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A saga de um Leão centenário (parte IV)

Caio Araujo 16 de julho de 2019

Mais de 62 mil tricolores estenderam o mosaico “Vamos Vencer” na entrada do Fortaleza no gramado. O Leão, comandado pelo baiano Marcelo Chamusca, precisava apenas de uma vitória simples para subir. Antes de a bola rolar, na saída do túnel, o atacante Waldison, único remanescente do elenco de 2012, se emocionou com a festa e retribuiu a gratidão. “Não tem o que falar dessa torcida aí. A gente só tem que retribuir. Eu sei o que eles vêm passando há cinco anos. Está na hora disso acabar”, respondeu confiante olhando para a câmera. O Fortaleza partiu pra cima no início do confronto, mas encontrou uma defesa rival bem postada. O veterano Marcelinho Paraíba, em forma e com os cabelos descoloridos, arriscou alguns chutes de longa distância, espalmados pelo goleiro Milton Raphael. O zagueiro Adalberto cabeceou na área e a bola saiu à esquerda do gol. A torcida gritou “uh”. Carlos se descabelou. Biro perdeu o lance porque havia ido à cozinha buscar o medicamento do tio. Viu o replay na sequência e não acreditou. Porém, quando o tricolor parecia mais próximo do gol, no último lance do primeiro tempo, Bruno Alves dominou na intermediária, cortou para a direita e bateu cruzado – fraco, sem perigo. O arqueiro Ricardo segurou, mas soltou. Juba pegou o rebote, empurrou pra rede e um silêncio mortal tomou conta do Castelão.

Na volta do intervalo, Chamusca pediu calma e ponderou. “Não adianta queimar etapas. Temos 45 minutos pra virar”. Paciente, mas consciente, não esperou para agir. Chamou Erick Flores, Romarinho e Hudson. Pôs o time pra frente. As alterações ajudaram: os donos da casa mantinham a bola no pé, não sofriam ameaças e chegavam com facilidade ao ataque, apesar de finalizarem pouco, errarem alguns passes e persistirem nos chuveirinhos da esquerda, o setor de maior criação. Um deles chegou em Robert, que cabeceou livre na trave. Ele insistiu na jogada, levou o tranco e caiu. A torcida gritou pênalti. Corrêa ficou com ela e não confiou na arbitragem. Cruzou na medida para Waldison, que dominou de costas na pequena área, girou, bateu rasteiro no canto direito, sacudiu a rede e trouxe o estádio abaixo com o gol de empate. Biro vibrou contido, como de praxe. Carlos gritou e se engasgou.

Após a euforia, o desespero. Restavam pouco mais de dez minutos e o Fortaleza precisava marcar o segundo. Ficou mais difícil depois que Erick Flores deu um carrinho na lateral, atingiu o adversário e foi expulso. Minutos depois, o lateral-esquerdo Diego levou o segundo amarelo e também foi embora mais cedo. Com igualdade numérica, o Leão foi com tudo na base da empolgação, do expurgo e do seja-o-que-deus-quiser. Na melhor chance, Hudson mandou um balaço da intermediária no travessão; no rebote, Romarinho bateu cruzado e Milton Raphael salvou com os pés. O meia Bruno Alves ainda seria expulso aos 49, mas isso já não faria diferença. O Macaé tinha conseguido aguentar a pressão e impedido a redenção. E pela primeira vez estava classificado para a Série B por conta do gol fora de casa. Biro desligou a tevê no instante em que o árbitro Luiz Flávio de Oliveira recolheu a bola e decretou mais um ano de penitência ao tricolor. Se serviu de algum consolo, o algoz azarão acabaria vencedor do torneio. Ser eliminado pelo campeão é sempre um alívio, mas o fato era que pela segunda vez o Fortaleza fracassara no jogo mais importante do ano e deixara na mão uma massa dividida entre o apoio e a desolação. O meia Corrêa resumiu o sentimento em uma só frase: “Não tenho o que falar”. Já Robert, o matador que não foge da raia, repetiu as mesmas palavras da eliminação no ano anterior contra o Sampaio: “Agora é pedir desculpas para esta torcida que apoiou e nos prestigiou. Ela não merecia isso, e nós também não.”.

Festa da torcida na entrada em campo da equipe do Fortaleza, na partida que decidia vaga para a Série B, contra o Macaé, em 25 de outubro de 2014. Foto: Reprodução.

Quando retornou à capital, Biro apagou com desgosto cada uma das treze mensagens perdidas de Armando. Eles se encontraram na semana seguinte. Biro estava destronado. À medida que a zombaria ia perdendo a graça e o amigo não interagia, Armando se deu conta de que o luto não era em função do jogo passado. Carlos tivera outra recaída, da qual também se recuperou. O ciclo se repetiu outras duas vezes em 48 horas, mas na madrugada de dois de novembro de 2014, ele finalmente faleceu de insuficiência renal, problema que fizera o possível para esconder. Como sempre fora solteiro e não tinha filhos, deixou no testamento a casa financiada para o sobrinho predileto. Biro pagou as quatro prestações restantes e alugou o imóvel para a Prefeitura de Sobral, que o cedeu a uma Organização Social dedicada à educação de cegos. Seis meses depois, recebeu uma correspondência que havia retornado de Umari e cujo remetente lhe pareceu estranho à primeira vista. Abriu por curiosidade. Eram as palavras do tio que não haviam encontrado o destinatário. Biro leu carta e chorou, como há muito tempo não fazia.

