Esse texto vem como réplica (através de minhas próximas reflexões e fontes diversas de blogueiros da grande mídia e mídia alternativa) às exaustivas repercussões dos 30 anos de Neymar através de uma série de Netflix de ampla divulgação. Com um aniversário no início de fevereiro, ainda no final do mês ele declarou pouca ambição profissional ao pretender jogar na MLS dos Estados Unidos pelo motivo que as férias são maiores! Alguns blogueiros, como Menon e Juca Kfouri, mencionam a crítica dessa série ser uma previsível “chapa branca” por pouco ter de espontâneo na relação de Neymar com seu pai. E sobretudo por reforçar o tão incomodo tema da falta de amadurecimento por traz das várias polêmicas e decisões mal tomadas que se envolve. E deixam um questionamento ainda maior de como vai ser quando acordar desse mundo de faz de contas… Como premissa, evidente que o hiper-individualismo caminha lado a lado com a despolitização.(Obs: assim como PVC menciona que o próprio Neymar dificilmente consegue sair da própria narrativa por declarar nessa série ser visto como Batman pela família, mas como Coringa pelo restante do Brasil!).

Vide como breve nota de conjuntura ao longo de 2022. Sendo a mais recente, em plena pré-temporada em julho, que se jogou na área para simular um pênalti e depois foi debater na internet como se “quem nunca chutou uma bola” não pudesse criticá-lo. Cerca de um mês após o aniversário, em março, houve um episódio sintomático de uma ampla vaia pela torcida do PSG a ele e a vários medalhões dentro e fora de campo do “resort de estrelas” do clube, em um sinal que a trajetória de 5 anos tende a ir do salvacionismo à descartabilidade. Logo depois em outro episódio, também em março, ainda mais sintomático, e muito bem analisado no fragmento abaixo, pelo qual o provocador Neymar (e sempre defendido por isso) acabou sendo um provocado por um adversário e que não aceitou provar seu próprio veneno! Se já não fosse pouco, o trecho é uma réplica demolidora ao principal “mimimi” de Neymar, seu pai, staff e “puxa-sacos” desde o início de carreira como se houvesse uma “caça contra o talento”:
Acrescento que é fácil criticar apenas Neymar, mas é preciso ir além e criticar também grande parte da mídia esportiva em seu conjunto de jornalistas profissionais e ex-jogadores comentaristas. Pois com frequência sua audiência vive de espasmos cíclicos: detonam Neymar com razão em um escândalo, quando fazem a sua encenação indignada de “até quando?” a espera do próximo escândalo. Mas logo que se abaixa a poeira estão novamente levantando polêmicas vazias como “rankings” na pretensão de fazer Neymar ultrapassar algum grande craque do passado no futebol brasileiro, afinal essa imprensa “pachequista” precisa sustentar a imortalidade desse tal “futebol-arte” (e de “meninos” que nunca amadurecem). Tal qual a infame capa da revista Placar, no início de 2019, comemorando seus 10 anos de profissional. (Obs: No início de carreira o repertório de críticas era apenas dentro de campo com um estilo de jogo individualista e excesso de simulações de faltas. Vide a pérola do treinador adversário Renê Simões: “estamos criando um monstro”. Mas logo o fora de campo foi ficando também exposto a cabelos, tatuagens e affairs). E mais infame ainda ser na época que seu pai desabafou que existe um “sistema socialista de futebol” em que seu filho deveria aceitar apanhar calado, pois supostamente não pode haver espaço ao talento individual!
