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Conhecer para reconhecer: a história de Ivete Gallas

Pamela Joras 13 de julho de 2016

Com o intuito de visibilizar o futebol praticado pelas mulheres no Brasil, no dia 8 de abril de 2015, a Conferência realizada no Museu do Futebol com intitulada “Futebol e Mulheres no Brasil: Conhecer para reconhecer” a professora Silvana Goellner nos convida a refletir como iremos dar o devido reconhecimento e respeito as jogadoras, ex-jogadoras, gestoras, treinadora etc., se nem ao menos conhecemos suas histórias? Nesse sentido utilizo-me da fala Conhecer para reconhecer no título desse texto para trazer uma breve trajetória da ex-jogadora e treinadora Ivete Maria Gallas.

Nascida em 4 de novembro de 1968, no interior da cidade de Montenegro, no Rio Grande do Sul, teve seus primeiros contatos com o futebol através de familiares e amigos, com uma família de 8 irmãos o futebol era a brincadeira favorita. Em entrevista concedida ao Centro de Memória do Esporte Ivete conta que aos 12 anos de idade começa a acompanhar uma de suas irmãs mais velhas aos treinos de futebol da equipe Tanac de Montenegro.

Disputando torneios regionais ela viu seu interesse por futebol crescer a ponto de vislumbrar a modalidade como uma possibilidade de profissão, e logo depois de um amistoso contra o Sport Club Internacional foi convidada a integrar a equipe de Porto Alegre. Nesse período Ivete relata que não havia muitos campeonatos de futebol para mulheres e em razão disso começa a praticar o futsal com o objetivo de competir,

“porque futsal tinham campeonatos, torneios, tinham competições, torneio em Sapucaia, o metropolitano, tinham vários campeonatos e o campo nós não tínhamos competição. Nós queríamos competir, a ideia é crescer competindo…..e no Internacional nós treinávamos muito físico e não tinha quase competição” (GALLAS, 2015, p.01)

Após disputar o Campeonato Brasileiro pelo Inter, decidiu dedicar-se ao futsal e somente no ano de 1993 a Federação Gaúcha de Futebol anuncia a participação da Seleção Gaúcha para disputar o Campeonato Brasileiro, pois nesse período já não havia equipe de futebol de mulheres no Rio Grande do Sul que pudesse representar o estado na competição. Para formar a equipe foi realizada uma peneira no campo suplementar do Estádio Beira-Rio, na disputa entre várias candidatas Ivete foi escolhida para compor a seleção gaúcha.

Após conhecer Romeu Castro no Campeonato Brasileiro de Futsal, recebe o convite para integrar a Equipe do SAAD de São Paulo. Nesse período ela relata que dos campeonatos disputados pela equipe não havia um bom nível de competitividade, “nós treinávamos todos os dias em dois turnos então, fazíamos musculação, e pegava jogadoras que nunca treinavam, nós atropelávamos” (GALLAS, 2015. p. 05).

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Maria Ivete Gallas em entrevista concedida para o projeto Garimpando Memórias (2015). Foto: Pamela Joras / CC BY-NC-SA.

Ao assistir a equipe juvenil do SAAD disputar um campeonato Ivete sugere que disputem torneios de futsal em São Paulo e então passa a comandar a equipe juvenil do SAAD, o trabalho repercutiu de tal forma que ela passou a treinar equipe Infantil e Juvenil e também a auxiliar a equipe adulta na qual jogava.

No ano de 1995 após sofrer uma grave lesão no joelho não conseguia acompanhar o volume de treinamento exigido pelo clube e então oficialmente passa a ser supervisora para em seguida tornar-se auxiliar da equipe principal do SAAD. Ivete conta que 48 atletas ocupavam a chácara do SAAD entre atletas do clube e da seleção brasileira de futebol feminino, que naquele período ocupava as instalações do SAAD da qual Ivete também passou a ser auxiliar do então técnico Zé Duarte.

Já na equipe do São Paulo em 1998, a instabilidade financeira vivenciada no futebol, e com o fechamento de alguns clubes Ivete opta por voltar a Porto Alegre e prestar alguns concursos públicos, não conseguindo se afastar completamente do futebol envolveu-se com a equipe do Grêmio Foot-ball Porto Alegrense e na véspera de disputar o Campeonato Gaúcho de 1999 abandona os gramados para dedicar-se a empresa de transporte público na qual trabalha até os dias de hoje.

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Ivete Gallas como auxiliar do São Paulo Futebol Clube de 1997. Foto: Acervo Pessoal Ivete Maria Gallas.

Em 2005 inesperadamente recebe uma ligação do ex-presidente do SAAD, Romeu Castro, e recebe uma proposta para treinar a seleção de futsal de mulheres do Irã para os IV Jogos Islâmicos, a dificuldade do idioma, as divergências com a auxiliar e a falta de preparador físico não impediu que a equipe sagra-se campeã dos Jogos com placares elásticos contra as demais seleções. Ao retornar a Porto Alegre é reconhecida em sua empresa pelo trabalho que realizou com o futebol e o futsal e é promovida a um cargo administrativo em que trabalha até os dias de hoje.

Ivete Maria Gallas é uma entre tantas mulheres que fizeram e fazem a história do futebol de mulheres no Brasil. Visibilizar e reconhecer suas histórias são além de um ato político e de empoderamento das mulheres por meio do esporte, a inspiração para que continuemos nossas lutas em respeito a modalidade e as pessoas que ajudaram a construí-la.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Pamela Joras

Integrante do CEME/GRECCO. Graduada em Educação Física (UFSM), Mestre em Ciências do Movimento Humano (UFRGS) . Ex-jogadora, árbitra de futebol e embaixadora do Guerreiras Project.

Como citar

JORAS, Pamela. Conhecer para reconhecer: a história de Ivete Gallas. Ludopédio, São Paulo, v. 85, n. 6, 2016.
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