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A força local do Maccabi Tel-Aviv

Dyego Lima Universidade do Esporte 28 de agosto de 2021

O termo Maccabi é de significado direto: “Não há ninguém como você entre os deuses”. E para o Maccabi Tel-Aviv, pelo menos nas competições nacionais, isso se aplica bem. São 23 títulos do Campeonato Israelense, dez a mais que o segundo maior campeão, além de 24 troféus da Copa do Estado de Israel. Na Supercopa, outras sete taças ajudam a transformar a equipe na principal potência do futebol local. Fora das fronteiras do país, foram duas conquistas da Champions League Asiática nas temporadas 1968–69 e 1970–71. Em 1974, os clubes de Israel foram expulsos da Confederação Asiática de Futebol por pressão dos países árabes e, assim, não puderam mais participar do torneio.

Maccabi Tel Aviv, 1913
Maccabi Tel Aviv, 1913. Foto: Wikipédia

Os anos iniciais

Fundado em 1906, o clube surgiu com o nome de HaRishon LeZion-Yaffo. Em 1909, o time mudou-se para Tel-Aviv, a segunda maior cidade de Israel e, por vezes, tida como a capital de fato do país, passando a adotar seu nome. Tornou-se a primeira equipe judaica dentro do território palestino, sendo possível observar a presença da estrela de Davi em seu escudo como forma de representação ao povo judeu. Tem no estádio Bloomfield a sua casa. Com capacidade para cerca de 30 mil torcedores, seu nome é uma homenagem aos irmãos Bernard e Louis Bloomfield, líderes da comunidade judaica canadense e guerrilheiros durante a 2ª Guerra Mundial.

O Maccabi Tel-Aviv é o principal clube de Israel, sendo o único do país que nunca foi rebaixado da principal divisão, a Ligat Ha’Al. Na tradução literal, Super Liga. No início da década de 1920, mesmo sem a presença de uma liga organizada no país e devidamente reconhecida pela Fifa, o time já era considerado o mais forte do território. Antes do surgimento da principal competição nacional em 1932, a equipe disputava amistosos ao redor do globo. Foi após o início dos torneios locais que o clube desenvolveu uma rivalidade com o outro time da cidade, o Hapoel, onde disputam o Derby de Tel-Aviv. A equipe faz parte da Maccabi World Union, uma organização internacional esportiva judaica que está presente em 5 continentes e em mais de 50 países, atuando com diferentes esportes.

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Maccabi Tel Aviv, 1921. Foto: Wikipédia
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Maccabi Tel Aviv na Australia, 1939. Foto: Wikipédia

Os dois primeiros títulos nacionais do Maccabi Tel-Aviv aconteceram já no início da disputa da liga local, nas temporadas 1935-36 e 1936-37. É importante lembrar que até aquele momento o torneio era reconhecido como palestino, uma vez que Israel só proclamaria sua independência em 1948. Alguns anos depois, na época 1941-42, o clube conquistaria a sua primeira “dobradinha”, que seria confirmada após a vitória por 2 a 1 na final da Copa sobre o rival Hapoel. Aquela foi a última temporada disputada antes da paralisação das atividades em decorrência da Segunda Guerra Mundial.

No ano de 1946, a Copa voltou a ser disputada mesmo com a Liga ainda em suspensão. E o Maccabi mostrou que continuava em forma. O time foi campeão após conquistar um 6 a 0 no placar agregado das duas finais contra o Hapoel Rishon Lezion. Título esse que seria mantido no ano seguinte diante do Beitar Tel-Aviv. Como se não bastasse, a equipe ainda se tornaria, na temporada 1949-50, a primeira campeã da Liga pós-independência de Israel. O futuro era promissor.

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Time do Maccabi que venceu a State Cup em 1946. Foto: Wikipédia

O auge e as décadas subsequentes

A década de 1950 é considerada a era de ouro do clube. Durante esse período foram conquistados cinco títulos do campeonato nacional, além de outros quatro da Copa do Estado de Israel. Os destaques vão para as temporadas de 1953–54 e 1957–58, quando os troféus foram vencidos de maneira invicta. Durante esses dez anos, ficaram em evidência dentro das quatro linhas o goleiro Avraham Bandouri, os zagueiros Itzhak Schneor e Eli Fuchs, e os atacantes Yosef “Yosale” Merimovich, Zvi Studinski e o lendário Yehoshua “Shiye” Glazer, considerado um dos grandes ídolos da história do Maccabi Tel-Aviv.

Durante a década de 1960, três pontos merecem destaque. O primeiro deles é a rivalidade que o clube construiu com o Hapoel Petah Tikva. O Maccabi viu seus adversários conquistarem a Liga nos primeiros quatro anos daquele período, o que forçou a equipe de Tel-Aviv a se movimentar para acompanhar o rival e retomar sua hegemonia. O cenário começaria a melhorar a partir de 1963, com a chegada do técnico Jerry Beit haLevi – eis aqui o segundo ponto de destaque. Sob sua tutela, o time venceu a Copa três vezes, o que serviu de alento ao torcedor na ausência de títulos da Liga. Por fim, o terceiro ponto de destaque aconteceu em 1969 e simboliza um dos momentos mais importantes da história do clube: a conquista da sua primeira Liga dos Campeões Asiática. Ela veio após uma vitória magra por 1 a 0 sobre o Yangzee FC, da Coréia do Sul.

