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Após a derrota fragorosa para a Macedônia do Norte, relembre a trajetória de Joachim Löw no comando da Alemanha

6 de abril de 2021

O técnico anunciou que vai deixar o cargo depois da Euro 2020, que começa em junho; ao longo dos seus 15 anos, Löw levou a Alemanha à conquista da Copa do Mundo

Joaquim Low
Após 15 aos comandando a seleção da Alemanha o técnico se despede após a Euro 2020. Fonte: Wikimedia Commons

A última quarta-feira foi um dos dias mais felizes da história da Macedônia do Norte – um pequeno país de 2 milhões de pessoas na região dos Bálcãs, um dos mais pobres da Europa. O motivo das comemorações foi o melhor resultado da história da seleção macedônia de futebol – uma vitória de 2 a 1 sobre a Alemanha nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022.

Zebras acontecem, e é praticamente impossível que, em um torneio tão longo como as eliminatórias, não aconteça algum resultado inusitado. Para os corajosos, é possível usar o código promocional e apostar em vitórias de Davi contra Golias.

O problema na derrota alemã para a Macedônia do Norte é que ela não foi um caso isolado, mas, sim, mais uma amostra de um declínio que é visível desde 2018. Não por acaso, a derrota ocorreu nos meses finais do técnico Joachim Löw no cargo, e a dois meses e meio do início da Euro 2020 – que vai ser disputada com um ano de atraso por causa da pandemia da covid-19. Em março, Löw anunciou que, após 15 anos, vai deixar o comando da Alemanha depois da Euro.

A trajetória da Alemanha de Joachim Löw

Joachim Löw se tornou autoridade na seleção alemã em 2004, como assistente do então técnico Jürgen Klinsmann – sob o qual a Alemanha ficou em terceiro lugar na Copa de 2006. No torneio, disputado na própria Alemanha, a seleção perdeu a semifinal para a Itália, que seria campeã, e venceu Portugal na disputa pelo bronze.

Depois da Copa de 2006, Klinsmann deixou o comando da Alemanha, e Löw herdou o cargo. Já nos tempos de assistente, Löw representou uma renovação na seleção alemã. Como técnico, estabeleceu um futebol rápido baseado em jovens estrelas. No seu primeiro grande teste, Löw guiou a Alemanha para a final da Euro 2008, que perdeu para a Espanha. Dois anos depois, na Copa de 2010, foi derrotada novamente pela seleção do reino espanhol na semifinal. Ficaria mais uma vez com o bronze, com uma vitória sobre o Uruguai no jogo do terceiro lugar.

Na ocasião, Löw afirmou ao meio-campo espanhol Xavi que aquela Espanha era a melhor seleção que Löw já vira. A partir daí, o técnico alemão passou a usar a Espanha de 2010 como inspiração para implantar no seu time um modelo que preza pelo toque e pela posse de bola. Assim, Löw ajustou as funções de Toni Kroos, que virou a versão alemã de Xavi, e também Bastian Schweinsteiger, Sami Khedira, Thomas Müller e Miroslav Klose.

Esse modelo levou a Alemanha a aplastar o Brasil na semifinal da Copa de 2014, em plena Belo Horizonte, e a vencer a Argentina na final. Löw ainda conquistaria chegar à semifinal da Euro 2016, quando perdeu para a França, e o título da Copa das Confederações de 2017.

A Alemanha cambaleia

A partir de 2018, nos amistosos que antecederam a Copa da Rússia, as coisas começaram a desandar. A Alemanha perdeu amistosos para a Áustria e o Brasil. No Mundial, estreou perdendo para o México. Uma derrota estrondosa para a Coreia do Sul, por 2 a 0, deixou a seleção de Löw em último lugar no grupo F.

No ano seguinte, a Alemanha foi rebaixada na Liga das Nações da Uefa – o campeonato anual de seleções criado em 2018 para substituir os amistosos. O time ficou em último lugar em um grupo com Países Baixos e França, sem vitória alguma em quatro jogos. Mas a Uefa mudou o regulamento da competição e evitou que a Alemanha caísse para a divisão B.

Após passar a maior parte de 2020 sem grandes manchetes, a seleção alemã voltou a passar vergonha em novembro com uma derrota de 6 a 0 para a Espanha. E, agora, a queda diante da Macedônia do Norte – foi a primeira vez que a Alemanha perdeu um jogo das eliminatórias da Copa desde 2001.

A Euro 2020 no horizonte

Provavelmente, o declínio alemão ainda vai chegar a um ápice na Euro 2020, que começa em junho. A seleção caiu justamente no grupo F, o grupo da morte, com a campeã mundial França, a campeã europeia Portugal e a Hungria. Se o desastre de fato acontecer na Euro, vai ser uma despedida dura para Löw.

Depois de descartar, nos últimos anos, nomes como Müller, Mesut Özil, Mats Hummels e Jérôme Boateng para encher a seleção de jovens, Löw parece ter admitido que a estratégia falhou. “A realidade é que a pandemia nos privou de quase um ano de preparação. Agora, podemos perguntar se não devemos interromper essa renovação, em caso de que seja absolutamente necessário. Müller cumpre o perfil de requisitos para o campeonato europeu”, disse o técnico neste ano.

Ainda não se sabe qual será a convocação para a Euro, a última da carreira de Löw, mas a pressão para que ele escale Müller é cada vez maior. Porém, não dá para esperar que o jogador de 31 anos carregue a Alemanha nas costas no grupo da morte do campeonato europeu. A escalação de Müller, se se concretizar, vai representar uma tentativa desesperada de Löw de salvar o seu legado.

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Como citar

, . Após a derrota fragorosa para a Macedônia do Norte, relembre a trajetória de Joachim Löw no comando da Alemanha. Ludopédio, São Paulo, , 2021.
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