O Leão se recuperou da decepção e iniciou bem a temporada seguinte. Manteve o treinador Marcelo Chamusca e trouxe alguns reforços, dentre eles o atacante gaúcho Cassiano Dias Moreira, um moreno esguio sem papas na língua, que teria uma passagem curta, mas marcante pelo Pici. Jogou 21 partidas e marcou quatro gols, um deles o do título estadual de 2015 contra o Ceará, aos 47 do segundo tempo, que lhe garantiu uma homenagem no calendário cearense – dali por diante o 3 de maio seria lembrado como “Cassiano Day”, invenção do departamento de marketing tricolor.

O Ceará vinha embalado pela conquista da Copa do Nordeste e conseguira virar o placar da decisão com Ricardinho e Samuel Xavier a dez minutos do fim (Daniel Sobralense abrira o marcador para o tricolor na primeira etapa), mas o gol de empate de Cassiano impediu o alvinegro de conquistar o segundo título em uma semana e quebrou a sequência de quatro títulos estaduais consecutivos do rival. Na primeira partida da final, o Leão vencera por 2 a 1. O que era para ser uma festa de três cores no Castelão, com a torcida invadindo o gramado para celebrar junto aos ídolos, tornou-se uma batalha campal sem vencedores, repercutida negativamente na imprensa esportiva internacional. O episódio manchou uma conquista histórica e foi parar nos tribunais. Mandante da partida, o Fortaleza foi punido com a perda de oito mandos de campo e multa de R$ 15 mil reais, contra R$10 mil do arquirrival. Além disso, o Castelão foi interditado por 90 dias por determinação do TJDF-CE.

As cenas de violência impressionaram Biro, que não se lembrava de ter visto nada semelhante, não no futebol cearense. Ele havia prometido para si mesmo que acompanharia o maior número de jogos possíveis do time em casa no Brasileirão, mas após a barbárie reviu o planejamento, e só pensou em voltar atrás na reta final do campeonato, à medida que o tricolor dava pinta de que poria fim ao sofrimento dos seis anos na terceira divisão. Assim como em 2012 e 2014, o Fortaleza terminou a primeira fase na liderança do Grupo A com 36 pontos – 10 vitórias, seis empates e apenas duas derrotas. Enfrentaria no mata-mata o surpreendente Brasil de Pelotas – um clube com mais de 100 anos de história, campeão gaúcho em 1919, vice-campeão da Série D de 2014 e cuja diretoria vinha sendo elogiada como exemplo de gestão “pé no chão”, sobretudo por não tomar decisões intempestivas que fatalmente crucificam o treinador; Rogério Zimmermann estava no cargo há mais de três anos (e a propósito continua), fato raro na profissão. A exemplo do ano anterior, o Leão gozava de amplo favoritismo – pela camisa, pela campanha e porque definiria a vaga no Castelão, o que nos últimos anos não significava propriamente uma vantagem.

Biro quis ir ao jogo e para isso convidou Geraldo, um caipira que se mudara para a capital há vinte anos e com quem dividia posições semelhantes a respeito de futebol, política e mulher. Eles se conheceram num churrasco na casa do melhor amigo Armando, primo distante de Geraldo. Ele, todavia, enrolou até a última hora, como quem não queria ir desde o início, mas não tinha coragem de declinar, o que fez com que Biro também desistisse de ir. Um colega de firma chegou a contatá-lo dizendo que conhecia um fulano que poderia descolar um par de ingressos por R$200,00, mas a esta altura Biro já havia se preparado para assistir ao jogo em casa. Tinha comprado meio quilo de chuleta para tira-gosto e seis latinhas de cerveja, normalmente a sua cota máxima para cada dose semanal de emoção. Planejara assistir sozinho, como nunca se incomodara, porém o Seu Garnizé – um vizinho que falava demais – ao vê-lo chegar do supermercado foi logo puxando assunto e se convidou a entrar, fato que o pegou de surpresa e que não conseguiu despistar. Para sua sorte, Garnizé se incomodou com as tentativas de conversa fracassadas e pediu licença. Biro vinha tendo um mau pressentimento desde a eliminação para o Sampaio Corrêa. Na sua concepção, uma espécie de catimbó havia sido plantada para atrapalhar o time do coração. Para quebrar a maré de azar, só mesmo com a benção de Santo Expedito, com quem se aconselhara e lhe dissera, de forma onírica, para estar presente na decisão. Biro não falava sobre isso com ninguém, mas sabia, por intuição, que o Fortaleza não ganharia naquele dia, embora torcesse para estar enganado.

Sessenta e três mil torcedores foram ao Castelão no dia 17 de outubro de 2015 na esperança de que o malogro chegasse ao fim. Ao contrário da temporada anterior, dessa vez o Leão havia perdido por 1 a 0 no primeiro jogo das quartas de final em Pelotas, portanto precisaria vencer por dois gols de diferença para se classificar e, consecutivamente, alcançar o grande objetivo, a grande obsessão dos últimos anos: o retorno à Série B. Além de ter de propor o jogo, afinal estava em desvantagem, tinha também de se precaver na defesa porque o gol fora de casa era critério de desempate, justamente o critério por que fora eliminado em 2014.

