146.32

Brincando no Museu Brasileiro do Futebol

Dentre as ações realizadas pela equipe de Educadores do Museu Brasileiro do Futebol (MBF) do Estádio Mineirão[1], pode ser destacado o projeto “Estúdio MBF”. Tal projeto oferecia uma série de oficinas e atividades, atendendo crianças no período das férias escolares [2]. Neste artigo irei dar foco para as oficinas denominadas “Brincando no Museu” e “Ateliê Esportivo”. Certamente, ambas as ações tiveram um caráter lúdico, didático e educacional, com a potencialidade de ampliar a visão sobre o futebol e sua relação com a cultura, as artes e as interações sociais.

Brincando no Museu Brasileiro do Futebol
Fonte: Acervo do Museu Brasileiro do Futebol/ Imagem disponível na página do Facebook do MBF

Na oficina “Brincando no Museu” os participantes exploravam todas as salas do Museu Brasileiro do Futebol a partir de brincadeiras desenvolvidas pelos Educadores. Destaco a dinâmica que era praticada na sala denominada “Campo Gerais”, um espaço totalmente dedicado ao futebol mineiro. Nesse ambiente encontra-se placas em bronze cravadas com pés e mãos de jogadores renomados, atletas que fizeram parte da história futebolística de Minas Gerais. A dinâmica realizada nesse local, consistia nas crianças desenharem suas mãos em um pedaço de papel craft. Em seguida, os desenhos de cada participante eram expostos juntamente com as placas que contêm as marcas dos jogadores que fizeram história no futebol mineiro. É interessante destacar o sentimento de pertencimento à história do futebol, assim como ao espaço do museu, que pôde ser gerado por meio dessa simples dinâmica.

Brincando no Museu Brasileiro do Futebol
Fonte: Acervo do Museu Brasileiro do Futebol/ / Imagem disponível na página do Facebook do MBF

Outra brincadeira praticada durante essa oficina era uma versão bastante lúdica de um antigo jogo com bola, o Kemari. Em um dos espaços do museu são apresentados alguns jogos ancestrais de bola praticados ao longo da história da humanidade, sendo possível instigar uma reflexão sobre as origens históricas do futebol, na perspectiva de entendê-lo como esporte e representação cultural (COSTA, 2016). Nesse ambiente pode-se observar ilustrações de algumas práticas realizadas na antiguidade, tais como, o Tsu Chu, o Episkyros, o Soule, o Kemari, entre outros[3].

O Kemari popularizou-se no Japão há mais de mil anos atrás e o objetivo desse jogo era muito simples, manter a bola no ar o maior tempo possível, usando os pés ou qualquer outra parte do corpo que não fosse as mãos (MAYOR; NETO, 2016). Nesse jogo a bola era feita de couro de veado, mas na oficina “Brincando no Museu” foi feita uma pequena adaptação. No MBF o Kemari foi ludicamente praticado com um balão de festa infantil. Assim sendo, de forma criativa e divertida era possibilitada uma interessante partilha de conhecimento relacionada ao futebol e sua perspectiva histórica e sociocultural.

Uma outra brincadeira bastante educativa realizada na oficina “Brincando no Museu” era o “Super Trunfo do Futebol Feminino”, desenvolvido pela Educadora Tábata Ferreira. Foram elaboradas cartas de super trunfo com a imagem de grandes jogadoras da seleção brasileira de futebol feminino. Quando as crianças se deparavam com esse material era interessante observar e problematizar o desconhecimento que elas tinham em relação as atletas representadas nas respectivas cartas do jogo. Em contrapartida, quando questionadas sobre quem eram os jogadores da seleção de futebol masculino, as crianças apontavam vários nomes, até mesmo do técnico.

O “Super Trunfo do Futebol Feminino” certamente possibilitava interessantes reflexões em relação as barreiras enfrentas pelas mulheres na nossa sociedade, inclusive no esporte. É fundamental perceber que ideias construídas social e historicamente em uma sociedade machista contribuíram para a invisibilidade e a falta de apoio ao futebol feminino. Problematizar e refletir questões relativas ao futebol, gênero e sexualidades são essenciais para que haja importantes mudanças comportamentais.

Super Trunfo
Cartas do Super Trunfo do Futebol Feminino produzidas no Museu Brasileiro do Futebol. Fonte: Acervo do Museu Brasileiro do Futebol

Já na oficina denominada de “Ateliê Esportivo”, os participantes eram divididos em times, e tinham que criar coletivamente um nome, um escudo, um uniforme e um grito de incentivo para a equipe do qual eram integrantes. Seguindo essa dinâmica e, tendo os materiais disponibilizados pela equipe do Museu (camisas lisas, tinta e pincel), as crianças confeccionavam juntas o uniforme do time. Feito isso, passavam pelos bastidores do Mineirão. No vestiário, de maneira lúdica e criativa, discutiam todos os detalhes táticos que iriam utilizar na partida que fariam logo mais. Na sala de aquecimento, faziam exercícios de alongamento, polichinelos e os últimos preparativos físicos antes de entrarem em campo. Por fim, os times se enfrentavam, as crianças jogavam futebol, deixando registrado esse momento na memória e na história de cada uma delas, assim como na do Gigante da Pampulha.

