No dia 4 de novembro de 2014, o Joinville Esporte Clube garantiu sua participação na Série A do Campeonato Brasileiro de 2015. No Estádio Castelão, em São Luís/MA, venceu o Sampaio Corrêa por 2 a 1, pela 34ª rodada, e garantiu matematicamente o acesso à elite do futebol brasileiro.

Pela primeira vez, desde 1987, o Joinville voltará a disputar a primeira divisão do futebol quando naquele ano jogou a Copa União. Sua melhor participação na elite do futebol nacional foi em 1985 quando ficou em um histórico oitavo lugar. A ascensão confirma a grande fase do Joinville que fora Campeão da Série C em 2011.

Mas, em tempo de final de período letivo, só tomei conhecimento da conquista antecipada do Joinville por meio de um áudio compartilhado por um amigo na rede social. O áudio era do Redação AM, quadro do programa Redação Sportv, que apresenta narrações radiofônicas marcantes no universo esportivo. No áudio, o locutor Charles Fisher, da Rádio 89 AM Joinville, de Santa Catarina, fica sem voz e vai às lágrimas com o apito final. O narrador se diz incapaz de descrever o momento de retorno do time há 28 anos longe da Série A.

Foto oficial do Joinville Esporte Clube (JEC). Foto: Assessoria Imprensa JEC.

https://globoesporte.globo.com/sc/futebol/times/joinville/noticia/radialista-presidente-do-joinville-narra-gol-do-titulo-sobre-a-chape-na-recopa-catarinense-video.ghtml

O áudio é de arrepiar qualquer amante do futebol. Emoção que só o rádio seria capaz de transmitir, tanto que ainda hoje existem os torcedores que preferem o bom e velho radinho de pilha para ouvir as partidas, companheiro fiel até nos estádios.

É inegável que o rádio, considerado veículo de massa com forte penetração social, contribuiu para a popularização do futebol no Brasil. Considerado o primeiro grande meio de comunicação de massa com amplo alcance popular, se tornou um verdadeiro companheiro para as os ouvintes. Durantes os Anos Dourados do Rádio, o veículo tinha o poder de reunir a família ocupando um lugar de destaque nos lares.

A primeira rádio a transmitir uma partida de futebol no Brasil foi a Rádio Educadora Paulista. Porém, já em 1928, a Rádio Record de São Paulo havia criado um serviço durante a programação para informar resultados de jogos realizados. A irradiação dos jogos tinha forte penetração e provocava efeitos sociais que colaboram para tornar o esporte assunto de domínio público. Com a chegada da televisão no Brasil em 1950, o rádio começou a perder parte de sua audiência, mas a preferência pelo veículo para acompanhar as partidas de futebol ainda se manteve durante muito tempo.

Torcida do JEC apoia o time. Foto: Assessoria de Imprensa do JEC.

Uma das narrações radiofônicas esportivas mais marcantes e que se perpetuará para sempre na memória dos fãs de futebol é do segundo gol do Maradona contra a Inglaterra nas quartas de final da Copa do Mundo de 1986. A locução emocionada, que levou o narrador às lágrimas e toda a Argentina ao êxtase nacionalista, é do jornalista uruguaio Víctor Hugo Morales transmitida pela Rádio Mítre/ARG. Para amantes do futebol, este é o Gol do Século e, de acordo com a FIFA, o “Mais bonito gol da história das Copas do Mundo” (ver ao final do texto).

Ainda que todos se lembrem da genialidade de Maradona em campo, da “pintura” que foi a jogada, a narração radiofônica é considerada por muitos a melhor e mais emocionante descrição do gol que consagrou o jogador argentino.

Ambas as narrações radiofônicas que vemos aqui confirmam o poder e o afeto do Rádio enquanto veículo de comunicação. Ao lado dos catarinenses, o rádio ainda é capaz de despertar emoções nos torcedores narrando o retorno do Joinville à Série A.

É indiscutível o alcance do Rádio, que hoje participa da vida do brasileiro integrado a outros meios de comunicação. Para tal, as emissoras radiofônicas tiveram que adaptar sua programação às novas formas da população ouvir rádio. Mas quando falamos da relação entre o rádio e o futebol, a história de duas paixões nacionais é cercada de afeto e emoção. Fatores que podem garantir a perpetuação do veículo ainda por muito tempo.

 

Referências:

FERRARETO, Luiz. O rádio: o veículo, a história e a técnica. Porto Alegre: Sagra Luzzato, 2001.

PEREIRA, Camila Augusta. A publicidade no Rádio como fator de construção da identidade nacional: O caso da partida final da Copa do Mundo de futebol de 1970. Revista Rádio-Leituras. Edição Janeiro – julho 2011. ISSN: 2179-6033.

 

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Camila Augusta Alves Pereira

Doutora em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, com bolsa da Capes, na linha de pesquisa Cultura de Massa, Cidade e Representação Social (2018). Mestre pela mesma instituição (2012). Possui experiência em pesquisa sobre marketing, idolatria, representação, identidade, publicidade, jornalismo, jovem, consumo, rádio e recepção em Copas do Mundo de Futebol. Graduada em Comunicação Social pela Universidade Estácio de Sá (2005), com habilitação em Publicidade e Propaganda. É professora na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ e nas Faculdades Integradas Hélio Alonso - FACHA. Possui experiência de docência em universidades públicas e privadas nos cursos de Comunicação Social e Gestão Desportiva, em disciplinas teóricas e práticas como Criação em Mídia Contemporânea, Produção para Internet, Comunicação e Cultura, Comunicação e Imagem, Teoria de Publicidade e Propaganda, Marketing Digital, Agência Digital, Direção de Arte, Metodologia de Pesquisa ? Trabalho de Conclusão de Curso, Pesquisa de Opinião e Mercado, Marketing Esportivo, Comunicação Aplicada ao Esporte, Teoria e Fundamentos do Jornalismo, entre outras. Bolsista Qualitec do Grupo de Pesquisa Esporte e Cultura (FCS/UERJ), cadastrado no CNPQ, e do Laboratório de Esporte e Mídia da UERJ. Membro do Grupo de Pesquisa ReC - Retóricas do Consumo (UFF), cadastrado no CNPQ.

Como citar

PEREIRA, Camila Augusta Alves. Emoção no Rádio em Santa Catarina. Ludopédio, São Paulo, v. 67, n. 7, 2015.
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