Seguindo o roteiro traçado por Chamusca, o tricolor saiu para o jogo sem afobação. Atacou sem deixar brechas e criou diversas chances de abrir o marcador. Lúcio Maranhão finalizou de canhota, a bola desviou na zaga xavante e explodiu no travessão. Daniel Sobralense, Everton e Corrêa arriscaram bons chutes de longa distância, mas todos pararam no goleiro Eduardo Martini. No segundo tempo, a pressão aumentou e o rubro-negro se postou todo atrás. O Leão dominava o confronto. Chegava ao ataque com facilidade e por lá ficava com a bola, tocando de um lado para o outro, tentando desmontar o ferrolho adversário, enquanto do outro lado Ricardo Berna espiava solitário a empreitada. Correa cabeceou no travessão aos 21. Martini salvou os arremates de Pio e Elias. O relógio importunava. Maranhão desviou cruzamento na área e a bola saiu rente à trave esquerda aos 37. E numa dose extra de drama, o lateral-esquerdo Xaro foi expulso aos 47 por retardar a partida, deixando a equipe gaúcha com um a menos. O árbitro assinalou cinco minutos de acréscimo e o Fortaleza, desesperado, rogou aos deuses por um milagre.

Adalberto pegou o rebote de fora da área aos 48 e isolou. Corrêa cruzou alto na área e a zaga xavante cortou pra escanteio, que o árbitro sequer esperou ser cobrado para encerrar a partida, silenciar a multidão e confirmar a premonição de Biro, que teve pesadelos naquela noite. Na manhã seguinte, sentado num banco da Praça General Tibúrcio, enquanto lia distraído a crônica sobre o novo fracasso, ocorreu-lhe uma visão. Teve, então, a certeza de que os insucessos não eram obra causal do futebol. A velha análise baseada na ideia de que vence quem executa melhor o plano de jogo não podia explicar as sucessivas decepções. Não. Havia algo de anormal por trás daquela saga, talvez fosse um carma ou uma maldição. Seja lá o que fosse, só seria quebrada com reza braba a Santo Expedido, o único capaz de atender ao seu clamor.

O empate em 0 a 0 entre Fortaleza e Brasil de Pelotas, pela Série C de 2015, sacramentou mais uma decepção para a torcida tricolor. Foto: Reprodução/Diário do Nordeste.

Depois de 35 anos, Biro finalmente retornou ao Castelão. Isso aconteceu em 8 de maio de 2016. A nova Arena tinha muito pouco a ver com o estádio onde tantas vezes tinha visto o seu time brilhar e fracassar, onde tantas vezes havia chorado – de alegria e de dor. Mas alguma coisa daquele passado se mantinha intacto, alguma coisa que ele não sabia explicar, mas que a modernidade não fora capaz de desconstruir. Ele podia ouvir os gritos da torcida inflamada e vibrar com as batidas de canhota de Luisinho das Arábias ou com as defesas milagrosas de Maizena. Podia ver a equipe entrando no gramado e o deixando nos braços dos fãs. Podia ver a festa nas arquibancadas divididas, os capitães trocando as flâmulas, cumprimentando o árbitro e escolhendo cara ou coroa. Podia ver as bandeiras agitadas, os tambores sincronizados e a chuva de papel picado. Podia ver os ambulantes torcerem, os torcedores se exaltarem e os jogadores indo parar no meio deles. E todas essas lembranças continuavam vivas – estava convencido – porque o Estádio Governador Plácido Castelo tinha algo que nenhuma arena jamais terá – alma.

Biro comprou ingresso para o setor mais barato, as cadeiras superiores vermelhas, e chegou uma hora antes da partida, que ele escolheu passar sozinho nas arquibancadas vazias. Naquele dia, o Fortaleza derrotou o Uniclinic pelo segundo jogo da decisão do estadual e conquistou o bicampeonato. Andre Lima (não aquele do Botafogo e Grêmio) marcou o único gol da partida. Biro retornou outras três vezes durante a disputa da Terceirona, sempre no mesmo setor, e em todas elas o Leão ganhou: contra o América-RN (2 a 1); contra o Asa-AL (2 a 1) e contra o Remo-PA (4 a 1). O Fortaleza repetiu mais uma vez a boa campanha na primeira fase e se classificou na liderança com 30 pontos: oito vitórias, seis empates e quatro derrotas, retrospecto idêntico ao do ABC, inclusive no saldo de gols, porém com melhor ataque. Teria pela frente no mata-mata outro time gaúcho, o tradicional Juventude – campeão da Série B em 1994, da Copa do Brasil de 1999 e que no ano anterior não se classificara para as quartas por causa de um gol a menos de saldo que o Brasil de Pelotas. Para variar, o tricolor era considerado favorito, coisa que preferia dispensar. Decidiria o acesso em casa e dessa vez Biro não daria chance aos imprevistos. Madrugou na fila e garantiu a entrada duas semanas antes do primeiro duelo pelas quartas em Caxias do Sul, que terminou empatado em zero a zero.

