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Copa América 2011 na Argentina: 10 anos depois

Fabio Perina 5 de agosto de 2021

Há exatos 10 anos se encerrava uma marcante edição de Copa América na Argentina com o melhor resultado do longo ciclo de Oscar Tabarez na seleção uruguaia com o título. O país sede vinha de grande pressão no curto prazo pela eliminação para a Alemanha na Copa do Mundo do ano anterior e no longo prazo por quase 2 décadas sem vencer a competição.

Messi Argentina
Messi no jogo de abertura da Copa América 2011: Argentina v. Bolivia. Foto: Wikipédia

2011 com gostinho de 1987: A longa rivalidade entre argentinos e uruguaios ao longo das primeiras décadas do futebol teve alguns novos capítulos recentes. A conquista uruguaia erguendo a taça em solo argentino teve um gosto de ‘deja vu’ a 1987 por algumas repetições de acontecimentos. Primeira edição de Copa América no sistema que predominou nas décadas seguintes de sede única e rotativa para abranger um país de cada vez. Quando o Uruguai (por ser o campeão de 1983) pôde estrear apenas na semifinal vencendo por 1 a 0 a Argentina (atual campeã mundial naquele momento) no Monumental de Nuñez com gol de Alzamendi (por ironia ídolo do River Plate). Em comum entre 1987 e 2011 que foi em ambos os momentos o Uruguai saltou à frente da Argentina como o maior vencedor da competição: 13 taças contra 12 em 1987 e 15 taças contra 14 em 2011. Mais coincidência ainda que em ambos os casos cada país trocou sua cor tradicional de camisa pela suplente: a Argentina trocou a “albiceleste” por azul escuro e o Uruguai trocou a celeste por branco.

Dessa vez em 2011 a eliminação foi nos pênaltis e em outra “cancha”: o famoso “Cementerio de Elefantes” (oficialmente Brigadier Stanislao López) do Colón de Santa Fé—justamente a terra de Messi. Por ironia na eliminação contra o Uruguai quem perdeu o pênalti da eliminação, “atajado” por Muslera, foi Tevez, o “xodó” da torcida e da imprensa naquele momento pela sua forte ligação com a favela “Fuerte Apache”. Em suma, tanto em 1987 como em 2011 a Argentina tinha o melhor jogador do mundo (Maradona e Messi), mas não foi suficiente diante dos uruguaios.

Por falar em estádios, é significativo que se o futebol argentino tradicionalmente esteve com seus títulos e suas principais ‘canchas’ muito concentrados na capital Buenos Aires, dessa vez essa edição do torneio continental refletiu uma regionalização de sua infra-estrutura. No auge do Kirchnerismo, (justamente em 2011 Cristina foi reeleita para 2015) construindo ou reformando várias instalações públicas tendo como motivação não somente essa edição da Copa América como as edições anuais da Copa Argentina sempre com partida única em campo neutro. Foram os casos das sedes de La Plata (nos arredores de Buenos Aires), Córdoba (no centro do país), Salta e Jujuy (no norte) e San Juan e Mendoza (no oeste). O Chile conseguiu exercer sua maioria nas arquibancadas pela coincidência de jogar suas 4 partidas nessas últimas duas províncias fronteiriças a poucas horas de viagem de Santiago.
Já o Brasil, por coincidência assim como na edição de 1987, jogou duas partidas em Córdoba (no estádio que mudou de nome de Chateau Carreras para Mario Kempes após sua reforma) e mais duas em La Plata. Na pífia campanha do treinador Mano Menezes foi eliminado para o Paraguai nos pênaltis sem converter uma única cobrança, perdendo todas as quatro que bateu! Por coincidência o Brasil repetiu exatamente a mesma campanha da Argentina: empate, empate, vitória e por fim empate seguido de derrota nos pênaltis. O Brasil empatou com Venezuela e Paraguai e depois se classificou em seu grupo ao vencer o Equador.
Os donos da casa vinham de uma dura eliminação na Copa do Mundo de 2010 e o novo trabalho do treinador Sergio “Checho” Batista, volante campeão do mundo em 1986, tinha que mostrar resultados já na primeira competição oficial com a pressão de jogar para a própria torcida. Com Aguero e Di Maria em grande fase, naquele momento me recordo dos meios de comunicação relatarem uma bronca com Messi render menos do que se esperava na seleção do que no clube e sequer cantar o hino com vontade. Tanto é que os primeiros empates com Bolívia e Colômbia ameaçaram a classificação, confirmada apenas contra a convidada Costa Rica.

Copa América 2011
Fonte: Wikipédia

Por falar em convidado, o México, quem se acostumou a fazer grandes campanhas em edições anteriores, pela primeira vez levou uma equipe juvenil para priorizar a Copa Oro da Concacaf. Assim como novamente voltaria a fazer em 2015, dando um “passo al costado” para ir se desligando das competições da Conmebol por clubes e por seleções. Isso desequilibrou o grupo C que poderia ser o mais disputado, com o México perdendo todas as partidas para Chile, Peru e Uruguai e com isso se classificando os três sul-americanos.

O balanço das quartas-de-final foi que nos confrontos Argentina x Uruguai, Brasil x Paraguai, Chile x Venezuela e Colômbia x Peru todos os favoritos foram eliminados.

Já nas semifinais as equipes mais tradicionais do Mercosul, Uruguai e Paraguai, eliminaram respectivamente os ‘intrusos’ andinos Peru e Venezuela. (De lá para cá o Peru voltou a ser presença constante em semifinais de Copa América como em seus melhores tempos e a Venezuela fez com essa a sua melhor campanha). O Paraguai confirmou o seu ponto forte de ter uma defesa sólida. E registrou o fato curioso de ser o primeiro finalista de uma Copa América sem vencer uma única partida anterior!

Por coincidência os dois melhores países sul-americanos na Copa do Mundo da Africa do Sul no ano anterior mediram forças na grande decisão. Jogada no dia 24 de julho no Monumental de Nuñez, o Uruguai não tomou conhecimento do Paraguai e goleou por 3 a 0. Com um gol de Suarez e dois de Forlan. Todos em jogadas bem construídas coletivamente como prova do trabalho de Oscar Tabarez naquele momento amadurecer em seu auge não só resultado, mas desempenho também. Por fim, como destaques individuais do torneio: o Uruguai teve o melhor jogador (Suarez) e melhor jogador jovem (Coates) enquanto o Paraguai teve o melhor goleiro (Villar) e o Peru teve o artilheiro (Guerrero).

Luis Suárez
Luis Suárez recebe o prêmio de melhor jogador. Foto: Wikipédia
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Fabio Perina

Palmeirense. Graduado em Ciências Sociais e Educação Física. Ambas pela Unicamp. Nunca admiti ouvir que o futebol "é apenas um jogo sem importância". Sou contra pontos corridos, torcida única e árbitro de vídeo.

Como citar

PERINA, Fabio. Copa América 2011 na Argentina: 10 anos depois. Ludopédio, São Paulo, v. 146, n. 9, 2021.
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