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A América é das Guerreiras Grenás!

Ayllu Acosta, Luiza Loy Bertoli 30 de novembro de 2015

Assim é chamado o time de futebol de mulheres da Ferroviária, campeão de forma invicta da Copa Libertadores da América que aconteceu na Colômbia, entre os dias 28 de outubro e 08 de novembro deste ano, nas cidades de Medellín, Envigado e Giradota.

As meninas venceram a final contra o Colo-Colo por 3 a 1, com dois gols da atacante Tábatha e um da lateral esquerda Barrinha. Sem despertar interesse de patrocinadores e com pouca visibilidade na mídia comercial, somente alguns jogos foram transmitidos pelo canal Fox Sports 3, uma emissora de canal fechado. A competição ocorre anualmente desde 2009 e esta é a primeira edição disputada fora do Brasil.

A Copa Libertadores feminina, assim como a masculina, é organizada pela Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL) e a classificação se dá a partir dos campeonatos nacionais dos países participantes: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. No entanto, enquanto a competição para os homens dura todo o primeiro semestre do ano; para as mulheres, desde a fase de grupos até a disputa da final, foram apenas 12 dias, nesta edição.

Copa_Libertadores_Femenina

A competição foi disputada por doze equipes: Ferroviária e São José (BRA), UAI Urquiza (ARG), San Martín de Porres (BOL), Colo-Colo (CHI), Formas Íntimas e Real Pasíon (COL), Espuce (EQU), Cerro Porteño (PAR), Universitário (PER), Colón (URU) e Estudiantes de Guárico (VEN). As equipes foram divididas em três grupos, onde classificaram-se o primeiro de cada grupo e o melhor segundo no geral, formando as semi-finais entre: Ferroviária x São José e Colo-Colo x UAI Urquiza.

A falta de estrutura foi um dos destaques negativos da competição. A equipe campeã da Libertadores em 2014 e atual campeã Mundial de Clubes, o São José, além de ter sua comida contada e dificuldade de transportes para os jogos, estreou às escuras contra o Estudiantes. A falta de luz no estádio Cincuentenario fez com que a partida, realizada às 16h, terminasse no breu. Djenifer, volante do São José, desabafou: “No fim do jogo, estava completamente escuro. Sem a iluminação adequada para uma partida. Enfim, sabemos que o que é ruim para a gente, é ruim também para nosso adversário. Então, acima de tudo, temos que nos superar”. Mesmo sem condições mínimas de iluminação, a partida aconteceu e terminou empatada em 1 a 1.

Além da falta de estrutura, os desfalques decorrentes da formação da seleção permanente, foi também uma adversidade enfrentada pelas jogadoras e comissões técnicas das equipes brasileiras. A seleção brasileira permanente, criada visando a Copa do Mundo, disputada este ano no Canadá, e as Olimpíadas de 2016, foi alvo de críticas. O técnico da Ferroviária, Leonardo Mendes, lamentou a ausência de 11 jogadoras cedidas para a seleção: “A CBF tentou melhorar com a seleção permanente, mas melhorou só para as jogadoras que estão na seleção. Para os clubes ficou ruim, pois perdemos atletas e tendo jogadoras de seleção você atrai imprensa, torcida, e a divulgação é maior”.

MS0001 - Araraquara - SP - 12/09/2015 - BRASILEIRAO CAIXA 2015 - ESPORTES - Segunda rodada do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino “Brasileirão Caixa 2015”, Jogo 11; Grupo 1, Ferroviária/SP X Pinheirense E.C./PA, realizado no estádio da Fonte Luminosa em Araraquara, SP. Foto: Moises Schini/ALLSPORTS
Jogadora da Ferroviária (primeiro plano) em ação. Foto: Moises Schini – ALLSPORTS.

Mesmo diante de todo contexto desfavorável, e com um orçamento apertado que representa cerca de 10% do valor da equipe masculina do Ferroviária – atual campeão da segunda divisão do Campeonato Paulista -, as guerreiras grenás trouxeram mais um título para o Brasil. Das sete edições da competição, a taça ficou seis vezes por aqui, confirmando a supremacia brasileira na América: Santos FC (2009 e 2010), São José (2011, 2013 e 2014) e Colo-Colo (2012). Apesar da conquista de grande importância, a premiação das meninas não chegou a 1% do valor arrecado pela equipe campeã da Copa Libertadores pelo lado masculino, o River Plate. Enquanto os homens arrecadaram US$ 5,3 milhões, para as mulheres o valor destinado foi de apenas US$ 20 mil.

Vale ressaltar que a equipe de Araraquara foi campeã da Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro de 2014, o que deu vaga para a disputa de sua primeira Copa Libertadores. Com 13 gols feitos e apenas 1 gol sofrido as Guerreiras Grenás fizeram jus ao apelido, superando as adversidades estruturais da modalidade, além da competitividade junto a outras atletas e equipes. As Guerreiras foram recebidas com festa em Araraquara e mais uma vez colocaram seu nome na história do futebol de mulheres do Brasil, ainda assim, permanecem invisibilizadas pela mídia.

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Ayllu Acosta

Graduanda em Educação Física na UFRGS. Integrante do Grupo de Estudos sobre Esporte, Cultura e História (GRECCO) e do Centro de Memória do Esporte (CEME).

Luiza Loy Bertoli

Graduanda em Educação Física - UFRGS. Integrante da equipe do Centro de Memória do Esporte (CEME). Integrande do Grupo de Estudos em Esporte, Cultura e História (GRECCO).

Como citar

ACOSTA, Ayllu; BERTOLI, Luiza Loy. A América é das Guerreiras Grenás!. Ludopédio, São Paulo, v. 77, n. 13, 2015.
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