Nesta temporada o Ludopédio celebra 9 anos e reforça seu compromisso com o jogo mais importante: a democracia.
“A ânsia de ser o primeiro assume tantas formas de expressão quantas as oportunidades que a sociedade para tal oferece […] A competição permite-se assumir a forma de um oráculo, de uma aposta, de um julgamento, de um voto ou de um enigma.” (HUIZINGA, p.119).
Você já pensou como o termo “jogo” é utilizado em suas mais variadas maneiras?
Jogo de cena, jogo da sedução, jogo de interesses, jogo eleitoral… tudo faz parte do jogo?
O enraizamento da palavra em nosso vocabulário cotidiano é resultado dos caminhos constitutivos da linguagem e, por consequência, do mundo que vivemos. Se o jogo antecede a própria cultura, como afirmou Johan Huizinga em Homo Ludens, inevitavelmente emprestamos seus significados para descrever – e, mais uma vez, como consequência – construir o mundo.
É preciso trazer, no entanto, a percepção de que as regras do jogo são dinâmicas, suscetíveis ao tempo e sensíveis aos homens responsáveis por organizá-lo. No jogo social, por exemplo, as tensões de um país desigual nos direitos e oportunidades eram vistas em uma parcela da população avessa às políticas afirmativas, como as cotas universitárias.
Neste assunto, o Ludopédio manteve sua posição democrática em valorizar a grande expansão do acesso ao ensino superior e o ingresso de tantos jovens negros, indígenas e pobres em grandes universidades, aqui e no exterior.
Dentro do jogo social, a participação da mulher também acirrou tensões de um país fortemente marcado pelo chamado patriarcado. Como sabemos, o futebol é um espaço hegemônico dos homens e a presença feminina sempre recebeu contestações e agressões. Por isso, respeitando a vocação democrática que nos constitui, solidariamente aderimos às campanhas de direitos das mulheres que podem ser resumidas na tag line “O lugar da mulher é onde ela quiser”.
Diante do jogo político, o Ludopédio se posicionou de maneira coerente. Atravessamos a era dos megaeventos esportivos sem abrir mão das críticas pertinentes ao período, em especial, contestando a ‘Lei Geral da Copa’ e denunciando os gastos abusivos e suspeitos com os preparativos da Copa.
Não por acaso sempre estivemos atentos às relações entre política e futebol. O oportunismo de um Ronaldo Fenômeno, entusiasta da Copa, que outrora dizia “que não se fazem Copas do Mundo com hospitais”, brindando com Lula, é visível nas manifestações pró-impeachment (leia-se golpe) fantasiadas com camisa da CBF e estampando os dizeres “A culpa não foi minha. Eu votei no Aécio”.
E claro: o jogo dos bastidores do futebol, evidentemente, faz parte da nossa agenda de conteúdo. Escândalos de arbitragem, unificação dos títulos e o famigerado Bom Senso FC foram pautas debatidas à exaustão ao longo dos anos por autores de diferentes campos teóricos e opiniões, fazendo da nossa sessão arquibancada uma metáfora digna do espaço democrático e plural dos antigos estádios.
No limite, embora dedicados à análise do interno e do entorno do futebol, o Ludopédio tem um compromisso com o jogo mais importante para a sociedade: o jogo democrático. Criticar as regras do jogo é um exercício de reflexão delicado, visto que as diversas mentalidades que compõem a heterogênea sociedade brasileira revelam temporalidades coexistentes dramáticas para a sociedade.
Um exemplo simples das tensões sobre a regra do jogo democrático: os gritos homofóbicos e racistas amplamente noticiados que acometeram atletas como Tinga ou Richarlyson. Se, de um lado, parte da imprensa e opinião pública entendiam que repudiar tais gestos era um sinal de mudança social do século XXI para um Brasil menos preconceituoso; de outro, uma parcela da população ainda recorria aos valores e costumes arcaicos dos séculos passados.
Nada disso é simples. O progresso de uma nação democrática passa por superar o conservadorismo atroz e educar as novas gerações para um Brasil que possa ser de todos. E o único caminho possível é pelo diálogo dentro de uma realidade que permita a liberdade de expressão.
O Ludopédio entende que para podermos repensar as regras do jogo democrático é preciso respeitá-las. Perto de completar uma década de história, nosso time se orgulha em expor princípios importantes, como tolerância, respeito, diversidade e liberdade. Mas ao mesmo tempo, constrangidos, lamentamos que uma parcela do país não perceba o que de fato está em jogo nesta disputa eleitoral: a democracia.
A partir das grotescas declarações do candidato fascista, de seu vice e de sua prole, vimos despertar os valores arcaicos mal resolvidos da história brasileira. A moralidade fundamentalista religiosa aliada ao autoritarismo militarista formam as bases do projeto antinacional e, acima de tudo, antidemocrático, deliberadamente difundidos pelos seus líderes.
E esta ascensão ultrarreacionária já está se concretizando e é diariamente visível nas manchetes dos principais jornais do Brasil e do mundo. Boa parte das violências que o líder das pesquisas prometeu distribuir já está sendo desempenhada por seus seguidores.
No mês de seu aniversário, o Ludopédio, que já foi hackeado duas vezes em menos de 10 dias, é uma das vítimas de um processo que é ainda mais violento e infelizmente fatal, em certos casos. Chegamos até aqui por defender valores democráticos para o futebol e o Brasil como um todo. A censura é um gol contra à liberdade de expressão. A intolerância é o cartão vermelho para a democracia. E a ignorância é o 7 a 1 diário a que nos submetemos.
Por um futebol democrático. Por um país democrático. Por mais 9 anos de um Ludopédio livre para pensar, criticar, debater e difundir as ciências do esporte. #DemocraciaSim.