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Estamos melhores ou mais medíocres?

Em um texto anterior, escrevi sobre a possibilidade de estarmos assistindo o melhor Campeonato Brasileiro dos últimos anos. Para corroborar minha hipótese, citei os supostos craques que retornaram ao Brasil e o número de representantes de clubes nacionais jogando pela Seleção Brasileira. Hoje, cinco meses depois, vejo que minha árdua defesa de uma volta aos tempos áureos do Brasileirão não se mostra de todo verdadeira.

Sim, grandes jogadores (ou que, pelo menos, já foram grandes um dia) voltaram ao futebol brasileiro. E, sim, também temos muitos jogadores dos nossos clubes atuando na Seleção (no último amistoso, contra o México, foram nove). Isso, no entanto, não se revelou suficiente para me convencer desses dias melhores. A Seleção Brasileira vive dias nebulosos, ocupando a sétima posição no ranking da FIFA (em 11/10/2011, quando escrevo este texto) e ganhando jogos com pouco ou nenhum brilho (vide, por exemplo, a má campanha na Copa América e a magra vitória de 1 x 0 sobre a Costa Rica). Os jogadores brasileiros no futebol europeu já não gozam do prestígio de outrora. Não podemos dizer que temos um grande craque (e que seja a grande estrela de seu time) atuando no Velho Continente no momento (a menos que você dê esse título a bons jogadores como Hulk, Daniel Alves, Ramirez, Marcelo…). Talvez o “último dos moicanos” seja Kaká, feito a ressalva de sua frágil condição física.

Ronaldinho Gáucho no Flamengo. Foto: Alexandre Loureiro/VIPCOMM.

Posso abrir ainda outro questionamento: o motivo de uma suposta melhora do Brasileirão, com a permanência das promessas e a volta dos bons jogadores, seria o nível medíocre que permeia os jogadores brasileiros atualmente? Em minha opinião, sim. Caso discorde, tente pensar em, pelo menos, cinco jogadores que sejam craques, ou melhor, que estejam fazendo jus ao status de craque, no atual Brasileirão. Eu consigo citar três: Neymar, Leandro Damião e Ronaldinho Gaúcho. Isso seria um facilitador de mantermos aqui alguns desses jogadores, já não tão atrativos ao futebol europeu (não descartando, é claro, o aumento do poderio financeiro dos clubes brasileiros e a valorização de nossa moeda).

Na edição de 21 de outubro do Caderno de Esportes do Globo, Fernando Calazans reitera o argumento, já utilizado por outros cronistas e blogueiros, que justifica a instabilidade dos grandes clubes no Brasileiro desse ano ao nível mediano de seus elencos. Renato Maurício Prado (28/10/2011) vai além e afirma que “o nível técnico de nossos melhores times é duvidoso” e que vivemos uma entressafra de craques. Ressalto que não escrevi esse texto inspirado em nenhum desses dois cronistas, visto que esse tema foi abordado por eles após eu ter escrito meu texto (de qualquer forma, não podia deixar de citá-los aqui).

Leandro Damião em treino pelo Inter-RS. Foto: Marcos Nagelstein/VIPCOMM.

Então não somos mais dignos da alcunha “futebol arte”? Também não chega a tanto. Como bem disse Helal em seu texto “Neymar e o estilo brasileiro“, “jogadores extraordinários possuem estilos semelhantes: o estilo extraordinário”, o que implica dizer que: jogadores extraordinários pertencem a distintas nacionalidades, não sendo exclusivamente brasileiros. O Brasil é reconhecido mundialmente pelo seu futebol, graças ao grande número de jogadores extraordinários, os craques, que já vestiram a “amarelinha”, principalmente, se comparado às outras seleções do mundo. Seus cinco títulos em Copas do Mundo e em Campeonatos Mundiais Sub-20 colocam a Seleção Canarinho acima das demais. Atualmente, no entanto, não seria nenhuma heresia falar que a Espanha joga um futebol mais vistoso que o Brasil e também possui mais jogadores que poderíamos chamar de craques.

Acredito que estejamos em uma entressafra e nos próximos anos voltaremos a ter uma seleção digna da alcunha que caracteriza o nosso futebol. Algo parecido ao que vivenciamos na década de 90. Nos anos 1990, Romário reinou quase que absoluto. Apesar de termos Bebeto, Careca e Rivaldo, Romário era absoluto. Os Ronaldos começaram a despontar apenas no final daquela década. Não obstante, para a Copa de 2014, seria interessante nos preocuparmos com outras coisas além dos estádios e da infraestrutura. A qualidade dos jogadores e o entrosamento do time em campo são as únicas vias para levantar o caneco de campeão do mundo. Um estádio que atenda às exigências da FIFA é de encher os olhos de qualquer torcedor, mas o amante do futebol brasileiro quer ver “algo a mais” dentro das quatro linhas.

A vitória de virada sobre o México (em 12/10/2011), mesmo com um jogador a menos, pode servir de alento para o torcedor brasileiro….

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Fausto Amaro

Doutorando em Comunicação da Uerj e bolsista da Capes. Mestre e graduado em Comunicação Social, com habilitação em Relações Públicas, ambos pela Uerj. Atua no projeto de pesquisa "Meios de Comunicaçao, Idolatria, Identidade e Cultura Popular" sob orientação do Professor Ronaldo Helal. É um dos admistradores do blog "Comunicação, Esporte e Cultura".

Como citar

MONTANHA, Fausto Amaro Ribeiro Picoreli. Estamos melhores ou mais medíocres?. Ludopédio, São Paulo, v. 29, n. 9, 2011.
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