 2006

Mauro é um adolescente que vive em Belo Horizonte e que sonha com o Brasil sagrando-se tricampeão mundial de futebol no México, em 1970. Um dia, seus pais “saem de férias” de forma inesperada e abandonam sua casa em Minas Gerais para deixar o filho sob os cuidados do avô paterno, um imigrante judeu que vive no bairro do Bom Retiro, na cidade de São Paulo. Enquanto aguarda um telefonema ou a volta de seus genitores, Mauro precisa lidar com a nova realidade, que oscila entre momentos de tristeza (pelo estranhamento da vida que leva com o avô e a ausência dos pais, militantes da luta armada no país) e de alegria (ao acompanhar o desempenho da Seleção Brasileira no Mundial de futebol de 1970). Como pano de fundo, temos a ditadura militar implantada no Brasil a partir de 1964. O filme é livremente inspirado na obra Minha Vida de Goleiro, de Luiz Schwartz.

 

4º toque: Linha de Passe, dirigido por Walter Salles e Daniela Thomas, 2008

“Linha de Passe” narra o conturbado dia-a-dia de quatro irmãos e uma mãe que, por conta das dificuldades da vida, tentam reinventar-se a todo instante na periferia da cidade de São Paulo. No centro da família está Cleuza, 42 anos, fanática pelo Corinthians e grávida do quinto filho – cujo pai ela nem sabe quem é. Ela trabalha como empregada doméstica enquanto luta para manter uma vida digna para os filhos. Em meio à vida na metrópole, os personagens precisam lidar com as transformações religiosas pelas quais o Brasil passa, as desigualdades sociais, os pequenos delitos e a ausência de uma figura paterna no seio familiar. Um dos filhos de Cleuza destaca-se ainda por participar de várias “peneiras” para ingressar num time de futebol e tentar ganhar a vida como jogador profissional.

 

5º toque: Heleno, o príncipe maldito, dirigido por José Henrique Fonseca, 2011

Dirigido pelo cineasta José Henrique Fonseca (filho do escritor Rubem Fonseca), este filme conta a trajetória de Heleno de Freitas, jogador que ganhou notoriedade na década de 1940 com a camisa do Botafogo. Técnico e estiloso na mesma medida em que era temperamental e intempestivo, Heleno mostrava-se arredio com a imprensa e notabilizava-se por ser presença constante nas festas da alta sociedade carioca. A película optou pelo uso do preto e branco, o que lhe confere uma estética de film noir norte-americano. Trata-se de uma opção adequada à época retratada e igualmente às cores do clube da estrela solitária. A vida de Heleno é representada no filme pelo ator Rodrigo Santoro, que contou ainda com a assessoria do ex-jogador Cláudio Adão para as cenas de treinos e de jogos.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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José Carlos Marques

José Carlos Marques é Docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista (Unesp/Bauru) e integra o Departamento de Ciências Humanas da mesma instituição. É Livre-Docente em Comunicação e Esporte pela Unesp, Doutor em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e Mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Licenciou-se em Letras (Português Francês) pela Universidade de São Paulo. É autor do livro O futebol em Nelson Rodrigues (São Paulo, Educ/Fapesp, 2000) e de diversos artigos em que discute as relações entre comunicação e esporte. É líder do GECEF (Grupo de Estudos em Comunicação Esportiva e Futebol) e integrante do LUDENS (Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Futebol e modalidades Lúdicas).

Raphael Rajão

Autor de A bola, as ruas alinhadas e uma poeira infernal: os primeiros anos do futebol em Belo Horizonte (1904-1921). Graduado e mestre em História pela UFMG. Doutor em História, Política e Bens Culturais pela Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC. Atualmente pesquisa o futebol de várzea em Belo Horizonte.

Como citar

MARQUES, José Carlos; RIBEIRO, Raphael Rajão. 5 toques de filmes brasileiros que tratam do futebol no século XXI, por José Carlos Marques. Ludopédio, São Paulo, v. 156, n. 8, 2022.
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