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5 toques de obras sobre as Copas do Mundo masculinas de futebol, por Leda Costa

Leda Costa, Raphael Rajão Ribeiro 2 de agosto de 2022

A poucos meses de mais uma edição da Copa do Mundo masculina de futebol trazemos as dicas de Leda Costa, professora colaboradora do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Leda também é pesquisadora do Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte (LEME/UERJ) e do Núcleo de Estudos e Pesquisas Sobre Esporte (NEPESS/UFF). É, ainda, editora-chefe da Revista Esporte e Sociedade, vinculada ao NEPESS/UFF.

Leda Costa tem uma ampla produção de artigos sobre futebol com destaque para as temáticas do futebol feminino e das narrativas sobre Copas do Mundo. Dentre suas obras, ressalta-se a autoria do livro Os vilões do futebol: jornalismo esportivo e imaginação melodramática (2020) e a participação como organizadora de coletâneas como Enquanto a Copa não vem: memórias e narrativas sobre o futebol (2013), As mulheres no universo do futebol brasileiro (2020), Estudos em Mídia, Esporte e Cultura (2021), Esporte, mídia, identidades locais e globais (2021), Esporte e Sociedade: A contribuição de Simoni Guedes (2022).

No Ludopédio, Leda Costa é autora de diversos artigos para a seção Arquibancada, dentre os quais se destacam os componentes da coluna “Caravana de Boleiros”,  editada de 2016 a 2018.

Leda Costa apresenta uma lista de obras sobre as Copas do Mundo masculinas de futebol. Como ela nos alerta:

“Os livros aqui citados falam basicamente sobre as participações da seleção brasileira masculina em Copas do Mundo, incorporando, em alguns casos, estudos sobre o futebol na Argentina. Senti muita falta de ter opções de trabalhos que, de modo sistematizado, tratassem sobre a história da seleção feminina e suas participações em Copas do Mundo. Creio que futuramente não teremos que lidar com essa lacuna.

São diversos os livros e produções audiovisuais sobre Copas do Mundo masculinas. Em termos acadêmicos, trata-se de um tema fundamental ao campo dos estudos sobre futebol no Brasil. Portanto, a escolha dos livros que aqui indico não foi nada fácil, porque implicou um processo de seleção no qual foi inevitável deixar de mencionar muitos trabalhos que fazem parte da minha biblioteca física e afetiva. Toda escolha carrega consigo a necessidade de travarmos com nós mesmos um pacto de aceitação da incompletude e aqui não foi diferente.

Toda seleção também apresenta certos níveis de subjetividade. Esta listagem foi elaborada a partir de uma mistura de reconhecimento e admiração intelectual pelos autores e autoras a quem nutro uma gratidão imensa por fazerem do esporte, em especial o futebol, um assunto tão fértil para se pensar a sociedade e a vida de um modo geral.”

Vamos, assim, aos 5 toques da convidada:

1º toque: Nações em campo: Copa do Mundo e identidade nacional, organizado por Simoni Guedes e Édison Gastaldo, 2006.

O livro tem como organizadores dois pesquisadores que têm produções importantes acerca do tema Copa do Mundo, sobretudo, pensando-o como um evento que, no Brasil, se configurou como momento ritualístico de congregação coletiva em torno de símbolos nacionais. O livro foi publicado em 2006, ano em que a Copa foi uma vitrine midiática de jogadores-celebridade, mundialmente conhecidos e que além de jogarem bola faziam a vez de garotos-propaganda de famosas marcas. Foi o caso das seleções de Brasil e Argentina, países atravessados por uma relação absolutamente próxima com o futebol. Essa relação com suas especificidades e em uma perspectiva comparada é a base da composição do livro formado por artigos derivados de pesquisas consolidadas e atentas a um futebol atravessado pelos fluxos da globalização. 

2º toque: Copas do Mundo: Comunicação e identidade cultural no país do futebol, de Ronaldo Helal e Álvaro do Cabo, 2014.

O livro reúne artigos que contemplam um longo histórico de Copas do Mundo, o que é uma das características que confere destaque à obra. O primeiro texto nos oferece um percurso teórico sobre a relação Copas do Mundo e identidade nacional, familiarizando, dessa forma, seus leitores com um tema tão caro aos estudos sobre futebol no Brasil. Especificamente em relação às Copas do Mundo, o livro inicia abordando a Copa de 1938, escolha que se justifica por tratar-se de um evento fundamental para a conformação do imaginário do futebol-arte que nos anos seguintes será consolidado. De 1938 segue-se adiante atravessando risos e lágrimas, glórias e tragédias narradas nas páginas da imprensa esportiva fonte principal das análises propostas pelos autores e autoras. Esse discurso oferece material empírico a partir do qual se buscou compreender um pouco sobre o fenômeno futebol e um pouco mais sobre o Brasil. O livro termina com uma análise sobre a Copa das Confederações de 2013, competição que, muitas vezes, passa despercebida pela torcida e pela academia. 

