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5 toques para conhecer mais sobre esportes, mídias e tecnologias, por Ana Carolina Vimieiro

Nesta edição, contamos as dicas de Ana Carolina Vimieiro, professora adjunta do Departamento de Comunicação Social (DCS) e docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social (PPGCOM) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Carol Vimieiro é coordenadora do Grupo de Pesquisa em Comunicação e Culturas Esportivas (Coletivo Marta/UFMG), pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Mídia e Esfera Pública (EME/UFMG) e integrante do comitê editorial do periódico Communication & Sport.

Além de pesquisas sobre esportes, Carol Vimieiro tem relevante produção sobre humanidades digitais e métodos digitais. Ela foi uma das organizadoras da coletânea Democracia em ambientes digitais: eleições, esfera pública e ativismo, 2018, que conta com um capítulo de sua autoria intitulado “Entre a esfera cultural e a esfera pública: comunidades online de torcedores e a politização do futebol”. Em sua produção internacional conta com capítulo publicado na coletânea Changing Sports Journalism Practice in the Age of Digital Media, 2019.

O grupo de pesquisa que coordena, Coletivo Marta, é responsável pela publicação da Revista Marta, que reúne diversos textos e abriga um podcast. Como professora da graduação e pós-graduação, Carol Vimieiro tem orientado diversos trabalhos sobre esportes e comunicação, com destaque para as temáticas de gênero.

Ana Carolina Vimieiro apresenta uma lista de indicações com obras sobre esportes, mídias e tecnologias. Vamos, assim, aos 5 toques da convidada:

 

1º toque: Sport beyond television: The internet, digital media and the rise of networked media sport, de Brett Hutchins e David Rowe, 2012

Este livro é a primeira obra de maior fôlego que leva a Internet e as mídias digitais a sério no estudo do esporte. O livro do australiano Brett Hutchins com o britânico radicado na Austrália David Rowe se dedica a entender as continuidades e descontinuidades de um ecossistema esportivo acostumado a operar por mais de 50 anos atrelado à televisão para um ecossistema que começa a se transformar a partir da intensificação da produção de conteúdo por diversos atores, a aceleração dos fluxos de informação e a expansão da capacidade da comunicação em rede. A pesquisa e o livro foram produzidos em um momento em que o complexo mídia/esporte (Rowe, 2003) estava sendo revirado pelas primeiras iniciativas de streaming esportivo e pelas práticas disruptivas de pirataria de jogos. Naquele momento, em que novas tecnologias e novos atores tensionavam modelos de negócio e fluxos comunicativos tradicionais, o livro busca compreender quais são essas tensões, os rearranjos e os novos modelos que começam a se estabilizar. Alguns dos temas abordados são: desintermediação e remediação com a produção/distribuição de conteúdo por ligas e clubes; riscos e regras para controlar o uso das redes por atletas; fóruns de Internet e o uso por torcedores; e a precarização do jornalismo esportivo convergente.

 

2º toque: Digital Media Sport: Technology, Power and Culture in the Network Society, de Brett Hutchins e David Rowe, 2013

Este livro é fruto do mesmo projeto de pesquisa de três anos que foi base da obra indicada acima, só que aqui Hutchins e Rowe reúnem em uma coletânea pesquisadoras e pesquisadores de outros países e de diversas disciplinas para analisar os entrecruzamentos entre mudança tecnológica, mercado e práticas culturais que estão remodelando a paisagem contemporânea da mídia esportiva. A primeira parte do livro é intitulada “Tecnologias, plataformas e mercados em evolução” e reúne trabalhos sobre uma diversidade de assuntos, incluindo mídias móveis e plataformas de streaming. A segunda parte “Usuários, Audiências e Identidades” é focada nas pessoas comuns, torcedoras e torcedores de diversas modalidades e países, e como eles utilizam fóruns e redes como YouTube, Facebook e Twitter para sociabilizar, coordenar ações e também se engajar politicamente no âmbito esportivo. Por fim, a terceira parte, “Ecologias de conteúdo, software social e jogos”, traz um conjunto de pesquisas que vão refletir sobre a lógica neoliberal dessas plataformas, os rearranjos do jornalismo esportivo e sobre jogos digitais e ligas de fantasy. São 16 artigos que consolidam as temáticas e questões sendo discutidas naquele momento específico por pesquisadoras e pesquisadores interessados no fenômeno esportivo de diversas áreas, com destaque para Comunicação e Mídia, Estudos de Internet e Estudos Culturais.