Chegou com uma hora de antecedência no Castelão. No caminho, parou para perguntar o preço de uma réplica do manto tricolor que lhe parecia ideal. Tentou barganhar com o ambulante, mas este insistiu no valor original. A intransigência o fez desistir da negociação e a perceber que réplica nenhuma era mais perfeita que a sua. Sentou-se na cadeira vermelha do anel superior que, se não fosse a mesma que havia sentado nas quatro últimas vitórias, era bem próximo dela. Ligou o rádio de pilha para ouvir os comentários do pré-jogo, com os quais rotineiramente discordava. Para ele, os comentaristas eram excessivamente pessimistas e contribuíam de forma incisiva para desestruturar a equipe. Por exemplo, quando diziam que um treinador estava para cair, na verdade não estava, mas é que o comentarista queria que estivesse para ter o que falar. Em geral, a postura de Biro em relação ao trabalho da comissão técnica, de qualquer comissão técnica, era continuista, pró-manutenção. Quando todos queriam a cabeça de Dunga após a eliminação do Brasil na Copa de 2010, ele achava que Dunga deveria continuar porque vinha fazendo um trabalho excelente, e expunha os números e títulos que o capitão de 94 havia alcançado para fundamentar sua opinião, sempre equilibrada, serena e concisa. Pensava também que nenhum treinador é obrigado a ganhar tudo e que as trocas são, na maioria das vezes, ruins para o time. Biro acusava os jornalistas de oferecerem análises tendenciosas com base nos habituais desentendimentos com as fontes e considerava uma hipocrisia absurda da parte deles cobrar profissionalismo dos jogadores sendo que os próprios se deixavam levar pelas birras pessoais.

Mas nada disso interferiria no seu humor. No final das contas, ele achava fascinante o poder daquelas ondas sonoras e admirava a capacidade dos radialistas em criar um universo de emoção com palavras, ainda que com justa exacerbação, em torno de um fato corriqueiro. Assim como nas outras vezes, enquanto ouvia os exageros, via o estádio se encher aos poucos, e aquilo o encantava. Naquele dia, porém, o fluxo de gente era muito maior. Chegavam de todos os lados com bandeiras, cornetas, faixas, papel picado e máscaras de leão. Não, ele nunca tinha visto nada parecido. De repente, o Castelão estava todo coberto de azul, vermelho e branco. Empurrado por 63.903 fanáticos, a saga estava prestes a terminar. O apoio incondicional, outra vez, estava lá. Obedecendo as determinações do santo, Biro seguiu à risca o ritual da superstição: vestia as mesmas roupas, passara pelos mesmos lugares, almoçara o mesmo prato, ouvia a mesma estação, e até a escova de dente, velha de guerra, fora delegado um último esforço. A única exceção era que dessa vez trouxera uma cartolina com os dizeres: “Leão, não aguento mais a dor. Acabe logo com o drama e nos dê uma segunda sem provocação”. Portanto, nada poderia dar errado. Bastava uma vitória simples, só por um golzinho. Foi aí que os times entraram em campo, e Biro se deu conta de que, talvez, os santos também erram.

Tal qual ocorrera contra o Brasil de Pelotas em 2014, o Fortaleza tomou a iniciativa no jogo. Corrêa e Rodrigo Andrade tiveram boas chances de abrir o placar, mas o goleiro Elias segurava as pontas na defesa. O Juventude apostava no contra-ataque, e dessa forma também chegou com perigo ao gol de Ricardo Berna. No início do segundo tempo, Hugo escorou de cabeça na área para colocar o time gaúcho na frente. A apreensão tomou conta do Castelão, que já estava cansado de ver aquele filme. Aos 20 minutos, porém, Piu tratou de espantar os fantasmas com um tirambaço de bola parada no meio do gol. Ele se ajoelhou no centro do gramado, fechou os olhos e ergueu os braços ao céu. O Castelão entrou em ebulição, mas o 1 a 1 não bastava. Logo em seguida, Anselmo quase virou num belo cabeceio que Elias espalmou de mão trocada por cima da meta. Aos 29, Erinaldo Rabelo, do Juventude, e Juliano Pacheco, do Fortaleza, se desentenderam com a bola parada e foram para o chuveiro mais cedo. Na reta final do confronto, Roberson, o camisa 10 alviverde, avançou sozinho pela direita e tocou cruzado na saída de Berna. A bola saiu triscando a trave, para desespero dos poucos mais de três mil gaúchos no estádio. Pelo lado do Leão, Pio assumiu a bronca, de novo na bola parada. Cobrou rasteiro no canto direito e Elias espalmou na ponta dos dedos. Leandro Lima e Simões também assustaram e, na última investida, Pio soltou um tiro de fora da área para outra ótima defesa de Elias. Não havia tempo para mais nada. O árbitro Percicles Bassols apitou. O Juventude estava de volta à Série B após sete anos, período durante o qual perdurava a tormenta tricolor.

Revoltados, torcedores do Leão descontaram a ira nas cadeiras. Não queriam crer no pesadelo sem fim. Biro desligou o rádio e deixou o estádio desolado. Ele também não podia crer que a superstição falhara e excomungou o santo protetor por não ter cumprido com a sua parte no trato. No caminho de volta, passou na frente do Bar Avião vazio e se lembrou de Armando. Olhou para o celular; não havia ligações perdidas. Despejou algumas moedas no boné do Seu Alaor, que surpreendentemente agradeceu. Entrou na fila da bilheteria do metrô Parangaba e, após quase uma hora, conseguiu embarcar. Um garoto de moicano, calça rasgada e blusa do Ramones prontamente cedeu-lhe o assento preferencial. Biro se sentou ao lado de uma senhora morena de saia longa que segurava a bíblia, um terço, um buquê de cravo e que interrompeu a leitura para encará-lo de cabo a rabo. Ele ficou sem jeito e desviou o olhar. Três estações depois, levantou-se e desembarcou. Ela veio atrás. Biro caminhou devagar até as escadas rolantes, saiu da estação, esperou o sinal fechar e atravessou a rua até o ponto de ônibus. Enquanto aguardava, avistou a senhora no outro lado observando-o. Ele entrou no ônibus e pela janela a viu acenar.

