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Baianão de volta à TVE e com muita oferta na internet

Anderson David Gomes dos Santos 2 de março de 2021

Dos estaduais com contratos com o Grupo Globo ou afiliadas, o Baianão era o com contrato mais perto de acabar, com última transmissão em 2020. No mesmo dia em que iniciou, 17 de fevereiro, o campeonato teve o seu modelo contratual definido: transmissão em TV público-estatal e liberação para exibição por plataforma digital das equipes.

TVE
Fonte: Reprodução TVE Bahia (Youtube)

Histórico

Não é a primeira vez que a TVE vai exibir o torneio. A emissora público-estatal foi a primeira em TV aberta, em 2004. Antes de avaliar a importância desse conteúdo para esse tipo de emissora, é relevante resgatar o histórico.

Segundo Brito (2019), a primeira transmissão audiovisual do campeonato foi do Sportv, em 1997, num contrato de 5 anos. Não houve renovação para 2003, primeiro ano dos pontos corridos na Série A do Brasileiro, modificando o calendário do futebol nacional.

Após dois anos sem exibição, a direção da TVE fez um acordo foi de comodato com os clubes. A cessão gratuita serviria para mostrar a importância do produto. É necessário destacar ainda que, conforme Brito (2019), o Governo do Estado injetava recursos nos clubes locais a partir da campanha “Sua Nota é um Show”, existente desde 1999 e que em 2004 distribuiu R$ 3,4 milhões para os clubes.

Em 2005, o torneio voltou para a Globosat, mas apenas pelo pay-per-view, custando R$ 50 por partida. Brito (2019) afirma que o acordo tardio, em comparação com outros estaduais, fez com que as partidas do Baianão fossem para horários alternativos. Bahia e Vitória viviam um momento de crise, disputando a Série B nacional em 2005, caindo para a C no ano seguinte.

A ida, em 2006, para a TVE e para a TV Salvador (UHF da Rede Bahia) foi sem um contrato específico. Porém, a transmissão das edições de 2004 e 2006 pela TVE chamou a atenção da Record, num momento de concorrência com a Globo pelas transmissões esportivas, após não renovar o acordo de sub-licenciamento de alguns torneios, em 2007.

A emissora ofereceu mais por Paulistão, Carioca e Copa do Mundo FIFA, mas não levou por causa das relações estabelecidas pela concorrente. Mas ficou com os Jogos Olímpicos e Pan-Americanos, Liga dos Campeões da Europa e Eurocopa (SANTOS; ROCHA, 2014).

Apostou em outros estaduais num momento de crescimento de afiliadas – derrubando contratos de rede de SBT e Band –, com flexibilidade de grade. Os grandes destaques, com reprodução na Record News, foram o Catarinense e o Baianão.

Acabados os contratos, o Grupo Globo e suas afiliadas passaram a adquirir os direitos de transmissão dos torneios. Foi o caso do Campeonato Baiano, que passou a ser transmitido pela Rede Bahia a partir de 2011.

Porém, no final da década a Globo já sinalizava que não tinha tanto interesse em manter as transmissões dos estaduais. O objetivo era reforçar os torneios mais relevantes (Série A, Copa do Brasil e sul-americanos). Além disso, houve reposicionamento de atuação do grupo, cada vez mais direcionado para distintas plataformas, com diminuição do peso da TV aberta e aumento da plataforma Globoplay.

Os efeitos econômicos da pandemia aceleram a redução de investimentos em direitos de transmissão, com tentativas de negociação com a FIFA e a Libertadores em pagamentos vigentes e a FIA (renovação da Fórmula 1). Nos dois últimos casos os direitos foram para outras empresas.

O desinteresse da Rede Bahia nos direitos do Baianão também pode ser considerado reflexo desse contexto.

TVE
Fonte: Site da TVE

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Serão 25 jogos exibidos pela TVE, também por Youtube e Facebook, o dobro do contrato anterior – que, porém, contava ainda com transmissões no Sportv e no Premiere FC.

A TVE era parceira da Federação Baiana de Futebol na transmissão de diferentes torneios desde 2016, reforçando a parceria com o estadual profissional. O valor comentado na mídia especializada é de cerca de R$ 3 milhões – maior do que o contrato anterior.

Importante ressaltar, como já presente em diferentes momentos da pesquisa sobre comunicação pública no Brasil, que há limite de captação de publicidade para TVs não comerciais no país, barreira mantida para evitar a possibilidade de maior concorrência.

