Desde pequeno tenho dificuldade com os números. Foi um professor do Senai, o mestre Orsatti, quem ensinou uma forma mais simples de pensar o mundo das exatas – uso a regra de três até na hora de comprar pão na padaria e sou feliz assim, sem prejuízo.
Talvez ele pudesse me ajudar a entender as contas dos títulos dos times brasileiros, já que fica difícil entender qual campeonato é o que vale quando torcedores fanáticos e clubistas gritam penta, octa, bi, enea ou qualquer palavra que mais lembre as aulas de geometria no ensino fundamental.
Cresci ouvindo meu pai e os programas esportivos apontarem o Atlético Mineiro como o primeiro a vencer o Campeonato Brasileiro, em 1971. Em 2002, as ruas da Baixada Santista foram tomadas pelos alvinegros comemorando seu primeiro título – antes que me xinguem, era isso mesmo que as pessoas de todas as idades diziam com lágrimas nos olhos.
Quando a CBF unificou os títulos antes de 1971 e TUDO virou Brasileirão, as aulas do professor Orsatti foram irrelevantes na hora de contar quantos nacionais cada time havia ganho. Houve quem fosse contra, outros celebraram.
Minha mente bugou e passei a não entender mais nada.
Se é óbvio que em um país que não respeita seu passado devemos sempre reverenciar e reconhecer os grandes campeões de outrora, fica difícil entender a seriedade de quem não reconhecia, passou a reconhecer e depois jogou tudo num mesmo liquidificador. Todo mundo é campeão e eu não entendo mais nada.
Quando o clubismo toma conta, eles dizem “vá reclamar com a CBF”, como se isso garantisse um mínimo de seriedade a esporte amado e surrado – bastar procurar quantos formatos o nacional já teve e reservar sua vaga no manicômio.
Não duvide se daqui a alguns anos a falecida Copa dos Campeões também entre na conta ou uma Sulamericana tenha o mesmo peso da Libertadores, essa várzea continental com grife.
Já desisti e entender a cabeça do torcedor e dos cartolas por aqui.
Afinal, de um modo geral vale para o sujeito se o seu time for um dos beneficiados, o que me leva a crer que uma boa (no sentido de quantidade, não de qualidade) parte dos que discordam da unificação assim o fazem porque seu clube não ganhou nenhuma estrela a mais na camisa.
No mais, deixo as contas para quem tem intimidade com elas. Sou de humanas.