Chegamos ao fim do Dinizismo, mais uma era (pequena como a data de validade do treinador brasileiro) que ficará na mente do são paulino por um bom tempo. O dinizismo era cara do São Paulino: superior, inovador, observador e frio. Acredito que essa semelhança nos trouxe essa identificação que veio repentinamente. A ponto de preferirmos o Dinizismo ao Rogério Ceni. A ponto de nos dar esperança de que esse era o ano que voltaríamos ao título. A ponto de acreditar que esse era o cara que acabaria com nossa escassez de títulos.

E se fosse ele? E nós, querendo inovar, nos colocamos na mesmice do futebol brasileiro de trocar técnicos quando está em crise. É interessante lembrar que no início de 2020, era difícil imaginar que o São Paulo viria  a ser o líder do brasileiro,com 7 pontos à frente do segundo colocado, e emplacando uma sequência de vitórias, com semifinal de copa do brasil à vista. Mais difícil ainda imaginar que os 7 pontos seriam perdidos em cerca de um mês. Talvez seja possível afirmar que Diniz, se juntou a Aguirre na prateleira de treinadores recentes que se tornaram reféns de seu próprio sucesso improvável.

Fernando Diniz
Fernando Diniz, treinador do São Paulo. Foto: Evaristosouza83/Wikipédia.

Passamos por essa era e saímos dela com um desgosto tão grande (por esse futebol que um dia nós acreditamos e bradamos pelas ruas), que insistimos por uma reestruturação completa. Porém, não adianta trocarmos treinador e todos os jogadores se não entendermos que a reestruturação necessária para o São Paulo não reside em pessoas, mas em mentalidade.

Não podemos acreditar e investir milhões de reais em jogadores, enquanto estes não entenderem o que eles estão representando em campo, não serão nomes, nem personagens que mudarão nosso clube. O investimento tem que ser na mentalidade e na identificação. Cotia deu certo e provamos esse ano! Porém, não é muito difícil entender a razão. Jogadores passam toda sua infância e adolescência respirando São Paulo. Quando chega lá, conhece as dores e as alegrias de ser são paulino.

Hoje, o São Paulo aparenta ter um time que desconhece quais momentos são importantes para nós. Essa frieza São Paulino precisa aprender a esquentar nos momentos necessários ou estaremos fadados ao fracasso. Precisamos ter peças identificadas com o clube em campo liderando a equipe. Pouco antes do final da temporada, a nova direção do clube, tem de fato um trabalho para mostrar sua cara. O trato com os jogadores, que embora, gerem revolta, não pode ser drástico na reta final de um campeonato com o calendário apertado. Talvez Diniz devesse perder o emprego antes, mas a demissão recente não pedia grande coragem ou grandes habilidades administrativas. Mas a contratação do seu substituto pode ser a mudança de chave para um equipe que já mostrou capacidade de jogar bola.

Hernán Crespo
Hernán Crespo. Foto: Reprodução Twitter

Por isso, acreditamos na imagem que o Crespo traz. Ex-jogador argentino que nós conhecemos e reconhecemos sua raça e vontade colocada em campo. Ele como um líder nos traz esse retrato de um time que lute novamente. Nesses últimos anos vimos jogadores péssimos, ruins, bons e ótimos, mas o único tipo de jogador que o são paulino não aguenta mais ver é jogador sem vontade. Posso citar alguns do time atual que nos enojam, mas não preciso citar, pois vocês já sabem.

Entretanto, podemos mudar os treinadores e os jogadores, se continuarmos contratando jogadores pelo nome e na esperança que ele se identifique com o São Paulo. Essa superioridade, conjuntamente com a arrogância que o São Paulino traz em ser superior, está se tornando o nosso mal. Precisamos entender que jogadores sem percepção de espaço, não cabem no São Paulo. A partir disso direcionar nossas contratações para jogadores que reconheçam a grandeza do São Paulo e joguem com a dignidade de que essa Camisa merece. E para haver esse entendimento, temos que parar de trazer jogadores do tamanho do clube, para trazer jogadores que entendam o tamanho do clube.


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Vitor Freire

Mestre em Educação Física na FEF-UNICAMP, amante de Esportes, são Paulino desde sempre.@vitordfreire@camisa012

Lucas do Carmo Santos

Formado em educação física, professor de ensino médio e são paulino.

Como citar

FREIRE, Vitor; SANTOS, Lucas do Carmo. Entre o desastre e a esperança. Ludopédio, São Paulo, v. 140, n. 38, 2021.
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