Ensaio: Ronaldinho Gaúcho, o bom samaritano do ‘rolê aleatório’
Cada vez fica mais claro, a principal característica do futebol moderno é a eficiência do rendimento duradouro. Quando se trata de seguir esse padrão de forma perfeita, R10 e CR7 estão praticamente em lados opostos.
Calma, segura essa emoção! Não estou aqui para discutir quem é melhor ou mais bonito. Mas como cada atleta dirigiu e dirige sua carreira e sua relação com o futebol.
Vamos começar pelo português. CR7 é “razão pura”, até aqui a melhor versão do atleta enquanto “máquina”, tem fixação pela boa forma física. É insaciável no aprimoramento de suas habilidades, sendo a disciplina nos treinamentos reflexo da obsessão em ser bom em cada fundamento do futebol, em cada recurso que o corpo pode proporcionar para ser completo dentro das quatro linhas.
Agora, imagine um empregado qualquer com esse perfil: disciplinado, controlado, ambicioso, que dificilmente adoece e está sempre interessado em oferecer um trabalho positivo… Imaginou?
É ou não é o funcionário dos sonhos de qualquer patrão? É o tipo de atleta que os clubes mais procuram na atualidade. Das cinco vezes que ganhou o troféu de melhor do mundo, em duas foi de forma consecutiva (2013-2014 e 2016-2017).
As passagens por Manchester United, Real Madrid e a transferência para a Juventus demonstram o objetivo do gajo em se afirmar em diferentes lugares. De distribuir seu talento da melhor forma possível e ser reverenciado por diferentes “tribos”.
Ele sabe que isso tem um peso diferente. Os clubes tornam-se “súditos” e eternizarem seus heróis. A maior satisfação dos reis era dominar várias nações, talvez Cristiano Ronaldo pense como um, ou pensa que é um? Só ele pode dizer.
Mas e o R10? O brasileiro parece ter sido dirigido pela emoção. No Brasil, uma carreira marcada por alegria e prazer, por excitação e recompensa. Parece que o conceito do futebol como lúdico estava impregnado em seu corpo e também na sua mente.
Ronaldinho Gaúcho foi a personificação do individualismo genial, do fator surpresa inconsequente. Em campo tudo era tão divertido e fácil que, para quem não sabia fazer igual restava aceitar.
Foi apenas “brincando” que R10 tirou o Barcelona da escuridão dando o impulso que os Catalães precisavam para retornar aos caminhos da glória. Foi por lá que viveu seu auge, eleito o melhor do mundo duas vezes consecutivas (2004-2005). Poderia ter sido mais! É o que todos dizem.
Mas ele era imprevisível, não quis se dedicar completamente ao Barça fincando seus pés por lá por mais tempo. Passeou por Milan e até pelo Flamengo, onde atuou de forma mediana. No entanto, conseguiu tirar mais um clube das sombras: o Atlético-MG. Sem planejar, resgatou clubes que andavam por baixo, no estilo bom samaritano do “rolê aleatório”.