Dada a importância do programa midiático futebol, especialmente numa temporada que inicia sem a possibilidade de público nos estádios, a transmissão pode alavancar a audiência da TVE na TV aberta e nas mídias sociais. Se bem publicizado, pode levar público também para outros programas da grade.

Novo modelo

Desde o ano passado, o Bahia prometia aproveitar a brecha do final do contrato do estadual para testar um modelo de exibição para sócios. A publicação da Medida Provisória do Mandante (MP 984/2020) acentuou essa opção.

O Bahia é um dos clubes com contrato com a Turner para transmissão da Série A em TV fechada. Dentre os resultados da resolução de conflitos, definida em agosto do ano passado, está a possibilidade do contrato ser rompido após a edição de 2021 do torneio nacional.

Assim, 2021 se mostra como um ano fundamental, ao menos para esses clubes, para testar diferentes tipos de acordos/formas de transmissão paga – algo que o Athletico já faz desde o Paranaense do ano passado, repetindo na Série A.

O contrato da TVE com os clubes da Bahia permite a transmissão das partidas por plataformas digitais próprias. O Bahia utilizará para isso o Sócio Digital, cuja assinatura mensal é de R$ 7,90 para associados/as e R$ 9,90 para as demais pessoas. Em 2022, a plataforma terá a exclusividade dos jogos do clube na internet.

Seguindo essa abertura contratual, outros clubes do torneio também anunciaram transmissão paga. O Vitória tem acordo com o Nordeste FC, plataforma criada em 2019 para transmitir a Copa do Nordeste. O valor distribuído pelo ppv no torneio é feito a partir da identificação clubista no ato da assinatura. O clube montou uma promoção para dar acesso gratuito a sócias/os em dia.

A dupla BaVi deve ter todos os jogos transmitidos pela TVE Bahia. Não pude acompanhar se as transmissões do Sócio Digital foram de geração própria, com narração cobrindo ou apenas retransmissão, como a que vi no primeiro jogo do Vitória no Nordeste FC – e também nos canais de clubes que exibiram os jogos.

O Jacuipense, que disputa a Série C do Brasileiro, também anunciou que deve cobrar pela TV Jacupa, no Youtube, algo que ainda não aconteceu nas duas primeiras rodadas.

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Fonte: Reprodução TV Unirb (Youtube)

Possíveis problemas

Para além da narração, a diferença na geração é importante também pelo atraso. Do que acompanhei, há um atraso dos canais próprios em relação à transmissão principal, que também é de acesso gratuito. Para as partidas não exibidas pela licenciadora do torneio, não é um problema, mas exigirá investimento.

Por fim, repito crítica rotineira sobre a divisão de receitas de plataformas digitais. Ainda que neste caso o valor fixo seja até maior do que o contrato anterior, é preciso considerar que o modelo de distribuição de cotas segue o mesmo, com Bahia e Vitória ganhando de 6 a 7 vezes mais que os demais.

Sem o tamanho da torcida da dupla da capital, os outros clubes terão menos possibilidades de buscar essa receita extra e, os que conseguirem investir, de arrecadar algo próximo.

A melhor alternativa seria uma plataforma única ou que a administração de todas fosse centralizada, diminuindo custos de investimento e, principalmente, com divisão de receitas com critérios mais justos – que não seria igualitária, necessariamente. Com diferença de valores, a de competitividade em campo deve aumentar.

 

Referências

BRITO, G. S. de. O Baianão e a televisão: A história das transmissões televisivas do Campeonato Baiano de Futebol. 49 f. 2019. Monografia (Graduação em Comunicação Social – Produção em Comunicação e Cultura) – Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2019.

SANTOS, A. D. G.; ROCHA, B. L. Globo vs. Record: como a disputa pelo Brasileirão acirrou a briga no oligopólio midiático nacional. In: BRITTOS, V. C; KALIKOSKE, A. (Org.). Economia Política das Indústrias Culturais: Comunicação, Audiovisual e Tecnologia. Porto: Media XXI, 2012. p. 337-356.


** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Anderson Santos

Professor da UFAL. Doutorando em Comunicação na UnB. Autor do livro "Os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de Futebol" (Aprris, 2019).

Como citar

SANTOS, Anderson David Gomes dos. Baianão de volta à TVE e com muita oferta na internet. Ludopédio, São Paulo, v. 141, n. 4, 2021.
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