Na manhã seguinte, não se recordava da cena. Não se recordava de quase nada. Só se lembrava de que havia blasfemado e de que prometera para si nunca mais acreditar em milagres. Arrependeu-se. Após o almoço, foi à igreja renovar a fé. Terminada a prece, parou na frente da banca de jornal e passou o olho nas manchetes. Seguiu a pé até a Praça General Tibúrcio, onde ficou sozinho até o entardecer. Ao voltar para casa, encontrou Armando à sua espera no portão. Ele dizia estar preocupado por conta das ligações não contestadas. Entraram e tomaram café. No entanto, havia um clima estranho entre eles. Biro estava mais quieto que o habitual. Armando tentou quebrar o silêncio de diversas formas. Contou piadas sem graça, forçou lembranças abstratas e puxou assuntos sobre os quais gostavam de conversar. Não adiantou. O amigo não estava mesmo a fim de papo. Quando isso ficou claro, inventou uma desculpa e se despediu, o que trouxe certo alívio a ambos. Biro o acompanhou até o portão e o aguardou entrar no carro e ir embora. Quando voltou para a sala, tomou o resto do café frio e se deitou no sofá sobre o celular. Pegou o aparelho e viu as treze ligações perdidas, mas, na verdade, ele não fazia ideia sobre quem era aquela pessoa que acabara de sair da sua casa.

Time do Stella no final da década de 10. A estrela (em francês: Stella) vermelha seria preservada na bandeira do sucessor. Foto: Wikipedia.

Obs.: Essa reportagem foi finalizada antes do derradeiro acesso do Fortaleza à Série B em 2016. Naquela edição da “terceirona”, o clube encerrou a primeira fase na terceira posição e, nas quartas de final, bateu o Tupi (MG), após vencer o primeiro duelo em casa (2×0) e perder na volta (0x1). Subiu no saldo de gols. Na semifinal, despachou o Sampaio Corrêa, mas perdeu a final para o CSA (1×2/0x0).

No ano de seu centenário, o Fortaleza, sob o comando de Rogério Ceni, liderou o campeonato de cabo a rabo e pela primeira vez foi campeão da Série B do Brasileirão, com nove pontos de vantagem sobre o vice-líder, seu algoz na final do ano anterior, CSA. Presente melhor o clube não poderia ter dado ao seu torcedor sofrido. Demorou. Foi uma saga. Mas acabou. O Fortaleza, depois de treze anos, estava de volta ao seu lugar na elite do futebol brasileiro. Biro não viu nenhum dos dois últimos feitos do seu time do coração.


Clássico-Rei

Não poderiam deixar de ser abordados alguns marcos da rivalidade que começou lá na década de 20 e que ao longo de quase um século, com muita alternância de domínio, tornou-se não só a maior do Ceará, como uma das maiores do Brasil.

É sempre precavido contrabalançar dados, ponderar estatísticas e contextualizar glórias passadas antes de tomar posição diante de um dilema e assumir o risco do equívoco inerente à escolha – neste caso, cravar qual dos dois grandes clubes do estado é o maior, já que esta parecer ser a dúvida que mais desperta curiosidade entre os aficionados. Para quem não é do estado ou não torce por um dos times, a análise pode se dar, digamos, com um pouco mais de equilíbrio, embora no fundo continue a se tratar de mera opinião – fundamentada, mas sempre passível de contestação.

O problema da chamada “análise fria” é que ela quer levar ao futebol – um meio absolutamente passional – o tom científico que foge à sua natureza. Ela visa torná-lo um esporte racional, calculado, previsível, de modo a justificar tudo o que acontece nele por meio de um suposto raciocínio livre da influência emotiva. Ocorre que isso é impossível, sobretudo por se tratar de um jogo cuja razão de existir é proporcionar emoção. Além do que, estatísticas são utilizadas para embasar pontos de vista, portanto também são um recorte do autor, que pode muito bem omitir as que não lhe convêm. O fato é que há no futebol inúmeras situações sem explicação, o que é bastante normal para um jogo com elevado grau de aleatoriedade, mas incompreensível aos ideólogos da razão. Muita gente simplesmente não aceita o imprevisto, o imponderável. Querem dar sentido a tudo, quando não há. Acham que sempre existe uma lógica por trás do êxito, quando não existe. Ficam atordoados se o cálculo não funciona como prova real.

Comentaristas enxergam semelhanças entre futebol e xadrez se não têm o que falar sobre determinada partida com poucos lances de emoção. A analogia é absurda. Não existe qualquer relação entre eles. Não só pelo motivo óbvio de que modalidades individuais e coletivas são distintas por definição, mas porque no xadrez é nula a chance de um jogador vencer por intermédio da sorte – o rival pode errar, mas nunca há interferência externa –; no futebol, isso ocorre a todo instante.

