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A história do Corvo vascaíno (1947)

Gabriel de Oliveira Costa 14 de julho de 2021

Você pode imaginar se nos dias atuais, o mascote do seu arquirrival seja de origem, o do seu clube? Pois bem, o Vasco da Gama tem uma história similar. Antes do Urubu vir a ser o símbolo do Flamengo, nos anos 40, a torcida Cruzmaltina caiu nas graças com o Corvo, do chargista Otelo Caçador.

A curiosa história nos leva de volta ao período onde os clubes brasileiros se popularizavam a cada ano mais. No Rio de Janeiro existia a “febre” de adaptarem personagens da Disney aos times. Exemplo disso, o Pato Donald botafoguense e Popeye flamenguista. Apesar disso, o Vasco queria fazer algo diferente e o chargista que levou sua ideia ao Jornal dos Sports (de Mario Filho) acabou se realizando.

Vasco Corvo
Foto: Reprodução
 

Por que um Corvo? 

Diante do enorme desafio de convencer uma massa a apoiar algum personagem, um animal foi escolhido. A mística envolve a raiz do Vasco. Em Portugal, o Corvo é visto como um animal de sorte. Na história bíblica, foi ele quem durante a Arca de Noé saiu do abrigo por ter encontrado terra firme.

Portanto com uma referência cultural envolvendo Brasil, Portugal, religião e Vasco, o Corvo foi apresentado ao vascaíno. De bate pronto, a torcida abraçou e o Corvo virou o parceiro do Almirante. Pouco tempo depois, a torcida criou até um nome para o animal: D. Corvo I.

E foi assim que emergia o novo queridinho dos vascaínos. Seu sucesso era tanto que torcedores do clube com aproximação política da diretoria, se mobilizaram para conseguir um Corvo de verdade. Acontece que no Brasil não há corvos e Portugal não permitia a saída do animal sem autorização. Entretanto o jornalista Silva do Mar contatou Antônio Pedro, um português disposto a conseguir liberação de um Corvo lusitano para o Vasco levar aos jogos.

Vasco
Imagem: Reprodução

Amuleto

De frente para um Vasco muito forte, a torcida esperou por dois meses pela chegada do animal. Era esperado que o Corvo fosse à rua Bariri – estádio do Olaria AC – para um jogo do Cariocão (1947). Sem tanta comunicação na época, os boatos criavam apreensão aos vascaínos. Por fim, alguns torcedores (já cientes da ausência do Corvo), levaram um pombo preto, envernizado e engaiolado. Pela primeira vez a torcida saudaria seu mascote que não era o próprio mascote, hilário.

Porém não demorou mais do que isso e o Corvo foi enfim, recebido com festa no Rio. O animal foi às rádios para ser de fato, apresentado ao grande público. Pela cidade, vascaínos festejavam e enquanto o animal era levado para sua estadia (av. Mem de Sá, 144) alguns sócios e personalidades da mídia conheciam o animal.

Ainda em 1947, o Vasco foi campeão no Remo e na Lagoa Rodrigo de Freitas – no bairro do Flamengo – comemorou a torcida vascaína com a presença de D. Corvo I. Futuramente o animal seria alvo de críticas de dirigentes, tendo o ex-presidente Antônio Rodrigo Tavares seu grande opositor. O cartola emitiu nota à imprensa para desvincular o Corvo do Vasco, tentou mas sem sucesso. Na época, um jogo contra o Madureira garantiu 12 carros alegóricos na Zona Norte para festejar com o animal – era um carnaval.

Por fim, ao longo das décadas e com novas gerações de torcedores e políticos no clube, o Corvo ficou esquecido. O almirante ganhou força e até os dias atuais é o mascote vascaíno. Durante os anos 70-80, o Urubu se consolidaria como mascote Rubro-Negro, afastando ainda mais seu co-irmão do Vasco. Mas até os dias atuais há torcedores que preservem a história e origem do D. Corvo I.

Corvo Vascaíno
A história do Corvo Vascaíno. Fonte: Divulgação redes sociais
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Gabriel de Oliveira Costa

Jornalista carioca, tenho 22 anos. Apaixonado por futebol, fator principal pelo qual sou motivado para trabalhar com  a comunicação social, desde março realizo trabalhos direcionados ao conteúdo esportivo. Há dois anos trabalho com pautas de economia e política.

Como citar

COSTA, Gabriel de Oliveira. A história do Corvo vascaíno (1947). Ludopédio, São Paulo, v. 145, n. 25, 2021.
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