31.6

Apresentação “A Rainha de Chuteiras”

Marcos Alvito 20 de janeiro de 2012

Até hoje me lembro dela. Era uma caixinha de papelão branco. Na tampa, eu havia recortado e colado uma foto da seleção inglesa pisando o solo sagrado de Wembley. Lá dentro, meus craques de galalite, o material com que eram feitos os times de botão naquela época. Muita atenção para o número 7, o diabólico ponta-direita Kevin Keegan. Eu devia ter uns doze anos e sonhava com o futebol inglês. Claro que gostava do futebol brasileiro e também tinha outro time com a seleção de 70. Destaque para Tostão, um botão amarelado e mais alto do que os outros mas que gostava de fazer gols de longe. Mas o futebol da terra da rainha não me saía da cabeça.

O tempo passou, os botões ficaram guardados na caixinha. Eu me formei em História, tornei-me professor universitário e doutor em Antropologia. Em 2005 comecei uma pesquisa chamada “A paixão vigiada”. Seu objetivo era comparar o policiamento de torcedores no Brasil e… adivinhem?  Na Inglaterra. Afinal os ingleses tinham enfrentado e aparentemente resolvido o problema dos “hooligans”. Fiz dois anos de pesquisa no Brasil e em julho de 2007 fui para a Inglaterra passar um ano. A pesquisa me “obrigou” a assistir jogos de todo o tipo, desde Liverpool x Arsenal até partidas da 8a. ou 9a. divisões. Assisti jogos da Champions League, da FA Cup e do Campeonato Escocês. Acompanhei até mesmo as aventuras de um time de futebol feminino. Entrevistei policiais e torcedores, fui com ambos a jogos no frio, na chuva e até na neve.

Este livro é um relato daquele ano maravilhoso na forma de pequenas crônicas, sobre os hooligans, sobre os fanzines, sobre os clubes semi-profissionais, sobre projetos educacionais utilizando o futebol, sobre a atuação da polícia, as grandes rivalidades e por aí vai. Enfim, é um livro sobre a cultura do futebol inglês. Há também uma ou duas crônicas sobre outras paixões inglesas: as apostas, o rugby, o cricket… Sempre em um enfoque antropológico e bem humorado.

O leitor também vai ganhar oito “faixas bônus” com  uma breve história do futebol inglês, das batalhas campais da Idade Média até a Premier League. É por aqui que começamos o nosso A Rainha de Chuteiras – um ano de futebol na Inglaterra.

Agradecimentos

Teria que agradecer a muita gente, desde o zeloso conservador dos gramados impecáveis da terra da rainha até o torcedor que ainda insiste em estar presente e em participar desta festa-guerra chamada futebol. Teria que agradecer aos aldeões de séculos atrás por persistirem no jogo apesar das proibições e perseguições. Teria que agradecer aos animais que deram suas vidas pela bola, ou melhor, viram-se transformados nela. Seriam tantos os agradecimentos que o leitor não os leria.

Portanto, prefiro agradecer mais diretamente àqueles que permitiram não a existência do futebol mas deste modesto livro. Primeiramente gostaria de agradecer aos meus alunos da Universidade Federal Fluminense, com quem gosto de estar e aprender há 28 prazerosos anos. Depois aos meus colegas de departamento, que autorizaram a minha pesquisa, e à CAPES que a financiou. Vai aqui um agradecimento especial ao meu mestre e amigo Luiz Carlos Soares que em um momento de dificuldades burocráticas resolveu o problema com um passe de mágica, daqueles que colocam o atacante na cara do gol.

Flávio Amieiro, Isabella Trindade e Natasha Correa Lima foram entusiasmados companheiros da primeira parte da pesquisa “A paixão vigiada: o policiamento dos estádios no Brasil e na Inglaterra”. Com eles aprendi mais do que ensinei. Posso dizer que nos divertimos bastante, mesmo naquele dia em que tivemos que correr da polícia em frente ao Maracanã.