Ao contrário do xadrez, antever jogadas no futebol não é tão determinante. Isso só é real na imaginação de quem credita o sucesso sempre ao planejamento, à estratégia, nunca à intuição. Se futebol é arte, a magia está no prazer da descoberta, não no roteiro programado. Após o pontapé inicial, um leque de possibilidades se abre para infinitas surpresas, e é justamento isso que o torna especial. Certas situações até podem ser trabalhadas com antecedência, mas inúmeras vezes elas em nada interferem na partida. Por isso a máxima do “treino é treino; jogo é jogo” não mente. Todos os derrotados treinam – igual ou mais aos vencedores. Só que nenhum plano de jogo previne o toque de primeira ou o desvio no meio do caminho contra o próprio patrimônio. Os marcadores sabiam o que Garrincha fazia com a bola, mesmo assim não conseguiam desarmá-lo. Apesar de o terem visto diversas vezes fingir o movimento, de repente ele fazia algo inusitado para delírio da plateia e fúria dos racionais.

E para quem diz que isso é coisa do passado, hoje em dia com Messi não mudou tanto assim. Sempre houve no curso da história – em maior ou menor quantidade – jogadores capazes de desmontar qualquer esquema tático. O talento é tamanho, que pouco importa se planejam anulá-los; eles inventam alguma maneira de driblar a adversidade. São craques porque ousam fazer diferente, embora nem sempre consigam, é claro, até porque também há craques no outro lado para impedi-los, mas estes melhores do que ninguém sabem que para tal não adianta tentar adivinhar o que vai acontecer. É preciso contar com a sorte no instante para o qual não há segunda tentativa. Pode-se simular este momento milhões de vezes, mas não há garantia alguma de que na prática ele será conforme o planejado, como muitas vezes não é. Desta lástima, ninguém está imune. E enquanto for assim, o futebol seguirá fascinante.

A intenção deste preâmbulo é rebater a ideia de que os “números dizem tudo” e a máxima de que “futebol é resultado”. Embora não devam ser ignorados, eles só revelam o desfecho da história, nunca o que está por trás dela. E assim como as grandes histórias são feitas de inúmeros fracassos, a grandeza de um clube não pode jamais ser medida apenas pela soma das suas conquistas.

Raio-X da Rivalidade

FORTALEZACEARÁ
Estaduais: 41Estaduais: 45
Regionais: 4 (1946, 1960, 1968 e 1970)Regionais: 2 (1964 e 1969)
Brasileirão Série A: 20 participações. Vice-campeão em 1960 e 1968.Brasileirão Série A: 21 participações. 3o colocado em 1964.
Série B: 18 participações. Campeão em 2018 e Vice-campeão em 2002 e 2004.Série B: 30 participações. 3o colocado em 2009.
Série C: 14 participações. 5o colocado em 2012, 2014 e 2015.Série C: Nunca disputou.
Copa do Brasil: 21 participações. Melhor posição: quartas de final em 2001.Copa do Brasil: 22 participações. Vice-campeão em 1994, 3o colocado em 2011, 4o em 2005 e 5o em 1993.
Copa do Nordeste: Semifinalista em 2001 e 2013.Copa do Nordeste: Campeão invicto em 2015.
Vitórias no Clássico-Rei: 171*Vitórias no Clássico-Rei: 191*
Maior goleada no rival: 8 x 0 (1927)Maior goleada no rival: 7 x 0 (1955)
Maior invencibilidade contra o rival: 7 anos (1932-39). Em número de jogos oficiais: 16 (1999-2001).Maior invencibilidade contra o rival: 4 anos (1949-53). Em número de jogos oficiais: 9 (mesmo período).
Jogadores cedidos à seleção brasileira: Amaral (2005) e Tinga (2015)**.Jogadores cedidos à seleção brasileira: Nenhum.***
Torcida: 1,6 milhão (16o do país)****Torcida: 2,2 milhões (15o do país)**** 
Ranking CBF (2017): 40o (3.644 pts.)Ranking CBF (2017): 23o (5.904 pts)

 

* Foram ao todo 559 confrontos, com 189 vitórias do Ceará, 171 do Fortaleza e 199 empates. Considerando apenas os jogos oficiais (481 no total), o Vovô também leva vantagem com 157 vitórias, contra 148 do Leão, além dos 176 empates.

** Antônio Cleílson da Silva Feitosa, o Amaral, foi convocado pela Seleção Brasileira Sub-18 em 2005. Já Tinga representou o tricolor nos Jogos Pan-Americanos de 2015.

*** Passaram pelo Ceará vários jogadores que vestiram a camisa da seleção, dentre os quais: Cláudio Adão, Magno Alves, Belletti, Osvaldo, Dudu Cearense, Edmílson e tantos outros. Não houve, todavia, algum que tenha sido cedido pelo Vovô, isto é, que no momento da convocação atuasse pelo clube. Isso ocorreu com atletas estrangeiros ou com brasileiros que obtiveram outra nacionalidade. São os casos de André Neles, David Diach e Luizão – o primeiro defendeu a seleção da Guiné Equatorial, o segundo a da Costa Rica e o terceiro a do Uzbequistão –, além do colombiano Javier Reina, que atuou no Ceará em 2010 e 2012.

