O Brasil é um cano estourado vazando jogador bom pra todo lado. Sempre foi.
É tranquila a tarefa de elencar um escrete canarinho de A a Z.
Uma seleção de jogadores pra cada letra do alfabeto. Tarefa esta que, inevitavelmente, desencadeia um tratado fantástico de lendas da mitologia ludopédica tupiniquim.
Este é o Brasil D, de Dibre.
Atenção, a escalação não deve ser lida. Seria inexato, incompleto.
Um selecionado brasileiro deve ser sempre recitado, como poema que é, em redondilhas maiores, e métrica espaçosa. Verifique.
Dida
Djalma Santos, Domingos da Guia, Duílio e Dalmo Gaspar
Dirceu, Didi e Djalminha
Denílson, Dodô e Dener
Talvez o melhor onze que já produzimos, depois do Brasil R, e do Brasil G de Garrincha e Gérson, claro.
Do meio pra frente temos apenas jogadores da linhagem de São Cosme e Damião, Saci-Pererê, os erês, ibejis e curumins.
Este é o escrete dos gols bonitos, das jogadas inobliteráveis. O onze esteta da bola, da firula, do chiste.
Onde se aprende a driblar? Quando? Como?
Isso não existe. Drible não se ensina.
Nenhuma escolinha de futebol se propõe a compartimentar o drible em aulas. Nunca.
Ele deve ser passado entre amigos, não explicado, mas antes aplicado. É isso. O drible se aprende ao ser driblado. Ludibriado.
Aliás, proponho o seguinte. Ao invés de drible, o termo correto na enciclopédia deveria ser lúdrible. Seria mais coerente.
O moleque, de pois de ludibriado na rua, treina em casa, sozinho, em segredo. Repetido à exaustão, frente a zagueiros imaginários. Até conseguir aplicar nos outros, de forma ousada, mas como se fosse corriqueira, simples.
Depois de aplicado o come, vem a forra. O urro de vitória e sacanagem, que é, convenhamos, a melhor parte do drible. A desmoralização do zagueiro.
O drible, reza a lenda, surgiu no contexto dos clubes ainda calcados na aristocracia burguesa. O negro, quando fazia falta, era severamente punido. Entretanto, quando o branco fazia falta, nada acontecia. Pra escapar das faltas, surgiu ele, o drible.
A palavra em si, drible, ao pé da letra, vem do vocábulo inglês, significa baba, ou babar.
É o que os zagueiros faziam ao marcar Dener e Denílson. Babavam. Só.
E o quê dizer de Dodô? Não driblava, não é o caso. Mas completava pro gol com classe. De fato, se o gol fosse feio, não fazia. Detrator da frase de Dadá Maravilha “Não existe gol feio, feio é não fazer o gol”. Dodô discordava.
Não é o caso de balançar a rede, entende? Se trata de estufar o filó. São coisas completamente diferentes.
Por essas e outras, este triplete delanteiro: Denílson, Dodô e Dener, é o ataque de maior elã que o futebol poderia ter.
Um ataque que nunca jogou junto, impossível. Como um livro ou sinfonia inacabados, deixados incompletos pelo artista.
Na minha mente, eles entraram no intervalo contra a Itália de 82, e transformaram o jogo em 4 x 3.