Vejo esse ambiente midiático como simulacro de identificação, pois a perda da autenticidade é o que se cobra por tratar a tudo e a todos como descartáveis. Simulacro, pois nos momentos de baixa nem mesmo seus próprios fãs conseguem distinguir o que há de autêntico diante da trégua e super-proteção às críticas. Seja por parte de vários jornalistas e principalmente comissão técnica após a derrota para a Bélgica na Copa de 2018 com o seu o infame “não é fácil ser o menino Ney…”. Naquele episódio (o qual remete o fragmento acima) não liderou a seleção brasileira como se esperava e pior ainda ficou marcado mais do que nunca por ser “cai-cai”. Nem mesmo sua experiência em campo o permite ter autonomia fora dele para encarar situações de pressão como seria em uma entrevista coletiva, mas ao invés disso se esconde atrás de postagens no Instagram e até novos comerciais com seus patrocinadores para tentar capitalizar algum sentimento tão vago de “superação” que soa oportunista. O que faz parecer que nesse roteiro os personagens nunca defrontarão a dureza do mundo real fora da blindagem midiática com seu entretenimento sem fim. Afinal, após se inserir tantas camadas de imagens fica difícil acreditar no caminho oposto “forçado” de resgatar e mostrar o suposto ser humano que ainda esteja embaixo delas.
De lá para cá a pandemia de 2020 e 2021 parece ter escancarado ainda mais o profundo individualismo ao pouco se importar com problemas sociais e políticos e sequer com a mais mínima solidariedade coletiva. Pelo contrário, foram várias as acusações de torneios de pôquer e festas privadas luxuosas (nada muito diferente do descaso da maior parte da boleiragem e de jovens ricos em geral no restante da sociedade) e com o detalhe da proibição do uso de celulares pelos convidados. E nesse ponto é preciso ser repudiado qualquer relativismo do tipo: “mas quem não faria o mesmo!?”. Destaque a algumas críticas mais frontais de Casagrande dele não se importar com ninguém e até de Trajano dele ser mau caráter e mimado.
Nos últimos meses nem mesmo um lugar cheio de parsas e bajuladores como a seleção brasileira parece ser uma zona de conforto suficiente. Pois mesmo em partidas triviais e tediosas das Eliminatórias o repertório de críticas que recebe foram ainda maiores: desde não ter mais o protagonismo da equipe dentro de campo, a até estar fora de forma com a barriga apertada na camisa, forçar cartões infantilmente para ganhar folgas e até fora de campo com desabafo de pedir um vago “respeito” e não saber se ainda quer jogar futebol…Vide a réplica no trecho a seguir:
Se isso já não fosse pouco, nessa retrospectiva informal ainda cabe um hostil rompimento com a patrocinadora Nike e uma investigação de abuso sexual a uma mulher, chegando ao absurdo do “staff” de Neymar manipular a narrativa para lhe ofuscar o papel de vítima em proveito próprio! (Obs: esse caso em meados de 2021 faz recordar o tão polêmico caso de um suposto estupro e agressão, embora depois descartados pela investigação, a uma mulher em meados de 2019. Caso em que o colunista a seguir com muita lucidez aproxima Neymar pai e Bolsonaro de tratarem crimes como travessuras e com isso “passarem a mão na cabeça” dos filhos. Ou seja, a soma de tantos problemas dentro e fora de campo em 2021 tem como síntese o tão infame “não-manifesto” da seleção brasileira no contexto do início da Copa América revelando toda sua despolitização, mas que aqui não será aprofundado.
(Obs: ao se falar em política não se pode esquecer seu explícito apoio eleitoral a Aécio Neves em 2014 e a Bolsonaro em 2018. E principalmente o complexo tema do racismo. Há dois episódios, também separados por uma década, como referência básica para tratar do tema: em 2010 declarou não ser negro como “justificativa” para não sofrer racismo no Brasil, porém em 2020 chamou a atenção do árbitro para uma acusação de racismo por um adversário na França. A postura de boa parte da opinião pública teve um moderado (ou inocente?) entusiasmo com essa mudança de declarações, como se isso fosse um reflexo mais amplo de uma geração da boleiragem que precisa sair do país para somente assim cair na real e saber que existe racismo. Mas ainda assim insuficiente, pois ainda falta um posicionamento político para lidar com a questão: se ele “ainda” não é negro, que ao menos assuma as consequência disso e não apenas “seja” negro quando lhe for conveniente como vítima. Em outros termos, não é “cobrar sacrifício com o pescoço dos outros”, como costuma dizer Juca Kfouri, mas cobrar um mínimo de coerência nas atitudes individuais e sobretudo o respeito à luta antirracista que não pode passar por oportunismos de uso pessoal).