**** Os dados se referem ao mais recente levantamento do Instituto Paraná Pesquisas, que entrevistou 10.500 pessoas (maiores de 16 anos), de 24 estados e 288 municípios, entre março e dezembro de 2016. O grau de acerto da mostragem é de 95%. Nela o Fortaleza aparece ao lado de Atlético-PR e Vitória (BA) na 16ª colocação com 0,8% da preferência dos entrevistados. Pesquisas de outros institutos, como Datafolha e Ibope, e de veículos esportivos (Lance! e Placar), apresentam divergências tanto em número absoluto de torcedores quanto no ranking geral. Em todas elas, porém, os gigantes cearenses figuram entre os 25 times mais populares do país desde 2004, normalmente com o Ceará uma ou duas posições acima do rival. Na capital do Estado, contudo, eles estão tecnicamente empatados sendo que 26% dos moradores se declararam simpatizantes do alvinegro contra 25% dos tricolores. Ainda de acordo com a pesquisa, Fortaleza e Ceará são, respectivamente, o quarto e o terceiro clubes mais queridos do Nordeste, atrás de Bahia e Sport. Esta é a primeira vez em que aparecem à frente de Santa Cruz e Vitória na estimativa total de fãs. Ver estudo completo em: <http://www.paranapesquisas.com.br/wp-content/uploads/2016/12/BrasilDez16_Futebol.pdf>.

Fatos Relevantes

– No primeiro Clássico-Rei da história, disputado no dia 17 de dezembro de 1918, o Ceará venceu por 2 a 0, em duelo válido pela Liga Metropolitana Cearense de Futebol. O Fortaleza só derrotaria o rival na quarta edição do clássico, em 1922, já pelo Campeonato Cearense.

– A maior goleada do Fortaleza no clássico (8×0) foi em uma partida oficial em 1927. O troco do Ceará (7×0) foi em um amistoso em 1955.

– Em número de vitórias consecutivas, eles estão empatados. O Fortaleza derrotou o rival sete vezes seguidas entre 1936 e 1938. O Ceará fez o mesmo entre 1951 e 1952 e em 1993.

– O maior tabu em jogos oficiais do Clássico-Rei é do Fortaleza, que de julho de 1999 a julho de 2001, ganhou oito vezes e empatou outras quatro contra o arquirrival. Se levados em consideração os amistosos, porém, a vantagem é do Ceará, que ficou dezessete partidas (treze vitórias e quatro empates) sem perder para o Leão entre outubro de 1949 e agosto de 1953.

– Moésio Gomes (1932-1992) foi o treinador que mais vezes comandou o Fortaleza. Foram 290 partidas no banco tricolor. No lado alvinegro, Dimas Filgueiras – entre idas e vindas como interino ao longo dos 45 anos de serviços prestados ao clube, razão pela qual ganhou o apelido de “quebra-galho” – liderou o Vozão em 504 partidas, inclusive nas duas classificações internacionais: a Copa Conmebol de 1995 e a Copa Sul-Americana de 2011.

– O Fortaleza é o único time cearense a ter um campeão que jogou em duas posições. Na campanha do tricampeonato de (1926/1927/1928), Rolinha jogou como goleiro em 1926 e 1927 e como zagueiro em 1928.

– No dia 03 de novembro de 1972, o Ceará derrotou o Santos de virada na milésima partida de Pelé pelo clube da vila. Os gols da vitória foram marcados por Samuel e Da Costa; Pelé fez o do alvinegro praiano – o gol de número 1.015 da sua carreira.

– O atacante tricolor Rinaldo foi o maior artilheiro do país em 2004 ao marcar 35 gols. Nas temporadas 2005 e 2006 do Brasileirão, ele fez 27, a melhor marca naquele biênio. Se consideradas as séries A e B, Rinaldo balançou a rede 52 vezes, recorde do Leão nas competições.

– O Ceará já teve três artilheiros na Série B: Sérgio Alves (2001), Magno Alves (2014) e Bill (2016).

– Atuando pelo Fortaleza, Sandro Preigschadt se tornou o maior goleador do Campeonato Cearense em uma só temporada, quando marcou 39 gols em 1997.

– Os arquirrivais se enfrentaram 31 vezes em finais do Campeonato Cearense. Após a conquista de 2015, o Fortaleza leva ligeira vantagem na disputa (16 a 15).

– O Ceará teve a segunda melhor média de público no Brasileirão de 2010 (23.467 torcedores) e a melhor na Copa do Brasil de 2005 (35.407) e na série B de 2009 (22.617). No “Nordestão”, o clube dominou as arquibancadas no triênio: 2013-14-15. Em 2016, o Fortaleza conseguiu assumiu o posto, e pelo quarto ano consecutivo o estado do Ceará foi quem mais lotou os estádios na competição regional.

– Já no confronto direto incluindo todas as competições do calendário anual, o alvinegro superou o tricolor em média de público de 2006 a 2011. Em 2012, o Fortaleza desbancou o rival e terminou na décima colocação do ranking geral das quatro divisões nacionais. O Ceará se recuperou em 2013 e ficou em 15º lugar, nove posições acima do Leão. Nas três últimas temporadas, porém, o Fortaleza, mesmo na Série C, levou vantagem: teve a oitava maior média em 2014; a décima em 2010 e a nona em 2016, uma posição acima do Vozão.

– No ano do seu centenário, em 2014, o Ceará foi tetracampeão cearense e vice-campeão da Copa do Nordeste, perdendo para o Sport, de Eduardo Baptista, na final.

