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Adios, D10S

Gabriel Bernardo Monteiro 28 de novembro de 2020

O dia 25 de Novembro nunca mais será o mesmo para o amante do futebol, para os argentinos e napolitanos essa será a sexta- feira santa do futebol, o dia em que se foi o El Diez Diego, um dos maiores jogadores de todos os tempos e sem dúvida, o maior ídolo do futebol em um país. 

Esse é, sem sombra de dúvidas, o texto mais difícil que já escrevi. Não sou argentino, mas sou apaixonado pelo esporte e por suas histórias. E em histórias, o Don Diego Armando Maradona foi o maior. Diego é, e sempre será, um craque da primeira prateleira do futebol mundial, um dos deuses do esporte e com certeza, o mais humano dos grandes ídolos do futebol.

Por anos, busquei entender o tamanho dessa idolatria de Diego em todos os lugares que passou. É rei em Napoli, Deus na Argentina, Entidade no Boca Juniors. A discussão (inútil) sobre quem foi maior, será eterna. Mas ninguém no mundo será mais ídolo para um país do que Diego. Um homem que errou como muitos e acertou como poucos. Mas que exemplificou como ninguém o que é ser especial. 

Muitas histórias permeiam uma carreira de sucesso, desde a não convocação para a copa de 1978 aos 18 anos, mesmo já sendo um dos principais jogadores do país pelo Argentinos Juniors, clube que já havia batizado desde 2003 o estádio com seu nome, até a saída de campo no segundo jogo da copa de 94 onde iria fazer o exame anti-doping derradeiro para sua carreira. 

Eu escolhi 2 histórias, que resumem bem o que El Pibe foi para mim. 

A primeira dessas, talvez a maior delas, aconteceu no dia 22 de junho de 1986. Argentina x Inglaterra disputavam uma vaga na semifinal, seria apenas mais um grande jogo decisivo, se não fossem os acontecimentos das Malvinas 4 anos antes e as lesões internas que esses acontecimentos deixaram no povo argentino, devastados com as consequências políticas e sociais que a guerra proporcionou. O povo argentino que, vivia um momento caótico, via naquela Copa do Mundo uma anestesia para dor que vivera e principalmente um resgate do orgulho nacional, algo que sempre foi marca dos hermanos. Inglaterra, era nesse momento, o rival perfeito. Não haveria possibilidade melhor de recuperar o orgulho abalado, do que enfrentar a nação que tinha ferido a honra e derramado o sangue argentino. 

A Argentina, que teve que jogar com uma camisa número 2 improvisada, escolhido a dedo por Diego, para que não pesasse muito quando o suor se acumulasse às 13h da Cidade do México, se preparava para fazer história, durante aquecimento e preleção, todas as falas são voltadas a jogar pelo povo, jogar pelos argentinos que deram a vida nas Malvinas. 

Essa partida, é a típica em que se separam os meninos dos homens, segundo especialistas. Entretanto, Diego, que já era nesse momento um dos grandes do futebol fez além, nesse jogo ele separou os humanos dos deuses. Levitou em campo, desfilou, liderou e conduziu a Argentina a uma histórica vitória com dois gols antológicos, gols que trouxeram a alegria para o povo, gols que promoveram justiça. O primeiro, uma jogada da esperteza, do tudo ou nada e de um jogador que naquele jogo, não aceitaria menos, do que a vitória. Após uma jogadaça e um passe para Valdano a bola retorna a ele, na feição para disputar com Peter Shilton, e ele no alto dos seus 1,60m cresce mais alguns com a ajuda da la mano izquierda de Dios marca. Os ingleses que 20 anos antes comemoraram um título mundial com um gol irregular, reclamavam, mas a justiça estava feita. 

D10S. Foto: Alexandre Fernandez Vaz.

O segundo, uma obra de arte, o maior gol de todas as copas, El Diez pega a bola no meio campo, dribla 5 adversários, a rainha Elizabeth, Margaret Thatcher e qualquer outro inglês que ousava ameaçar o orgulho argentino. 

Nesse dia, Diego iniciou seu processo de canonização, deixava as prateleiras de grandes jogadores para entrar no seleto grupo dos Deuses, alcunha que ele detestava, mas que melhor o descrevia. Quando alguém sonha em ser jogador de futebol e ganhar uma copa do mundo, é em Diego que se pensa, é em Diego que inspira. O que acontecera nesse ano, foi algo único, algo mágico, algo digno de alguém que não é desse planeta. 

A segunda história, também se refere a uma Copa do Mundo, a de 1990, na Itália. Em busca do Bi, Maradona conduzia Argentina com elegância. O gol de Caniggia que eliminou o Brasil nas Oitavas-de-final vem através de uma jogada em que dribla 4 jogadores e fica em pé mesmo após uma entrada violenta e em um momento em que já estava lesionado. Mas não é essa história que quero recordar, quero lembrar de 2 jogos após. As semifinais daquela Copa foram entre Argentina x Itália, que buscava um título em casa. A partida seria disputada em Nápoles, cidade onde ele já tinha se consagrado como um rei. Os italianos são apaixonados pela sua seleção, sentem muito orgulho da Squadra Azurra, entretanto, nesse dia, seria diferente. Um dia antes, Diego Maradona disse em entrevista que os italianos não ligavam para Nápoles, e que então os Napolitanos deveriam torcer para ele e sua amada Argentina. No dia seguinte, a impressão de todos no San Paolo (que futuramente se chamará Diego Armando Maradona) é de que estavam em Buenos Aires, em uma partida dentro de La Bombonera, a torcida italiana se dividia e com apoio dos aficcionados pelo D10S, gratos por ter colocado sua equipe dentre as maiores da Europa, a Argentina elimina a Itália, gerando revolta nos jogadores italianos. 

Tal história só me faz refletir, Maradona foi, e sempre será alguém com capacidade inata de gerar amor. Porque Diego sempre foi amor, amou perdidamente o futebol, amou perdidamente o Boca Juniors, amou perdidamente a Argentina, amou perdidamente Napoli, e amou perdidamente seu povo, os maradonianos. E talvez tenha amado tantas coisas tão perdidamente que se perdeu. 

O que nunca se perderá é o seu legado, suas histórias e seu amor. Diego, em carne se foi. Mas Diego de la gente, como gostava de ser chamado, será para sempre ETERNO. 

Obrigado por me fazer acreditar que sonhos são possíveis, obrigado por tudo que fez por muita gente. Obrigado 10.


** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Gabriel Bernardo Monteiro

Graduado em Educação Fisica pela Universidade Estadual de Campinas

Como citar

MONTEIRO, Gabriel Bernardo. Adios, D10S. Ludopédio, São Paulo, v. 137, n. 65, 2020.
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