27.5

A nova fase de um ídolo. E um rápido comentário…

Henrique de Almeida Soares Coelho 16 de setembro de 2011

Na tarde do dia 5 de setembro (uma segunda-feira), a Seleção Brasileira(ou Seleção da CBF, como bem define o jornalista da ESPN-Brasil Mauro Cezar Pereira) venceu Gana por 1 a 0. O gol foi marcado por Leandro Damião, após um belo passe de Fernandinho. Uma apresentação, no mais, burocrática de uma equipe nacional ainda em formação e de quem se esperava a vitória como obrigação em um jogo como este.

E onde entra o personagem acima? Bom, é necessário dizer que Ronaldinho Gaúcho nesse jogo não fez a melhor partida de sua trajetória pelo Brasil. Contudo, me chamou muito a atenção o fato de muitos amigos meus nas redes sociais (Facebook e twitter principalmente) comentarem, após o jogo, que finalmente curtiram um jogo de Seleção Brasileira após tantos anos. O motivo? Invariavelmente, segundo eles, aparecia como resposta a presença de um ídolo, de um jogador com quem a torcida possa se identificar diretamente. Um símbolo de uma geração vitoriosa, alguém de quem possa se esperar o diferente, o inesperado, o não-óbvio. Este jogador, na conjuntura atual do time de Mano Menezes, é o próprio R10.

Ronaldinho Gaúcho em partida contra o Grêmio pelo Brasileirão de 2011. Foto: Maurício Val/VIPCOMM.

Fazendo um pequeno histórico da carreira de Ronaldo de Assis Moreira, percebe-se que demorou muito para atingir esse patamar. Apesar do imenso talento, não tornou-se um fenômeno de marketing explosivo e urgente, como Ronaldo Nazário (o Fenômeno) havia sido em meados da década de 90. Saiu mal falado de Porto Alegre, passou por um período proveitoso na França antes de chegar ao Barcelona em 2003. Ali sim ele pôde mostrar toda a sua capacidade dentro de campo, e sua imagem vendia feito água no deserto na capital da Catalunha. Apesar do status de popstar e das conhecidas saídas noturnas, no entanto, Ronaldinho Gaúcho sempre manteve uma certa discrição acerca de sua vida pessoal, bem diferente de Ronaldo Nazário e Adriano, para falar só de dois jogadores com status de ídolo que se envolveram em problemas relacionados às suas intimidades.

Na Seleção, R10 nunca foi protagonista, ou pelo menos não teve o fardo de sê-lo sozinho. Na Seleção Olímpica eliminada por Camarões em 2000, havia nomes como Roger e Alex, que se não eram nomes tão fortes quanto o de Ronaldinho, eram pelo menos dois dos quais se podia esperar um pouco mais, juntamente com o Gaúcho. Na campanha do Penta Mundial em 2002, Ronaldinho deu uma enorme contribuição. Porém, os destaques óbvios eram Ronaldo Fenômeno e Rivaldo, principais artífices do Brasil na competição. Em 2005, quando da conquista da Copa das Confederações, Ronaldinho teve sua melhor fase com a camisa da Seleção. Porém, hão de lembrar-se que Kaká e Adriano (principalmente este último) estavam jogando muito e contribuíram demais para a conquista.

Ronaldinho Gaúcho, atacante do Flamengo. Foto: Hedeson Alves/VIPCOMM.

Depois do fracasso em 2006, Ronaldinho sumiu do mapa. Na Seleção e nos clubes (Barcelona e depois Milan), não conseguia nunca mostrar o futebol que o levara a ser considerado melhor do Mundo duas vezes. Ao voltar para o futebol brasileiro, mais especificamente para o Flamengo, havia um dilema a ser solucionado.

Como destacou Fausto Amaro em seu artigo Sobre o Futebol Brasileiro e a volta de seus ídolos: “…a volta de Ronaldinho Gaúcho (e também de outros ídolos) ao Brasil, mencionada no início do post, será importante para o futebol nacional. Ronaldinho ganhará cerca de R$ 1,8 milhão no Flamengo, entre salários e porcentagens em ações de marketing. Cabe agora ao Flamengo saber tirar proveito desta contratação dentro e fora de campo.” Ou seja, para Ronaldinho já era um tremendo ganho financeiro, e a contratação do jogador pelo Flamengo era apenas mais uma amosta de como o futebol brasileiro ganhou força e apelo nos últimos anos para que jogadores do nível dele, de Ronaldo Fenômeno, Deco e Roberto Carlos viessem jogar aqui.

Por outro lado, Ronaldinho teria uma tremenda pressão sob seus pés, uma vez que dele se esperava o jogador insinuante de 2004 e 2005, aquele que fora o melhor do Mundo indiscutivelmente durante esses dois anos e sob quem, pouco antes da Copa de 2006, já pairavam comparações com Garrincha e Pelé. Bom, após um longo período de irregularidade, Ronaldinho Gaúcho é o melhor jogador em atividade no futebol brasileiro. É uma luz lúcida de um combalido time do Flamengo, no qual é decisivo em praticamente todas as partidas. E ontem, pelo Brasil, a impressão que se teve aqui (na Europa, a visão é outra. Clique aqui): é que R10 mostrou que a maturidade dos seus 31 anos pode fazer muito bem a um grupo jovem, que necessita de referências. Caso continue assim, tem tudo para ser um ótimo negócio: para a torcida, que quer ver ídolos pelos quais pode torcer na Seleção Brasileira; para o técnico Mano Menezes, que precisa de resultados a fim de manter seu emprego na CBF; e para o próprio Ronaldinho, cujo objetivo sempre foi voltar à Seleção. Que faça bom proveito.

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O texto já ia terminar, mas preciso utilizar este espaço para comentar sobre um assunto que eu nunca imaginei que fosse ver ser noticiado. Veja aqui. Não sei o que é mais inacreditável: a discussão sobre o autor do crime e as consequências da tal flatulência durarem três dias ou o fato de a presidente do Flamengo ter se pronunciado sobre assunto de tamanha importância. Nada contra os repórteres que conseguiram esse furo(?), mas será que realmente não há mais nada de interessante sobre o futebol do clube que mereça ser comentado? Sinceramente, depois dessa eu não duvido de mais nada.

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Henrique de Almeida Soares Coelho

Sou um jornalista recém-formado,apaixonado pelo que eu faço, por futebol, por leitura e muitas outras coisas. Talvez com os textos vocês possam conhecer um pouco mais a meu respeito.

Como citar

COELHO, Henrique de Almeida Soares. A nova fase de um ídolo. E um rápido comentário…. Ludopédio, São Paulo, v. 27, n. 5, 2011.
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