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Ariel Holan no Santos: o nome ideal para o momento atual?

Pedro Zan, Felippe Guimarães 1 de março de 2021

A passagem de Cuca no Santos se encerrou no domingo (21/02), após o empate contra o Fluminense, na Vila Belmiro, por 1 a 1, em jogo válido pela 37ª rodada do Brasileirão. A saída já era anunciada, mas por questões pessoais, Cuca pediu para antecipá-la e não encerrar seu contrato, que ia até o final da competição. 

Sua passagem foi “irregular”, mas com certeza marca a história do clube. Evidentemente, Cuca teve muitos méritos em blindar o elenco do conturbadíssimo extra-campo do Santos, garantir que o time não fosse rebaixado, uma possibilidade que, em determinado momento, parecia estar no horizonte, e levar a equipe a uma improvável final de Libertadores. Ao mesmo tempo, a queda precoce na Copa do Brasil para o Ceará em duas atuações fraquíssimas, as decisões no mínimo questionáveis tomadas no jogo mais importante da história do alvinegro praiano em 10 anos (como tirar seu centroavante no final do tempo regulamentar e colocar um LATERAL-DIREITO) e o desempenho irregular no Brasileiro, mas suficiente para uma vaga na Libertadores de 2021 (muito pelo baixo nível técnico desta edição e pelo fato de incríveis OITO times terem acesso à principal competição do continente) tornam a terceira passagem do treinador pela Baixada “ambivalente”, talvez, aos olhos dos torcedores, mas com certeza a sua melhor.

Independentemente disso, Cuca não será o treinador em uma temporada que será complicada. Além de o fato de ela ser praticamente uma continuidade de 2020, já que, dois dias após o final do Brasileirão o Campeonato Paulista já começará, a nova diretoria de Andrés Rueda já anunciou que o Santos terá um 2021 de elenco curto, com pouquíssimas, ou quase nenhuma, contratação, buscando se reestruturar financeiramente e dependendo, mais uma vez, dos Meninos da Vila™ (a única instituição que funciona neste país). Faltava um treinador para tentar tirar algo desse “quase nada”. Pensando em um nome barato, capaz de usar a base e que pudesse evitar, pelo menos, o pior, a diretoria cogitou diversos nomes, como Tiago Nunes, Lisca Doido e até alguns mais “esdrúxulos”, como Marcelo Cabo e Thiago Larghi. Contudo, a solução veio, mais uma vez, da Argentina.

Ariel Holan
Ariel Holan. Foto: Reprodução Twitter

Já na segunda-feira, após a confirmação da vaga na Libertadores, o Santos anunciou Ariel Holan, de 60 anos, como o novo treinador. Holan e sua comissão são, de fato, mais caros do que Cuca, fugindo um pouco do que pretendia a diretoria, mas é um investimento que vale a pena. Sejamos honestos, antes um treinador bom com um elenco curto e recheado de jovens da base do que um treinador “mais ou menos” que tenha recursos para montar um elenco mais experiente, mas repleto de Jeans Motas e Laércios.

Holan nunca foi jogador e não teve relação direta com o esporte, para além da paixão, até seus 40 anos. Inicialmente, se tornou treinador de hóquei de grama, onde desenvolveu um interesse por estatísticas e análises de desempenho, sempre aliado à tecnologia e a muito estudo, o que ele acabou levando para o futebol. Começou a trabalhar no esporte como analista de vídeo e só se tornou treinador com mais de 50 anos, comandando o Defensa y Justicia e consolidando a equipe na elite argentina. Por conta do bom desempenho, foi contratado pelo gigante Independiente, onde se sagrou campeão da Copa Sul-Americana de 2017 em cima do Flamengo e esteve presente na fatídica disputa de oitavas de final da Libertadores de 2018 contra o Santos, aquela do “caso Sánchez”.

Vale ressaltar, também, que Holan não é um alvo novo do Santos. Antes mesmo da chegada de Sampaoli ao clube em 2019, a diretoria já havia consultado o treinador e, após o final daquela temporada, foi um dos primeiros nomes que Peres contatou para substituir o atual ex-treinador do Atlético Mineiro. Porém, Holan preferiu ir ao Chile para comandar a bicampeã Universidad Católica – e foi muito bem. Em sua primeira e única temporada no clube, o argentino conseguiu o tricampeonato chileno. Na Libertadores, acabou não avançando para as oitavas de final no “grupo da morte”, que contava com Internacional, Grêmio e América de Cali, mas venceu as duas equipes brasileiras jogando em casa. Na Sul-Americana, acabou caindo nas quartas para o Vélez Sarsfield, muito por conta do desfalque de seu principal artilheiro, Fernando Zampedri (baita jogador, diga-se de passagem) por conta da covid-19. Contudo, talvez o que mais chame a atenção para os interesses do Santos é o fato de Holan ter sido responsável por lançar vários garotos da base dos Cruzados ao time principal, que vieram a se tornar peças importantes para a equipe campeã. O treinador sempre reiterou que tem grande interesse na formação de atletas para o clube, o que pode ser visto em todos os seus trabalhos.

Holan se mostrou um treinador estudioso nos últimos anos, com um estilo de jogo mais veloz, ofensivo, do jeito que o torcedor santista gosta de ver. Mostra que sabe trabalhar em times com menor poderio financeiro e em crise, como foi em Avellaneda, e está aberto a utilizar ao máximo garotos da base no time principal. Ele chegará com um contrato de 3 anos, o que quase nunca é cumprido no futebol brasileiro, mas que indica que a atual diretoria tem, pelo menos, a pretensão de buscar um trabalho a longo prazo. Claro que é sempre bom segurar um pouco as “expectativas”, vide o caso de Jesualdo Ferreira, mas o torcedor santista pode sim, apesar do momento ruim no extracampo do clube, sonhar com um Santos mais forte e mais competitivo, talvez não só em 2021 como nos anos que virão – e é sempre bom sonhar. A verdade é que, considerando sua trajetória até agora, Holan parece ser o nome ideal para o time no momento atual

Ariel Holan
Ariel Holan, campeão em 2021. Foto: Reprodução Twitter

Vejamos como o treinador lidará com o início totalmente maluco da temporada. Holan chega na Vila Belmiro apenas no sábado, dia 27/02, e não comandará a equipe nas duas primeiras rodadas contra Santo André (28/02) e Ferroviária (03/03) – Marcelo Fernandes, o presuntinho, será o responsável por “ministrar” essas partidas com o time reserva. Com pouquíssimo tempo de treino, o argentino estará na beira do campo já no primeiro clássico do campeonato, contra o São Paulo (06/03) e, apenas TRÊS DIAS depois, já terá que que disputar a 2ª fase da Libertadores contra o Deportivo Lara, na Vila Belmiro. Por isso, é preciso também paciência com o comandante no início dos campeonatos, mas com a segurança, ou esperança, de que, com tempo e no futuro, é possível, sim, esperar uma boa temporada da equipe. A ver, mas as perspectivas são boas para o time, pelo menos dentro de campo.


** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Pedro Zan

Quase formado em Filosofia na Unicamp, mas bom mesmo é falar de futebol. Santista desde sempre, também tenho um podcast, "Os Acréscimos", e sou um dos administradores da página "Antigas Fotos do Futebol Brasileiro".

Felippe Guimarães

Graduando em educação física, santista da gema desde 1996.

Como citar

ZAN, Pedro; GUIMARãES, Felippe. Ariel Holan no Santos: o nome ideal para o momento atual?. Ludopédio, São Paulo, v. 141, n. 1, 2021.
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