Brincando no Museu Brasileiro do Futebol
Fonte: Acervo do Museu Brasileiro do Futebol/ / Imagem disponível na página do Facebook do MBF

Percebe-se que a partir das brincadeiras e sua relação com o espaço do Museu Brasileiro do Futebol estabeleceram-se valiosas experiências de caráter lúdico, didático e emancipatório.

 

Notas

[1] Maiores descrições do Museu Brasileiro do Futebol e de atividades realizadas pelos Educadores desse espaço museal, podem ser encontradas nos seguintes artigos:

FONSECA, Anderton Taynan Rocha. Museu Brasileiro do Futebol: formação humana e profissional a partir de ações didáticas e educativas. Ludopédio, São Paulo, 2021.

FONSECA, Anderton Taynan Rocha. Futebol, Câmera e Ação. Ludopédio, São Paulo, 2021.

[2] Não foi possível encontrar nenhum registro de viés quantitativo que apresentasse informações relacionadas a idade, sexo, gênero, cor ou nível socioeconômico das crianças que participaram desse projeto. Mas sabe-se que a participação ocorria a partir de uma inscrição prévia e de forma gratuita e, que diversas crianças de diferentes classes sociais estiverem presentes nas variadas dinâmicas do “Estúdio MBF”.

[3] Para maiores descrições desses antigos jogos com bola destaco a seguinte referência bibliográfica: MAYOR, S. T. S.; NETO, G. J. S. HISTÓRIA DO FUTEBOL. In: SILVA, S. R.; CORDEIRO, L. B.; CAMPOS, P. A. F. (Orgs.). O Ensino do Futebol: para além da bola rolando. I ed. Rio de Janeiro. Jaguatirica, 2016.

Referências

COSTA, T. C. A EXPOSIÇÃO DO MUSEU BRASILEIRO DO FUTEBOL: ESCRITA DA HISTÓRIA E CULTURA DO ESPORTE. In: II Simpósio Internacional Futebol, Linguagem, Artes, Cultura e Lazer, 2016, Belo Horizonte. Anais do II Simpósio Internacional Futebol, Linguagem, Artes, Cultura e Lazer.

FONSECA, Anderton Taynan Rocha. MUSEU BRASILEIRO DO FUTEBOL: formação humana e profissional a partir de ações didáticas e educativas. Ludopédio, São Paulo, 2021.

FONSECA, Anderton Taynan Rocha. FUTEBOL, CÂMERA E AÇÃO. Ludopédio, São Paulo, 2021.

MAYOR, S. T. S.; NETO, G. J. S. HISTÓRIA DO FUTEBOL. In: SILVA, S. R.; CORDEIRO, L. B.; CAMPOS, P. A. F. (Orgs.). O Ensino do Futebol: para além da bola rolando. I ed. Rio de Janeiro. Jaguatirica, 2016.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
Seja um dos 14 apoiadores do Ludopédio e faça parte desse time! APOIAR AGORA

Anderton Taynan Rocha Fonseca

Licenciado em Educação Física pela Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais (2017). Foi membro do Programa Rede de Museus e espaços de ciência e cultura da UFMG, vinculado ao Centro de Memória da Educação Física, do Esporte e do Lazer, no período de 2015 a 2017. Foi integrante do Programa Educativo do Museu Brasileiro do Futebol de 2017 a 2019. Atua como professor da educação básica na Rede Estadual de Educação de Minas Gerais. Integrante do grupo de pesquisa FULIA - Núcleo de Estudos sobre Futebol, Linguagem e Artes. Doutorando do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer da UFMG.

Como citar

FONSECA, Anderton Taynan Rocha. Brincando no Museu Brasileiro do Futebol. Ludopédio, São Paulo, v. 146, n. 32, 2021.
Leia também:
  • 177.22

    Esporte, lazer e cultura: experiências múltiplas vividas pelos usuários do Centro Cultural São Bernardo

    Scarlleth de Oliveira Souza, Anderton Taynan Rocha Fonseca
  • 158.32

    Novas perspectivas sobre o Museu Brasileiro do Futebol

    Anderton Taynan Rocha Fonseca, Stephanie de Oliveira Souza
  • 152.32

    Reflexões sobre Contos Brasileiros de Futebol

    Anderton Taynan Rocha Fonseca