Macabi
Final da State Cup de 1964, no Bloomfield Stadium. Foto: Wikipédia

Em 1971, inaugurando a década seguinte, o clube de Tel-Aviv conquistou o seu bicampeonato do torneio asiático. Entretanto, o título ficou marcado, sobretudo, por questões geopolíticas. O adversário na finalíssima foi o Al-Shorta, do Iraque. Os atletas adversários entraram e desfilaram em campo com duas bandeiras, uma iraquiana e outra da Palestina. Por fim, se recusaram a jogar em protesto contra a ocupação israelita em território que eles consideravam ser de domínio palestino. Com isso, a Confederação Asiática declarou o Maccabi Tel-Aviv campeão por W.O.

O troféu continental foi a prévia de uma boa década que se desenharia para a equipe israelita. Nesses dez anos, o clube conquistou a Liga em três oportunidades, juntamente a mais um título da Copa. O grande contraponto daquele período acabou ocorrendo na temporada 1975-76, quando o time, na última rodada do campeonato, escapou do inédito rebaixamento ao vencer por 2 a 0 o Beitar Jerusalém. Na sequência, os anos 1980 são considerados de “vacas magras”. Apesar da conquista de mais duas Copas, a equipe passou a década inteira sem vencer a Liga. Como se já não fosse o bastante, na temporada 1987-88 o time ainda sofreu a pior goleada em toda a sua história: um sonoro 10 a 0 diante do Maccabi Haifa.

Já na década de 1990, a equipe retomou o trilho das conquistas. Foram três títulos da Liga, campeonato esse que voltou a ser vencido após 13 anos, além de mais duas taças da Copa do Estado de Israel. Nesse período, alguns jogadores escreveram seus nomes na história do time, tais como Alexander Ubarov, Alexander Porukarov, Uri Malmilyan, Amir Shelach, os irmãos Gadi e Alon Brumer, Noam Shoham, Meir Melika, Nir Sivilia, Nir Klinger, Itzik Zohar e Avi Nimni. Além disso, o que marcou a década para os clubes de Israel foi a filiação do país à Uefa em 1992. A partir daquele momento, os clubes do país passaram a almejar campanhas de destaque nas principais competições do continente europeu.

Avram Grant
Avram Grant, treinador do Maccabi na década de 1990. Foto: Wikipédia

História recente

A primeira década dos anos 2000 manteve-se, de certa maneira, boa para o Maccabi Tel-Aviv. O time conquistou mais uma Liga e outras duas Copas nesse período. Na temporada 2004–05, o clube conseguiu ser o segundo time de Israel a jogar a fase de grupos da Uefa Champions League. O Maccabi Haifa foi o primeiro, conseguindo tal proeza em 2002–03. É válido lembrar que o campeão nacional do país disputa as fases prévias de eliminação. Por outro lado, o Tel-Aviv foi a primeira equipe a disputar os jogos em Israel, uma vez que o Maccabi Haifa, por normas de segurança impostas pela Uefa, teve de mandar suas partidas no Chipre. Entretanto, como o Estádio Bloomfield, casa do Tel-Aviv, não cumpria os requisitos de segurança exigidos pela UEFA, o clube teve de realizar seus jogos no estádio Ramat-Gan.

A equipe precisou eliminar o Helsinki, da Finlândia, e o PAOK, da Grécia, antes de ingressar no grupo C daquela temporada da Champions League. O sorteio definiu Juventus, Bayern de Munique e Ajax como adversários. A equipe foi eliminada já nessa fase, mas foi como mandante que somou seus quatro pontos na competição: 2 a 1 contra o Ajax e 1 a 1 frente à Juventus. Baruch Dego foi o autor dos três gols dos israelitas.

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Equipe do Maccabi em jogo pela UEFA Champions League 2015–16. Foto: Wikipédia
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Maccabi vs. Chelsea pela Champions League 2015–16. Foto: Wikipédia

Após essa saga, foi só na temporada 2015–16 que o clube conseguiu retornar à fase de grupos da principal competição de clubes da Europa. Dessa vez, a campanha acabou sendo pífia: nenhum ponto somado ante Chelsea, Dínamo de Kiev e Porto, além do balanço negativo de 16 gols sofridos. Na derrota por 3 a 1 para os portugueses, Eran Zahavi, um dos ídolos da história do clube, anotou o único tento da equipe naquela fase de grupos. Vendido ao Guangzhou R&F em 2016, Zahavi marcou 99 gols em 120 jogos na liga israelita com a camisa do Maccabi Tel-Aviv. Ele deixou o clube com o posto de quinto maior artilheiro da história do time com 129 tentos anotados.

Nas temporadas 2018–19 e 2019-20, o clube deu sequência à sua dominância e garantiu o bicampeonato nacional. O título vinha sendo conquistado pelo Hapoel Beer-Sheva há três anos e o jejum já incomodava. Por outro lado, na Copa, a seca já perdurava desde 2014-15. Ela só conseguiu ser interrompida pelo Maccabi Tel-Aviv na última temporada, 2020-21, após vitória por 2 a 1 na final contra o rival local, o Hapoel Tel-Aviv. Por outro lado, com o foco voltado para a disputa do mata-mata, o time acabou patinando na Liga, perdendo a taça para o Maccabi Haifa.   

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Dyego Lima

Jornalista formado pela UFRN. Aficionado por esportes. Futebol principalmente, mas não somente.Made in Universidade do Esporte! 

Como citar

LIMA, Dyego. A força local do Maccabi Tel-Aviv. Ludopédio, São Paulo, v. 146, n. 52, 2021.
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