Ora, para quem tanto se esquiva de política falando sempre que “estou aqui apenas para jogar futebol”, diversas vezes lhe saiu como muito conveniente a situação de ganhar folga por lesão às vésperas de ano novo ou carnaval para curtir a badalação. Ainda mais recorrente desde 2017 quando trocou o Barcelona pelo PSG sob alegação de ser protagonista em um novo desafio (embora para a opinião de muitos isso seja trocar ser coadjuvante de Messi por Mbappé e agora de Messi novamente). Sintomático que na última virada de ano repercutiu na mídia brasileira um desabafo de um ex-jogador francês do clube escancarando toda a falta de profissionalismo de Neymar. Tal recorrência permite questionar de forma mais ampla o “diretor” Leonardo e a propriedade de clube-empresa em que importam muito mais os negócios e o entretenimento do que o esporte propriamente dito. Nas palavras realistas do colunista a seguir, o PSG é um “resort de estrelas”.

O desfecho dessa crônica eu poderia rebatizar de “Neymar e os outros”: pois diante dos outros jogadores ele é a “ponta do iceberg” mais visível da geração sujeita a imensa exposição midiática desde a adolescência dificultando seu amadurecimento como seria com qualquer anônimo de sua idade. Vide também há inúmeros meninos ricos com igual vida de luxúria, porém preservados de críticas públicas por serem anônimos e não estarem em uma atividade de massa como o futebol. Vide também a reflexão profunda que sua construção como jogador é simultânea à construção como marca comercial e midiática, sendo que isso é um processo previsível movido por forças objetivas de uma época e que escapa a decisões pessoais que ele pudesse evitar. Alexandre Pato e Neymar se aproximam quanto a tanta badalação e alienação. E por falar em outros, fora de campo ele não se decide nem se é um obcecado por treinar como Cristiano Ronaldo ou obcecado por badalar como Ronaldinho (e espero que em breve tampouco se torne um obcecado por investir como Ronaldo). E principalmente nem se decide se dentro de campo vai infernizar os adversários como um Edmundo ou se vai se acanhar e choramingar depois como um Kaká! O que definitivamente ele não quer ser é um Adriano (quem recente completou 40 anos) com seu ‘império’ de simplicidade que tanto desafia o esse tal elevador social da boleiragem.
De definitivo mesmo é o fim da espontaneidade (se é que em algum momento existiu) seja fora de campo com a vida pessoal de luxúria ou até mesmo dentro de campo com várias situações discretas, embora sugestivas, em que o personagem parece tomar vida própria diante do jogador. Como várias vezes ao usar suas mãos cobrindo o rosto de um suposto choro, cabe a cada um imaginar se de fato chorou ou não… Vide o gol de pênalti contra a Alemanha nas Olimpíadas em 2016, o gol contra a Costa Rica na Copa do Mundo em 2018 e sobretudo logo após a derrota contra a Argentina na Copa América em 2021 (porém minutos depois já estava às gargalhadas!). Mais surreal a sua versão de “pós-verdade” no contexto da joelhada na coluna vertebral pelo colombiano Zuñiga na Copa do Mundo em 2014, na qual Neymar alegou que poderia perder os movimentos das pernas, porém poucos dias depois já estava caminhando e com uma mochila nas costas! Deixando uma permanente suspeita de cena montada de farsa.
Vide um último fragmento a seguir para desmistificar as várias comparações oportunistas (diante da descontextualização) que se busca de resgatar o “futebol-arte” genuinamente brasileiro ou até a malandragem. Usando os termos anteriores, parece que são elementos que o personagem faz uma cobrança improvável por realizar que apenas atrapalha o jogador.