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Envolvência à Dinamarquesa – 35 anos da histórica “Dinamáquina”

Há muitas formas de se marcar competindo em um campeonato de futebol, sem necessariamente conquistar um título. O futebol vistoso, as goleadas, a surpresa, os valores individuais são algumas prerrogativas marcantes, mesmo sem a conquista dos troféus. Foi o caso da Dinamarca na Copa de 1986. Onde o mundo todo passou a chamá-la de “Dinamáquina”.

Antes disso, essa surpresa mundial começou na Eurocopa de 1984, disputada na França. Os nórdicos ficaram no mesmo grupo da anfitriã. Perdeu o primeiro jogo para os franceses. No entanto, nas duas partidas sequentes, aconteceram vitórias com muita autoridade em cima de Iugoslávia e Bélgica. Foram oito gols em duas partidas, o que garantiu a segunda fase do grupo A.

Pela semifinal do certamente, a trupe dos jovens Laudrup, Elkjaer e Olsen teriam pela frente a histórica Espanha de Butragenho. O favoritismo dos espanhóis não os intimidaram. No início, Lerby abriu o placar. Contudo, a falta de experiência combinada com a qualidade técnica superior do adversário fez eles sofrerem o empate e a derrota nos pênaltis por 5 a 4.

Apesar da derrota, o mundo da bola se surpreendeu com uma nova seleção europeia jogando bem diante de um torneio muito disputado. Será que eles iriam parar por aí?

Pelas eliminatórias da Copa de 1986, essa dúvida foi sanada e, de maneira dominante, os dinamarqueses ficaram na primeira colocação do grupo 6. Desbancando a União Soviética, que era a favorita pela liderança da chave.

Com a ida para o México, seria a primeira vez da Dinamarca em copas. O técnico Sepp Piontek resolveu montar um esquema que potencializou a qualidade técnica de Soren Lerby, Frank Arnensen, Jesper Olsen e do jovem Michael Laudrup – que viria a brilhar no Barcelona com Romário e é considerado o maior jogador do país. Além da experiência do atacante Preben Elkjaer.

Dinamarca
Foto: reprodução redes sociais

A Dinamáquina aparece para o mundo

Já no México, no grupo E, os adversários seriam a sempre favorita Alemanha, o bicampeão Uruguai, e a Escócia – comandada pela futura lenda Alex Ferguson. Ou seja, os nórdicos, de longe, não eram os favoritos. O mesmo cenário da euro de 1984.

Para enfrentar essas pedreiras, Sepp Piontek ousou – para os padrões da época – e montou a seleção no esquema 3-5-2. Ele retirou um zagueiro e recheou mais ainda o talentoso meio-campo dinamarquês, dando total liberdade de movimentação para o então craque Elkjaer.

A primeira disputa da chave foi contra a Escócia, no dia 04 de junho de 1986, no Estádio Neza, na cidade de Nezahualcóyotl. Foi uma partida brigada e truncada, para esse tipo de ocasião o talento individual sempre vai prevalecer, e o atacante Elkjaer estava sobrando dentro das quatro linhas. Foi dele o único gol do jogo, depois de uma arrancada dentro da área.

Após a estreia em mundiais bem complicada, mas vitoriosa, os dinamarqueses enfrentaram o Uruguai – que vinha de uma conquista da Copa América de 1983, embalado com seu craque Francescoli. Mas em nada adiantou o histórico, com uma atuação de gala de Elkjaer, Laudrup e de Olsen, os sul-americanos levaram uma sonora goleada de 6 a 1. Nunca antes uma seleção desconhecida do meio futebolístico debutava com tanto sucesso em mundiais.

O futebol envolvente, rápido e técnico elevou o patamar dos comandados de Piontek. Com a classificação já garantida, a última rodada era contra a fortíssima Alemanha, pela vaga de primeiro lugar do grupo.

Na batalha entre nórdicos e germânicos prevaleceu a estratégia escandinava. Em duas jogadas rápidas, a Dinamarca matou o jogo. Primeiro, de pênalti, com Olsen. Depois, com Eriksen completando para o gol aberto de Schumacher. Com o êxito, o primeiro lugar ficou com os estreantes em mundiais.

A repercussão dessa surpresa campanha fez os adoradores da bola colocarem a alcunha da Dinamarca para “Dinamáquina”. De quebra, o melhor ataque da primeira fase (9 gols) e um dos artilheiros: Elkjaer (4 gols).

Decepção

O confronto pelas oitavas seria contra a Espanha, do mesmo craque Butragenho, que fora algoz dois anos antes pela euro. Havia uma expectativa muito grande em cima da Dinamáquina. Será que eles iriam golear a Espanha?

O resultado foi uma grande decepção, embora Olsen tenha marcado o primeiro gol de pênalti, os escandinavos sucumbiram aos espanhóis, de novo, em duas competições diferentes. A partida foi um show à parte de Butragenho. O atacante marcou quatro gols e foi dono do mata a mata. O resultado final foi de 5 a 1.

A “Dinamáquina” deu um adeus melancólico a sua primeira Copa do Mundo que disputara, mas saindo de cabeça erguida com o prestígio de ter praticado um futebol que encantou os amantes da bola.

Pós

O atacante Elkjaer acabou sendo considerado o terceiro melhor jogador da Copa. Michael Laudrup, anos depois, tornou-se um grande craque e, por muitos, é considerado o melhor jogador da história da Dinamarca.

A boa campanha da Copa de 1986 serviu de base para as conquistas posteriores do país escandinavo no futebol, como a conquista da Euro, em 1992; a Copa das Confederações, em 1995.

Dinamarca
Fonte: reprodução/Pelota de Trapo

Escalação:

Troels Rasmussen (G)

3 Søren Busk

4 Morten Olsen (C)

5 Ivan Nielsen

12 Jens Jørn Bertelsen

15 Frank Arnesen

6 Søren Lerby

9 Klaus Berggreen

21 Henrik Andersen

11 Michael Laudrup

10 Preben Elkjær Larsen

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Pedro Henrique Andrade Dias

Estudante de jornalismo, cinéfilo e amante de esportes

Como citar

DIAS, Pedro Henrique Andrade. Envolvência à Dinamarquesa – 35 anos da histórica “Dinamáquina”. Ludopédio, São Paulo, v. 147, n. 41, 2021.
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