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Copa de 50: uma tragédia contada em seis palcos – (Parte 2)

A história do primeiro Mundial disputado no Brasil a partir dos estádios usados na competição

 

No Mundial do Brasil, a FIFA teve à disposição seis sedes nas cidades de Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo.

Na primeira parte deste artigo, analisei a Copa do Mundo a partir dos estádios dos Eucaliptos, Ilha do Retiro e Pacaembu. Neste segundo momento, abordarei a Vila Capanema, Independência e o mítico Maracanã.

Estádio Durival de Britto

Conhecido também como Vila Capanema, o Estádio Durival de Britto e Silva era recém construído, inaugurado em 1947 em Curitiba, era o mais jovem dos estádios na competição, tirando os que foram construídos especificamente para a Copa. O estádio era acanhado, o menor de todos os que sediaram o mundial, com capacidade para aproximadamente 10 mil pessoas e pertencia ao Clube Atlético Ferroviário, que mais tarde se tornaria no Paraná Clube.

Os curitibanos receberam duas partidas daquela Copa. O primeiro jogo foi realizado no dia 25 de junho, entre Espanha e Estados Unidos. Os americanos até saíram na frente no placar, mas sofreram a virada diante de nove mil torcedores e acabaram sendo derrotados por 3 a 1.

https://www.youtube.com/watch?v=YnKVVPnJ_WU

A segunda partida aconteceu no dia 29 de junho e colocou Suécia e Paraguai frente a frente. A equipe europeia largou na frente e abriu logo 2 a 0, mas os sul-americanos foram em busca do resultado e no final, conseguiram arrancar um empate em 2 a 2, que foi visto por oito mil pessoas.

Estádio Independência

Localizado na cidade de Belo Horizonte, o Estádio Raimundo Sampaio foi um dos dois que foram construídos para abrigar jogos da Copa do Mundo de 1950. Com capacidade para 30 mil espectadores, o terceiro maior palco da competição recebeu três jogos. A praça esportiva pertencia ao Sete de Setembro Futebol Clube e daí vem o seu apelido “Independência”.

O primeiro jogo da competição foi também o primeiro da história do estádio. Nele, a seleção da Iugoslávia encarou a Suíça em partida válida pela primeira rodada do Grupo 1. Diante de oito mil pessoas, os iugoslavos venceram os suíços por 3 a 0.

https://www.youtube.com/watch?v=3j6vLNxSzaI

Quatro dias depois, colonizadores e colonizados duelaram nos gramados mineiros. Os Estados Unidos enfrentaram os inventores do futebol, a Inglaterra, em jogo válido pela segunda rodada do Grupo 2. O americanos levaram a melhor pelo placar mínimo. Um total de 10.151 pessoas viram aquele 1 a 0.

O terceiro jogo no Independência entrou para a história da competição. Foi nos gramados de Belo Horizonte que o Uruguai aplicou a maior goleada daquela edição da Copa do Mundo e a quarta da história das Copas. Os uruguaios enfrentaram a Bolívia e não tiveram dó, venceram com um sonoro 8 a 0.

Estádio do Maracanã

Selo da Copa de 1950. Fonte: Wikipédia

Em 1950, o Rio de Janeiro se transformou na casa do grande palco da Copa do Mundo e do maior estádio de futebol do globo. O Estádio Jornalista Mário Filho foi construído para receber a competição que acabara de voltar depois de um hiato de 12 anos devido à Segunda Guerra Mundial. A capacidade do Maracanã era de 200 mil pessoas.

Além de ser o maior, o Maraca foi também o estádio que mais recebeu jogos. Ao todo, foram oito, sendo cinco, dos seis, da Seleção Brasileira. Além de ser o palco do primeiro jogo, foi também o da partida decisiva que jamais sairá da memória dos brasileiros.

O primeiro dos jogos no gigante aconteceu no dia 24 de junho. O ato número um do Brasil na Copa de 50 foi diante de 81.649 pessoas dentro do Maraca. O duelo foi contra o México e para começar, nada melhor que uma goleada. Com um 4 a 0, a Seleção abriu caminho na luta em busca do primeiro título.

No segundo jogo do Maracanã na Copa, os cariocas puderam ver de perto os inventores do futebol. No dia seguinte à estreia do anfitrião, a Inglaterra conseguiu sua única vitória na competição ao bater o Chile por 2 a 0 diante de 29.703 torcedores.

Já no dia 29 de junho foi a vez da Espanha desfilar seus talentos para o povo do Rio de Janeiro. O adversário dos europeus era mais um vez o Chile, que novamente sucumbiu diante dos atletas do Velho Mundo. Um total de 19.790 pessoas viram a Espanha vencer o Chile por 2 a 0.

