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A bola da vez: Futebol Society LGBT em etapas regionais

Flávio Amaral 24 de abril de 2022

A partir de 2022, a LiGay, ou Liga Nacional de Futebol Society praticado por pessoas LGBTI+, decidiu dar vazão a uma iniciativa de etapas regionais para formar um circuito de equipes qualificadas para seu campeonato nacional. Neste último feriado de Páscoa, ocorreu a Etapa Sudeste da LiGay, na cidade do Rio de Janeiro.

Etapa Sudeste da Ligay 2022

Essa competição, portanto, substituiu a Copa Sudeste LGBTI+ por decisão da LiGay, organização que rege os torneios da modalidade com propósito inclusivo, de etapas regionais classificatórias para a Champions LiGay, um evento análogo ao “Brasileirão LGBT”, novidade que você confere em um futuro artigo desta coluna.

Em um campeonato com participação de equipes de três dos quatro estados da região – não há equipes do Espírito Santo filiadas à liga atualmente –, o Bulls (SP), bicampeão da Champions, levantou a taça ao vencer o Alligaytors (RJ) na decisão, com o Real Centro (SP) terminando na terceira posição.

Bulls Football SP
Equipe do Bulls (SP), bicampeã da Champions. Foto: reprodução Facebook/Bulls Football SP

O público e o fomento: sucesso garantido

Em meio a um cenário de interação cada vez maior do poder público com as equipes LGBTI+ (que também será tema de um artigo desta coluna), o evento contou com apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro, por meio da Secretaria Municipal de Esportes, da Impulse, ONG LGBTQIA+ internacional voltada à conscientização sobre a prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), entre outros parceiros.

Exemplo do envolvimento do poder público foi a presença do senador Romário. Muito requisitado para fotos com os atletas e o público presente ao Mundo RioSporting, na Barra da Tijuca, zona oeste da cidade, o ex-jogador ressaltou a importância de eventos esportivos com propósito inclusivo:

“Um evento maravilhoso, na Cidade Maravilhosa, para abrir a temporada 2022 da LiGay e inaugurar uma nova forma de disputa do nosso campeonato. Após dois anos de interrupção das atividades por causa da pandemia, a LiGay retorna no mais alto estilo e relembrando a primeira edição, de 2017, que foi no mesmo local onde toda a história dessa competição começou. A organização não poupou esforços para atender às demandas do público e atletas e se dedicou a fazer um evento à altura da Ligay”, conta o presidente da liga, Carlos Renan Evaldt.

Elogiando o apoio dos parceiros e a presença de público, o dirigente também reforçou que a realização da Etapa Sudeste será um modelo para os demais regionais a serem realizados em 2022:

“Posso dizer que a LiGay Etapa Sudeste foi um sucesso. Parabéns às equipes organizadoras (Karyocas, Alligaytors e BeesCats). Foi muito importante o apoio de todos os parceiros para que esse evento maravilhoso acontecesse. O público foi dentro do previsto e foi ótimo ver todos felizes, participando e confraternizando, afinal foi o primeiro campeonato LGBTQIA+ da LiGay após dois anos de pandemia. Todos estavam ansiosos por este momento e com certeza atingimos a expectativa de todos”, avalia Ronaldo Nascimento, Diretor Secretário Geral da LiGay.

Consequências do crescimento

O crescimento do movimento do esporte LGBTI+ e das competições não reverbera apenas em termos de alcance e impacto dos eventos, mas de público e repercussão. A qualificação das equipes também aumentou de forma exponencial, o que “subiu o sarrafo” da briga pelos títulos, algo, no entanto, que faz com que a exigência física e emocional seja igualmente maior a cada torneio.

Além de gerar conteúdo sobre a causa, atuo dentro de campo pelo futebol LGBT+ desde o primeiro inclusivo de fut7, realizado em 2017 em São Paulo. Disputei a etapa Sudeste da LiGay e tenho acompanhado a evolução das equipes e da modalidade. Entretanto, me preocupa como o acirramento da disputa, sobretudo em termos físicos, vem sendo percebida por integrantes destes times que passaram a participar deles buscando um contato mais harmonioso com o esporte do qual se afastaram, muitas vezes, por discriminações e preconceitos há muitos anos.

Questões para o futuro…

Como gerenciar a ansiedade pela participação com o incremento do treinamento físico para que o Society praticado por sujeitos LGBTI+ continue divertido e seguro? Será que o futuro se tornará incrivelmente profissional que tal futebol ocorrerá para poucos?

É ponto pacífico que o crescimento técnico, físico, tático contribui enormemente para o reconhecimento do trabalho que vem sendo desenvolvido e da luta por mais inclusão e diversidade no esporte, mas cabe a reflexão a respeito dos riscos de um “funil” cada vez maior em direção à competitividade.

No que diz respeito a mim e a meus colegas, tenho certeza de que manteremos a empolgação da participação e apoio a toda essa empreitada. Quanto a jogadores de outras equipes, cabe pensar/repensar que futuro queremos para nosso futebol Society LGBT!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Flávio Amaral

Jornalista pós-graduado (especialista) em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte, narrador esportivo pela webrádio Alternativa Esportes e Superliga Fut7 e gerador de conteúdo sobre o esporte LGBTQIAPN+. Atua nesse movimento desde 2017 como atleta de futebol 7 e e-sports e também como comunicador - é autor do blog Cores do Esporte, no qual documenta a trajetória de equipes e atletas dedicados à causa. Teve passagens por veículos como TV Globo e LANCE! trabalhando com rádio, televisão, jornal impresso e site/portal, além de experiência em comunicação corporativa, gestão de conteúdo e redes sociais no setor público e iniciativa privada. Possui experiência docente em  disciplinas como Jornalismo Esportivo, Gestão de Talentos e Planejamento e Produção de Eventos.

Como citar

AMARAL, Flávio. A bola da vez: Futebol Society LGBT em etapas regionais. Ludopédio, São Paulo, v. 154, n. 31, 2022.
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