Marcelo Badaró, querido amigo e colega da UFF, além de impecável rubro-negro, apoiou este trabalho em um momento difícil. O mesmo o fez meu querido Flavio Pinheiro, este gentleman britânico nascido nos trópicos. O também alvinegro (ninguém é perfeito) Fernando Molica, criou uma oportunidade de ouro para a publicação, que não aproveitei, perna-de-pau que sou. Ao menos serviu para fortalecer nossa amizade, pelo que agradeço aos deuses. O craque Mario Sergio Conti pegou uma colcha de retalhos e transformou em um belo artigo na revista Piauí, primeiro resultado deste trabalho. Ao também jornalista e poeta Julio Ludemir, agradeço por sua amizade, o que não é pouco.

Desde 2005 que me beneficio largamente do convívio intelectual com a turma do bolinho de bacalhau e do pastel de siri, também conhecida como Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Esporte e Sociedade. Com amizade e calçados com as sandálias da humildade, juntos fizemos um núcleo de pesquisa aberto ao debate, uma revista internacional e desfrutamos de muitas, muitas tardes inesquecíveis na UFF e na nossa sede social, o Caneco Gelado do Mário, no centro de Niterói. Sem falar nas esmagadoras vitórias do invencível time do NEPESS. Entenderão se lhes homenageio na figura da nossa craque maior, pioneira dos estudos de futebol no Brasil e inspiração para todos, nossa querida Simoni Lahud.

Minha amada mestra, Maria Lucia Aparecida Montes, foi quem me apresentou às maravilhas da antropologia, como estar entre os seres humanos, tentar entender como vivem e que significados atribuem a suas vidas. Em cada palavra (boa) que escrevo, seu olhar generoso está presente. Beijo nos gatinhos (daqueles que fazem miau).

Uma vez na Inglaterra, Tia Wyn nos acolheu em sua casa por um mês em uma aldeia adorável, mas não tão adorável quanto ela, exemplo de generosidade e humanidade. Toda a sua família também nos acolheu com carinho e amor. A eles agradeço de coração. John Williams, da University of Leicester, exemplo de trabalhador intelectual especializado no campo do futebol, recebeu-me como colega e me deu todas as condições de trabalho, além de me levar a dois inesquecíveis jogos do Liverpool e de me apresentar ao pessoal do seu pub preferido. Manda um abraço pra eles, John!

Também devo agradecer a tantos torcedores que me ensinaram tanto e aos policiais ingleses que com o estoicismo habitual e muita gentileza, permitiram que eu observasse diretamente o seu trabalho. Agradeço ao meu clube na Inglaterra, o glorioso Oxford United, naquele momento na não tão gloriosa 5a. divisão. Go Yellows! E à rapaziada do FC United e a meu amigo Adam Brown, exemplo de resistência ao processo de elitização do futebol inglês. Na Inglaterra, os Rebels são meu segundo time.

Sérgio Settani Giglio e Max Rocha, do Ludopédio, o melhor site de futebol-cabeça do mundo, gentilmente toparam publicar meu alfarrábio e o estão fazendo com a competência habitual. Graças a eles posso dividir estes pensamentos com você, caro leitor.

Minha família é o meu solo. Agradeço primeiro a meu pai, sempre vivo na minha memória, que me ensinou a ser Flamengo e me levou a meu primeiro jogo no saudoso Maraca que não existe mais. A minha mãe amada, Fernanda, à Nanda, minha maninha inigualável e sua família, ou melhor, nossa família: Bernardo, filósofo e bom tocador de surdo, Inezinha capixaba tão amada e Nana bacana, a última a chegar no pedaço e já amada por todos.

A Theresa Denise Williamson agradeço por todos os momentos que passamos juntos, pela alegria e pelo sofrimento, pois Sófocles dizia que há que sofrer para compreender. Sem ela, não haveria este livro e mais, não haveria um dos grandes amores da minha vida junto com meu filho Heitor, a nossa linda, encantadora, absolutamente fascinante Kay. Gostaria portanto de dedicar este relato das aventuras de um ano inesquecível a estes três que comigo compartilharam e deram sentido a este momento iluminado da minha vida.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Marcos Alvito

Professor universitário alforriado. Escritor aprendiz. Observador de pássaros principiante. Apaixonado por literatura e futebol. Tenho livros sobre Grécia antiga, favela, cidadania, samba e até sobre futebol: A Rainha de chuteiras: um ano de futebol na Inglaterra. O meu café é sem açúcar, por favor.

Como citar

ALVITO, Marcos. Apresentação “A Rainha de Chuteiras”. Ludopédio, São Paulo, v. 31, n. 6, 2012.
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