– A maior goleada na história do Estádio Presidente Vargas pertence ao Fortaleza. No dia 10 de fevereiro de 1963, o Leão bateu o Gentilândia por 12 a 1, com sete gols de Haroldo e quatro de Mozart. Já os dois maiores públicos neste estádio são do Ceará: o primeiro no empate em 1 a 1 com o Ferroviário pelo Campeonato Cearense de 1989 (38.515 torcedores) e o segundo na derrota para o Corinthians por 0 a 1 no Campeonato Brasileiro de 1971 (37.773).

– O maior público esportivo do Castelão pertence a ambos. Na final da Copa do Nordeste de 2015, o Ceará bateu o Bahia por 2 a 1 diante de 63.903 torcedores, a capacidade máxima do estádio que é o quarto maior do país e o maior do Nordeste. O Fortaleza repetiu a façanha no ano passado quando foi eliminado para o Juventude nas quartas de final da Série C. Aquele jogo do Ceará, porém, teve um número total de pagantes um pouco maior em relação ao do rival (63.399 a 63.203). Já os outros dois maiores públicos são do Fortaleza, paradoxalmente nas duas ocasiões anteriores em que o clube desperdiçou a chance de retornar à segunda divisão – contra o Macaé em 2014 (62.525 torcedores) e contra o Brasil de Pelotas em 2015 (62.903). Os jogos da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2014 no estádio – contra o México, na fase de grupos, e contra a Colômbia, pelas quartas de final – atraíram pouco mais de 60 mil espectadores. O maior público da história do Castelão foi no Congresso Eucarístico Nacional, quando o papa João Paulo II celebrou uma missa para 120 mil fiéis em 1980, muito antes da reforma de 2002 que reduziu consideravelmente a sua capacidade.

– A maior bilheteria em um Clássico-Rei pelo Campeonato Cearense foi na vitória do Fortaleza por 1 a 0 no dia 06 de outubro de 1991, ocasião em que 60.393 torcedores de ambos os times compareceram no Castelão. A maior do confronto, porém, foi no Campeonato Brasileiro de 1973, quando se estima que 70 mil pessoas acompanharam o empate em 0 a 0 no estádio.

– No quesito maiores públicos de clubes cearenses em quaisquer competições, o Ceará lidera com 15 registros, contra 12 do Fortaleza e um do Icasa.

– As maiores rendas do Castelão são do Fortaleza, justamente naqueles três jogos decisivos, sendo que os duelos contra Brasil de Pelotas e Juventude foram os únicos a ultrapassarem a cifra de R$ 2 milhões de reais. O Ceará detém as outras sete melhores bilheterias da última década.

– O goleiro Diego do Ceará ficou 608 minutos (seis jogos) sem sofrer gols no Campeonato Brasileiro de 2010, melhor marca da sua posição em todas as edições deste torneio. O recorde pertencia ao ex-arqueiro do Palmeiras, Washington, que em 1986 manteve a meta resguardada por 533 minutos.

– O Fortaleza leva vantagem sobre o Ceará no número de conquistas estaduais nas divisões de base. São 43 troféus nas categorias infantil, juvenil e juniores (sub-12, sub-15, sub-16, sub-17, sub-18, sub-20 e sub-23) contra 24 do rival. O tricolor foi também quem mais vezes representou o estado na Copa São Paulo de Futebol Júnior, com 14 participações, além da melhor campanha: quartas de final em 2008. O alvinegro, por sua vez, venceu em 2012 a Brasil Cup – uma competição nacional – no Sub-13 e no Sub-17.

– Já no Futsal os papéis se invertem. O Vovô é tricampeão estadual (2003, 2004 e 2005) contra uma única conquista do rival em 2008. O Leão, porém, foi campeão da Liga Nordeste de 2009, considerado um dos mais importantes torneios regionais da modalidade no país.

– No futebol feminino, o Fortaleza foi campeão cearense em 2010. A grande força do estado é a equipe do Caucaia, hexacampeã. A melhor colocação do Ceará foi o vice-campeonato em 2009.

– No basquetebol masculino, o Fortaleza é decacampeão cearense e bicampeão da Copa Brasil Nordeste (2001 e 2003), espécie de Pré-Liga Nacional. Com a criação da Liga Ouro em 2014 – a segunda divisão da NBB –, a Copa Brasil passou a ter status de terceira divisão.

– Pesquisa da Pluri Data Consultoria de 2014 aponta o Ceará como o 21º clube mais valioso do país e o quarto do Nordeste. O Fortaleza aparece na sétima posição no cenário regional e na 43ª no nacional.

– O Fortaleza é campeão brasileiro de handebol feminino (2001) e masculino (2004). A atleta do clube Emanuelle fez parte do elenco da seleção brasileira que venceu o mundial de 2013 na Sérvia. Já o ponta Wendel, outro jogador tricolor, foi convocado para a seleção masculina em naquele mesmo ano.

– O Sou Mais Ceará é o décimo maior programa de sócio-torcedor do Brasil com cerca de 22.500 cadastrados.

– A surfista Tita Tavares, primeira mulher a tirar nota 10 em uma etapa do WQS em 1996, foi atleta do Fortaleza. O lutador de artes marciais mistas Rony Jason, vencedor no peso pena do reality show The Ultimate Fighter Brasil, em 2012, é patrocinado pelo clube.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Caio Araujo

Só mais um torcedor.

Como citar

ARAUJO, Caio. A saga de um Leão centenário (parte IV). Ludopédio, São Paulo, v. 121, n. 21, 2019.
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