3º toque: Com a taça nas mãos sociedade: Copa do Mundo e ditadura no Brasil e na Argentina, de Lívia Magalhães, 2014.

O livro de Lívia Magalhães é fundamental para entendermos essa histórica relação entre futebol e política, questão que se evidencia nas recentes apropriações ideológicas da camisa verde-amarelo da seleção brasileira masculina. A autora oferece um trabalho comparativo entre dois momentos em que o futebol foi transformado em veículo de propaganda de governos ditatoriais. Um dos momentos analisado é a Copa de 1970 quando a seleção brasileira conquistou o tricampeonato mundial no México provocando uma euforia que se misturava a um ambiente de ameaças, perseguição e tortura. Em 1978, o futebol foi politicamente capturado e o cenário analisado é a Argentina que sediou uma Copa em meio às dores e horrores provocados pela ditadura liderada pelo general Jorge Rafael Videla. O livro propõe uma abordagem de um tema delicado e o faz com esmero teórico-metodológico e com olhos atentos à complexidade dos fenômenos analisados.

4º toque: O Rio corre para o Maracanã, de Gisella de Araújo Moura, 1998

As tragédias costumam provocar fascínio, afinal elas dramatizam os movimentos imprecisos de um destino imponderável. Em 1950, a seleção brasileira chega ao último jogo contando com o favoritismo conquistado após um ótimo desempenho na Copa até então. Porém, bastaram alguns minutos para que o Maracanã fosse tomado por um silêncio de 200 mil bocas como disse Mário Filho. A derrota para a seleção uruguaia se converteu em um momento único contado e recontado por diferentes gerações e fartamente analisado na literatura acadêmica. Dentre as obras que trataram dessa derrota, destaco a de Gisella de Araújo Moura, O Rio corre para o Maracanã. Já no título percebemos a centralidade do estádio Maracanã no livro, o que reflete a impossibilidade de se falar da derrota de 1950 sem contar a história daquele que já foi o maior estádio do mundo. No livro são abordadas as disputas simbólicas e políticas em torno da construção do Maracanã, as expectativas em torno da conquista da taça e a decepção provocada por uma derrota que se converteu em um mito fundador da história da seleção em Copas do Mundo.

5º toque: O Brasil e as Copas do Mundo: Futebol, história e política, organizado por Sérgio Settani Giglio e Diana Mendes Machado da Silva, 2014.

Tendo a Copa do Mundo como centro articulador temático, a coletânea de textos que compõe o livro se destaca pela diversidade de perspectivas lançadas sobre o fenômeno esportivo. O jogo jogado pelas instituições esportivas nos bastidores do espetáculo é abordado em artigo que analisa as relações entre FIFA e COI na arena de disputas em torno da realização de competições internacionais esportivas. Há no livro um passeio – muito bem guiado – por algumas Copas do Mundo e a repercussão da participação da seleção brasileira masculina contada a partir de material empírico variado. Jornais, música, crônicas, documentos são exemplos de fontes recorridas para se tratar de temas como a construção da imagem do herói, os discursos sobre a vitória e a derrota, o processo de invenção de um estilo brasileiro que aprendemos a chamar de futebol-arte. A obra é composta por uma nova geração de pesquisadores e pesquisadoras que têm atualizado e dado continuidade a trabalhos fundantes do campo de estudos sobre esporte. Mas a obra também traz à cena temáticas atuais surgidas na contemporaneidade, promovendo, assim, renovados debates e discussões. Dentre essas renovações destaco o fato de o livro conceder espaço ao futebol de mulheres, afinal as Copas do Mundo e o futebol também são delas.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Leda Maria Costa

Professora visitante da Faculdade de Comunicação Social (UERJ) - Pesquisadora do LEME - Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte -

Raphael Rajão

Autor de A bola, as ruas alinhadas e uma poeira infernal: os primeiros anos do futebol em Belo Horizonte (1904-1921). Graduado e mestre em História pela UFMG. Doutor em História, Política e Bens Culturais pela Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC. Atualmente pesquisa o futebol de várzea em Belo Horizonte.

Como citar

COSTA, Leda; RIBEIRO, Raphael Rajão. 5 toques de obras sobre as Copas do Mundo masculinas de futebol, por Leda Costa. Ludopédio, São Paulo, v. 158, n. 2, 2022.
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