Um chute no travessão, bloqueio democrático das possibilidades futebolísticas, se ouve os gritos e enquanto na rua, a coerção dos “donos da grande área policiam” os que por anos, são a enciclopédia viva do futebol.
Dá pra pensar em Gramsci, e seus cadernos de cárcere, afinal, o estado permanece calando aos gritos estas pessoas, reprimindo suas crônicas de tradição oral: com cheiro de churrasquinho, pancho, cachorro quente, cerveja gelada, sol y sombra…
Neste breve ensaio sobre a descrença, me cabe divagar sobre a problemática do que de fato não será televisionado. Parece que a câmera de um celular, razoavelmente acessível a classe trabalhadora, é a nova contadora das histórias. O que antes trafegava no “boca a boca”, na fila pra comprar a cerveja antes de subir rumo ao palco onde pulsa o coração, hoje de uma minoria privilegiada, é o livro onde as narrativas também se cruzam com o tendencioso. Mais um problema, o que de fato cabe no campo das narrativas? Contar boas histórias, abrilhantar com storytelling, ou deixar ser?
Não é de hoje que as histórias são contadas de acordo com as técnicas de persuasão na hora do “vamos ver”. Como jornalista, não acho completamente errado colocar um perfume na história, mas é incompatível não seguir os passos da realidade.
Enquanto vamos nos “arenizando”, as canchas vão se perdendo entre selfies e pelotas em streaming, e quem diria, se as histórias de cancha , e dos arredores não serão televisionados, agora também, os jogos.
Há quem passou a vida em estádio, escutou por rádio e viu pela televisão, os jogos do seu clube, fora de casa. Mas e agora, José?
Nos cabe resgatar estes registros? A busca por estas figuras que aos poucos estão sendo invisibilizados. É preciso pensar e agir, afinal. Enquanto nossa ternura sobra, em um peito pequeno pra tanta peia.
Além do irracionalismo por trás das mídias, esta metralhadora de fake news acertando sem dó, a todos, precisamos estar muito atentos ao que vai exclusivamente se perdendo no processo de normatização dos meios.
A monopolização dos “causos” está exatamente na mão dos que oprimem, criando narrativas que muitos de nós acabamos por acreditar. Por fim, a quem interessa o “ópio do povo”? Seria só mais um chute no travessão?
Penso em grito de alerta, as vezes em grito de gol…