22.4

A minha Copa do Mundo

João Paulo Vieira Teixeira 12 de abril de 2011

Em tese, apenas atletas profissionais têm o privilégio de disputar uma final de Copa do Mundo. Preparam-se a vida inteira para, caso tenham esta oportunidade, estarem prontos para não errar neste momento decisivo em suas vidas. Não passei nem perto de construir uma carreira de jogador de futebol. Mesmo assim, a vida já me deu a oportunidades de disputar algumas finais de Copa. Fracassei em algumas delas e fui campeão em outras. No dia 15 de março de 2011, disputei mais uma.  Entrei em uma sala onde estarão sentados alguns amigos e familiares torcendo para o meu sucesso. Do outro lado, estava um adversário invisível: as dificuldades de uma pesquisa acadêmica. Os árbitros foram três experientes professores dispostos a punir com rigor os erros cometidos, mas também a validar os gols que eventualmente sejam marcados.

Quando eu apresentei a defesa da minha dissertação de Mestrado, no Programa de Pós Graduação em Comunicação (PPGCOM) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), encerrarei mais uma temporada e, imediatamente, precisarei começar a pensar nas contratações para as próximas disputas. Certo é que, independente do resultado, a peleja me tornou mais forte e mais preparado. Além disso, ela também ajudou-me a derrubar alguns mitos que sobreviviam no meu inconsciente como fortes adversários.

Minha dissertação de mestrado se propõe a investigar, nas páginas dos jornais cariocas do ano de 1923, algum resquício de racismo na cobertura sobre o primeiro título do Vasco da Gama no futebol. Os resultados da pesquisa podem ser tema de outro artigo, mas a proposta aqui é discutir o caminho que percorri e não as conclusões a que cheguei.

Sempre ouvimos falar que a pesquisa acadêmica relacionada ao esporte é desvalorizada no Brasil. Minha experiência particular me obriga a discordar radicalmente desta afirmativa. Não nego que esta poderia ser uma realidade há algum tempo atrás. No entanto, hoje, o jogo que se joga é totalmente diferente. Quase sempre com casa cheia. Afinal, há uma infinidade de congressos relacionados ao tema. Não apenas na área de Comunicação Social, como também em diversos outros campos das Ciências Sociais e Humanas. Indo além, temos notícias de que a medicina esportiva também já se ocupa do tema de forma satisfatória. É claro que neste universo também surgem pesquisas sobre temas irrelevantes (nem só de Paulo Henrique Ganso vive o nosso futebol). No entanto, em todas estas arenas, o intercâmbio de informações é quase sempre muito pródigo e permite que pesquisadores de diferentes partes do Brasil interajam e conversem sobre a maneira que cada centro acadêmico prefere jogar.

A produção literária sobre o esporte também vem aplicando sucessivas goleadas. A quantidade de livros publicados, acadêmicos ou não, tendo como pano de fundo o futebol tem aumentado significativamente. Até o cinema brasileiro já encontrou o caminho para falar do assunto sem cair na banalidade, como por exemplo, no excelente “Linha de Passe”, de Walter Salles e Daniela Thomas.

Mesmo com tantas evidências do contrário, é comum ouvir que o preconceito sobre quem pesquisa esporte acaba concentrado dentro do próprio ambiente acadêmico. Minha experiência também me obriga a discordar desta premissa. O que vivi foi algo totalmente oposto. Professores enxergam o tema como atual e, sempre que possível, encaixam-o no viés de suas respectivas disciplinas. Por parte dos colegas mestrandos, há um respeito sobre a relevância das pesquisas e uma curiosidade constante em saber como é pesquisar um tema que para eles só é visto pelo prisma passional.

Até aqui defendo a ideia de que pesquisar o esporte ficou mais fácil e prazeroso. Mas, trairia minha consciência se não dissesse que, em algumas oportunidades, a atividade do pesquisador (e agora falo de imposições amplas que não estão relacionadas às pesquisas sobre esporte) torna-se cansativa e desgastante. São muitos os zagueiros. As exigências impostas pelas normas técnicas não passam nem perto da burocracia das entidades de fomento.

De qualquer forma, mesmo antes do resultado final, é possível sentir o gosto da vitória. E como nas conquistas futebolísticas sempre há espaço para o “lugar comum” dos agradecimentos. Portanto: obrigado a todos que me trouxeram até aqui. “Pai e mãe, amo vocês”! Beijo na aliança que ainda não uso e nas tatuagens que ainda não tenho. “Só conseguimos os três pontos porque seguimos as orientações do professor”!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Como citar

TEIXEIRA, João Paulo Vieira. A minha Copa do Mundo. Ludopédio, São Paulo, v. 22, n. 4, 2011.
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