– Um absurdo.
– Como assim?
– O jogo, um absurdo. A gente veio até aqui, pagou ingresso, enfrentou esse trânsito desgraçado pra quê?
– Foi um jogaço!
– Jogaço? Tinham que devolver o dinheiro…
– Mas foi um jogaço. Três bolas na trave, um pênalti perdido, expulsão, emoção do começo ao fim, um duelo tático. Queria o quê mais?
– Gols, queria gols.
– Ah, mas…
– Não tem “ah, mas…”. Cadê os gols? Zero a zero é o fim da picada.
– Também não é assim.
– Como não? Não podia acabar assim. Zero a zero não tem graça, pô!
– Não quer dizer que foi ruim, oras. Um treinador meteu três zagueiros, o outro povoou o meio e não fosse a troca do volante por outro homem de ataque, ali na metade do segundo tempo, não sei não…
– Cê ganha quanto pra falar tanta asneira? Vou te dar minha mesa de pingue-pongue pra explicar as táticas nela, quer?
– Para com essa chatice…
– Chatice? A Fifa devia mudar a regra, ninguém merece pagar pra ver um jogo sem gols. É pior que tomar um fora! Eles ganham bem demais pra não acertar um chute no gol!
– Tá, e se fosse um a zero pra eles?
– Se a gente perdesse?
– É.
– Pô, ia ser chato, né?
– Então?
– Vai me dizer que cê gosta de um jogo sem gols?
– Gosto de jogos bons…
– Não foi isso que perguntei.
– Tá, prefiro ver gols, óbvio.
– Eu também.
– Então, se tivesse que escolher, preferia perder de um a zero que esse empate sem gols?
– Preferia ter ficado em casa.
– Mas não tem como saber.
– Eu sei.
– Faz parte.
– Não dá, zero a zero não dá.
– Isso porque cê tinha falado que nem liga muito pro campeonato.
– Não começa.
– Calma… Vâmo tomar uma?
– Vâmo, quem convida paga.
– Claro, mas se acalma.
– Precisa ser bem gelada, viu? Prefiro o zero a zero que uma cerveja quente.
– Ok, ok!