No quarto jogo no Maracanã, a Seleção do Brasil estava de volta à Cidade Maravilhosa. O encontro desta vez era contra a seleção da Iugoslávia, que vinha de duas vitórias nos dois primeiros jogos, enquanto que o Brasil chegava com uma vitória e um empate. Só a vitória interessava para classificar os anfitriões para a fase final. E foi isso que aconteceu. Os donos da casa não tomaram conhecimento dos 100% de aproveitamento iugoslavo e venceram o jogo por 2 a 0, diante do espetacular público de 142.429 torcedores naquele dia 1º de julho.

O próximo jogo já aconteceu no dia seguinte e era um duelo de europeus. Espanha e Inglaterra decidiam quem seria o classificado do Grupo 2 para a fase final da Copa do Mundo. Diante de 74.462 pessoas, a Espanha mandou os inventores do futebol de volta para casa depois de vencer o jogo por 1 a 0.

O jogo seguinte no Maraca já valia pelo quadrangular final. Sim, aquela edição da Copa do Mundo inovou e a decisão do vencedor não seria uma finalíssima, mas sim num novo grupo formado com quatro equipes, remanescentes da primeira fase. Uruguai, Brasil, Espanha e Suécia, dois sul-americanos e dois europeus, duelariam entre si para decidir quem seria o grande campeão da Copa do Mundo de 1950.

De cara o Brasil encarou a Suécia e espantou o mundo ao aplica a segunda maior goleada daquela competição. Foi com um estrondoso 7 a 1 que os brasileiros venceram e começaram a ver se aproximar a realização do sonho. Naquele jogo do dia 9 de julho, mais de 138 mil pessoas estiveram presentes.

O segundo jogo do Brasil na fase final foi contra a outra equipe europeia da disputa. Brasil e Espanha prometia ser um grande jogo. Os espanhóis passaram pela primeira fase com três vitórias em três jogos e no primeiro jogo da fase final empataram com o Uruguai, campeão de 1930. Porém, outra goleada surpreendeu o mundo e colocou o Brasil a um passo da glória. Desta vez, um público de 152 mil torcedores viu a Seleção Brasileira trucidar a Espanha com uma vitória por 6 a 1, no dia 13 de julho.

Finalmente o grande dia chegou. Com uma mão na taça, como costumamos dizer, o Brasil recebeu o Uruguai diante de 199.854 torcedores no Maracanã. Com as duas goleadas, os donos da casa precisavam apenas de um empate para garantir a taça diante do Uruguai, que empatou um jogo e venceu outro na fase final. Aos uruguaios, nada além da vitória interessava. O palco estava pronto e a plateia ansiosa. Primeiro tempo passou e o placar não saiu do zero. A glória estava chegando perto e pareceu ainda mais próxima quando aos dois minutos do segundo tempo, Friaça abriu o marcador para o Brasil.

Time do Uruguai que enfrentou o Brasil na final da Copa do Mundo de 1950 | Foto: Wikipédia

A partir daí, só um desastre tirava a Jules Rimet do Brasil. E foi aí que o espírito do “Maracanazo” começou a surgir para assombrar os brasileiros. Faltando menos da metade do jogo, bastava aos brasileiros segurar o resultado. Entretanto, os uruguaios não estavam dispostos a colaborar com isso.

Aos 21 minutos da etapa final, Schiaffino deixou a torcida brasileira no Maracanã apreensiva, quando empatou o jogo. O resultado ainda dava o título ao Brasil e o relógio corria em favor dos donos da casa, mas só até os 34 minutos. Naquele minuto, o silêncio ecoou nos quatro cantos do continental Brasil, porque Ghiggia mandou a bola para o fundo das redes brasileiras, virando o jogo para os uruguaios.

Agora, o relógio era inimigo brasileiro e cada minuto passado trazia consigo o sabor amargo da derrota quando já se podia sentir o cheiro da vitória. Mais 11 minutos restavam, no entanto, não foram suficientes. O inglês George Reader apitou o fim do jogo e garantiu vida ao fantasma do Maracanazzo, que nunca mais deixou de assombrar os brasileiros. Mesmo depois de vencidas cinco copas do Mundo, os amantes do futebol na Terra de Santa Cruz ainda sentem frio na espinha ao lembrar do Brasil 1 x 2 Uruguai de 1950.

https://www.youtube.com/watch?v=wQjKIO9S0wo

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Jaqueilton Gomes

Jornalista em formação, amante do futebol e comentarista no Universidade do Esporte

Como citar

GOMES, Jaqueilton. Copa de 50: uma tragédia contada em seis palcos – (Parte 2). Ludopédio, São Paulo, v. 133, n. 25, 2020.
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