Este é o artigo número 5 da série “Deuses do Futebol”, no qual o autor busca fazer o sincretismo de jogadores míticos brasileiros, com os santos e entidades cultuados no Brasil em diversas religiões.

São Francisco de Assis, quando jovem, levava uma vida desregrada e marcada pela boêmia com seus amigos da cidade.
Depois de brigar com seu pai, sofrendo as consequências de uma vida sem propósito, teve uma visão, na qual Jesus dizia que sua casa já não era mais a mesma, e pedia para que Francisco o ajudasse a reconstruir-la.
O jovem levou o pedido literalmente, e se desfez de todos os seus bens para reformar a igreja de sua cidade, que realmente já estava em ruínas e necessitada ser reconstruída.
Passou então a viver uma vida de eremita, só comendo o que lhe era oferecido, renegando todos os luxos que já tinha vivido. Passou o resto de seus dias vivendo em meio a natureza, se tornando o padroeiro dos animais.
Ironicamente, o pedido que foi feito em sua visão de Jesus, de reconstruir a igreja, foi realizado não pela reforma da pequena paróquia da região, mas sim pelo seu modo de viver. A igreja católica naquela época se perdia com as suntuosidades e politicagens de Roma, e São Francisco foi exemplo de humildade e amor, transformando assim toda uma nova ordem dentro da igreja.

No Candomblé e na Umbanda, São Francisco é sincretizado com Xangô, o orixá da justiça, que porta o Oxé, machado de duas lâminas, representando o equilíbrio e conhecimento.
No futebol, São Francisco só poderia ser sincretizado com Adriano.
Adriano chegou a ser proclamado Imperador jogando em Milão, mas o estrelato, a balada, a fama e os milhões de euros não o preencheram. Após o falecimento de seu pai, chegou ao ápice de fugir da Itália e voltar ao Brasil por algumas vezes, entrando em depressão. Morando na comunidade onde nasceu, reencontrou seu futebol em uma última temporada no Flamengo, sendo campeão brasileiro em 2009.
Ainda assim, Adriano só encontrou alguma paz voltando a viver praticamente no anonimato em sua comunidade, longe dos holofotes da grande mídia, e abandonando de vez o futebol, mesmo ainda com idade para jogar em alto nível por bons anos.

Assim como São Francisco de Assis, sua iconografia em vitrais e afrescos deve sempre retrata-lo ao lado de pombos. Simbologia que remonta ao milagre de Lima, em 2004, quando em um tirambaço de fora da área, aos 48 do segundo tempo, Adriano faz a bola desaparecer em frente ao goleiro, para se materializar novamente, inexplicável, já dentro das redes, empatando o jogo contra a Argentina em uma final de Copa América. No caso de Adriano, entretanto, os pombos ao seu redor devem ser retratados como pombos sem asa.
São Didico de Vila Cruzeiro.