A participação de atletas e clubes capixabas no cenário do futebol nacional
Não é apenas o sistema tático e a forma de jogar que fazem com que o futebol brasileiro seja distinto nas diversas regiões do Brasil. Inúmeros fatores contribuem para a desigualdade de oportunidades e de competitividade entre clubes e atletas de norte a sul do país.
Mas que fatores são estes, qual o grau de importância que eles representam e como podem oportunizar a ascensão de um atleta à elite do futebol brasileiro?
Na mesma direção, quais os fatores incidem para a inclusão e para a permanência de clubes de uma determinada região na elite?
Buscamos compreender o comportamento e os deslocamentos físicos dos inúmeros atletas que atuam no futebol nacional. Mais do que encontrar respostas, este texto tem a intenção de fomentar o debate em torno desta questão.
Para realçar o debate definimos o estado do Espírito Santo como um exemplo de discussão. O Espírito Santo faz parte da região sudeste, cercado por estados que tem relevância no cenário futebolístico como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia. Apesar de sua pequena extensão, possui uma população com grande densidade demográfica.
Mas estas particularidades não são suficientes para determinar o destaque dos clubes capixabas e de seus atletas no cenário futebolístico.
O local de nascimento, baseado no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), a formação inadequada do jovem, a ausência de uma estrutura de qualidade em clubes e centros de treinamento, podem ser fatores preponderantes para a inclusão ou não de atletas capixabas nos clubes da elite do futebol brasileiro?
Identificamos a falta de estudos que possam confirmar ou desmentir hipóteses ao longo das últimas décadas. Embora alguns profissionais consultados sustentem a tese que de a participação de atletas capixabas no cenário nacional vem crescendo, há necessidade de mais estudos sobre a evolução e sobre as razões para tal.
Em relação à participação dos clubes capixabas na elite é mais fácil evidenciar. A última participação de um clube do Espírito Santo na séria A nacional ocorreu em 1993, um hiato de quase 30 anos. Na série B, são quase 20 anos, ocorrendo a última participação em 2001. Por fim, na série C, algo que não é objeto da nossa pesquisa, servindo apenas como ilustração, não há participação de clubes capixabas desde 2008, ou seja, 12 anos.
Objetivando o estudo, pesquisamos os cenários da série A e B. A falta de equipes capixabas na amostra nos permitiu centralizar a pesquisa na inclusão de atletas nas principais equipes (20 clubes em cada série).
Alexandre Hilgert e Eliane Cunha Gonçalves realizaram um estudo em 2020 e analisaram 2.073 atletas que participaram dos campeonatos brasileiros da série A e B da temporada 2018. Desta amostra, apenas 33 atletas nasceram no Espírito Santo, ou seja, inexpressivos 1,59%.[1]
Outro estudo, realizado por Fábio Mundstock, também em 2020, analisou o perfil dos atletas que participaram do campeonato brasileiro da série A em 2019. Dos 694 atletas analisados, apenas 10 atletas são oriundos do Espírito Santo, ou seja, 1,44%.[2]
Mundstock ainda desmembrou a participação dos atletas capixabas entre os clubes participantes: o Botafogo (2), Cruzeiro (2), Flamengo (1), Fluminense (2), Fortaleza (1), Grêmio (1) e Palmeiras (1). Sendo então oportunizadas a participação dos capixabas nos clubes do RJ (5), MG (2), CE (1), SP (1) e RS (1).
Os números apresentados nos dois estudos evidenciam a baixa participação de atletas capixabas na elite do nosso futebol, o que nos instiga a procurar por fatores responsáveis por esta realidade e buscar entender por que algumas regiões do Brasil proporcionam mais oportunidades do que outras. Por que o Espírito Santo, cercado de estados formadores de atletas, oferece tão pouca mão de obra para o mercado nacional? Por que não tem um único clube nas três divisões principais do futebol brasileiro?
É necessário realizar uma profunda reflexão sobre o assunto acima descrito, para que possamos não apenas descobrir os motivos da irrelevante participação capixaba no futebol nacional, mas principalmente para corrigir rumos, desenvolver jovens para o futebol de alto rendimento e consequentemente fortalecer os clubes locais para que tenhamos um círculo virtuoso de desenvolvimento esportivo.
Notas
[1] Excluídos os atletas sem local de nascimento identificado e os atletas estrangeiros.
[2] Excluídos os atletas estrangeiros.