 

3º toque: Repensando o lazer a partir da cultura digital, de Rafael Fortes e Juliana de Alencar Viana, 2019

As indicações desse ponto em diante foram publicadas cerca de cinco anos depois das duas primeiras obras e refletem o amadurecimento das reflexões e também o aprofundamento dos processos de midiatização (em sua fase digital) da sociedade. O livro organizado por Rafael Fortes e Juliana Viana se detém a explorar como usufruímos do nosso lazer em uma época marcada pela onipresença dos dispositivos tecnológicos. Como os dois apontam na apresentação da obra, o tema ainda não é uma preocupação prioritária nos Estudos do Lazer. Nem todos os capítulos interessam a quem pesquisa esporte, mas dois textos são sobre futebol (um deles escrito por mim) e dois sobre jogos digitais. No caso dos que são sobre futebol: a minha contribuição foca nos resultados da minha pesquisa de doutorado, olhando para as produções de mídia originais de torcedoras e torcedores e buscando compreender as implicações do processo de midiatização para os fluxos comunicativos, formas de sociabilidade e dinâmicas organizativas das culturas torcedoras brasileiras; o segundo texto é do meu colega Rafael Fortes, organizador da coletânea, que assina juntamente com Luiza Aguiar dos Anjos um capítulo focado em textos de blogs de jornalistas esportivos sobre o fechamento do estádio Engenhão. Um dos argumentos apresentados por eles para as escolhas metodológicas do trabalho é a baixa utilização de material oriundo de blogs como corpus de pesquisas acadêmicas. Este argumento reflete noções ainda arraigadas nas pesquisas sobre esporte e futebol que lugares menos tradicionais de pesquisa, incluindo aí espaços digitais, não são legítimos na medida em que não dizem da “vida real”.

 

4º toque: Digital Football Cultures: Fandom, Identities and Resistance, de Stefan Lawrence e Garry Crawford, 2019

Este livro é focado nas culturas do futebol e, sobretudo, nas modificações experimentadas por torcedoras e torcedores ao redor do globo com a hiperdigitalização. A obra é dividida em três partes e reúne em sua maioria pesquisadoras e pesquisadores britânicos ou atuando no Reino Unido. Destaco aqui três textos: o capítulo que abre a primeira parte, “Teorizando as culturas digitais torcedoras e do futebol”, de Steve Redhead, falecido em 2018; o capítulo 4, que fecha esta mesma parte, do brasileiro Renan Petersen-Wagner; e o capítulo 6, que integra a segunda parte, “Futebol e mídias sociais”, de Aage Radmann e Susanna Hedenborg. O trabalho do inglês Steve Redhead é amplamente conhecido na área sobretudo pela obra “Post-fandom and the millennial blues: the transformation of soccer culture” (2002). Em seu capítulo, ele dialoga com Paul Virilio para refletir sobre os desenvolvimentos recentes das culturas digitais do futebol, sobretudo após a crise financeira global. Renan Petersen-Wagner, por outro lado, continua sua trajetória de pesquisa articulada ao trabalho de Ulrich Beck para pensar as relações de torcedores distantes do Liverpool FC no Brasil e na Suíça. Por fim, os suecos Aage Radmann e Susanna Hedenborg exploram as experiências de mulheres torcedoras de futebol através de plataformas de mídia social estabelecendo um diálogo entre Erving Goffman e Judith Butler. O trabalho de Radmann e Hedenborg reflete uma área profícua de pesquisa que tem se dedicado a pensar os usos que mulheres fazem de tecnologias digitais para formação identitária, sociabilidade torcedora e questionamento de hierarquias de gênero no futebol.

 

5º toque: VAR: atualizações disposicionais durante a Copa do Mundo FIFA 2018, de Leonardo Melgaço, 2020

DissertaçãoPor fim, termino essa lista de sugestões com a dissertação de Leonardo Melgaço, defendida no PPGCOM da UFMG em 2020. Leonardo, juntamente com seu orientador, Carlos D’andréa, são dos poucos pesquisadores no Brasil a buscar estabelecer conexões entre o estudo dos esportes com os Estudos de Ciência e Tecnologia (STS), Teoria Ator-Rede e o conceito de dispositivo. O objeto empírico de Leonardo é a implementação do artefato tecnológico Árbitro Assistente de Vídeo (VAR) na Copa do Mundo FIFA de futebol masculino 2018. São três os focos empíricos do trabalho: as estratégias da FIFA ao implementar o artefato VAR; a dimensão infraestrutural do artefato, particularmente a patente da tecnologia de vídeo e o protocolo de transmissão televisiva; e, por fim, as discussões desencadeadas por sua implementação no Twitter. Leonardo pensa a instalação do VAR como uma urgência estratégica para a manutenção de um jogo de poderes, ao mesmo tempo em que destaca os embates existentes entre os interesses dos projetistas, a forma como o VAR é apropriado em diversos contextos e as incertezas do próprio artefato.

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Raphael Rajão

Autor de A bola, as ruas alinhadas e uma poeira infernal: os primeiros anos do futebol em Belo Horizonte (1904-1921). Graduado e mestre em História pela UFMG. Doutor em História, Política e Bens Culturais pela Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC. Atualmente pesquisa o futebol de várzea em Belo Horizonte.

Como citar

VIMIEIRO, Ana Carolina; RIBEIRO, Raphael Rajão. 5 toques para conhecer mais sobre esportes, mídias e tecnologias, por Ana Carolina Vimieiro. Ludopédio, São Paulo, v. 153, n. 1, 2022.
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