Futebol: sujeito elementar na produção da mais sublime emoção
Este texto precede um período sabático necessário. Foram três meses de trabalho pesado e situações que exigiram posicionamento firme e a compra de uma briga mais efetiva contra a decisão da CBF em demitir a técnica Emily Lima do comando da seleção.
O esgotamento físico e mental me obrigou a programar um tempo de férias, mas antes de passar algumas horas na estrada desfrutando do doce silêncio das paisagens, convém falar de emoções. E, claro, aquelas das boas. E qual sujeito mais elementar na produção deste sentimento, que não o futebol?
Enquanto acompanho o calvário são paulino e a demonstração de força de sua torcida em momento tão angustiante, regozijo a alma com disputas dignas das nossas competições, onde a polaridade nunca se criou.
Em poucas rodadas teremos o fim do Brasileirão, aquele que até o fim do primeiro turno dava-se como consumado seu campeão. Tendo construído uma boa vantagem, o Corinthians viu-se perseguido, mas trilhava calmamente os pontos de líder. Enquanto isso, Grêmio buscava arrancar pontos e encostar no Timão. Com o avanço do tricolor gaúcho na Libertadores, o Brasileiro ganhou outro protagonista na caça à liderança.
Em ano de centenário do Derby Paulista, esperava-se um estadual que fizesse jus à história. Uma final entre Corinthians e Palmeiras se desenhava, mas havia a Ponte no meio do caminho, a mesma Ponte que ajudou a incendiar o Brasileirão, ao vencer o Timão por 1 a 0 no dia 29 último. A diferença entre o Corinthians líder e o segundo colocado na tabela, o rival Palmeiras, caiu para 5 pontos.
E eis que finalmente temos o Derby Centenário!
Ainda que Itaquera receba apenas a torcida corintiana, a cidade respira o clássico. Do lado de fora e preocupada com o desempenho do São Paulo diante de um Atlético Goianiense já rebaixado, observo o embate centenário com os olhos de quem compreende o peso da história e tradição que este jogo carrega.
“Minha senhora, a senhora não sabe o que é um Parmera e Curintia!”
Jump Cut!
Terça-feira, 31 de outubro de 2017, Estádio Ciudad de Lanús – Néstor Díaz Pérez, vulgo La Fortaleza. Partida válida pela semifinal da Libertadores da América entre Lanús e River Plate. No jogo de ida, o tarimbado River, com 33 participações em Libertadores e 3 títulos, abriu vantagem deixando o placar final do jogo com 1 tento a 0 a seu favor.
Em La Fortaleza, abriu mais ainda a vantagem, marcando dois gols em 30 minutos de jogo. Assistia a peleja com uma vontade quase incontrolável de dormir. Dizia ao meu pai “que jogo chato, que tédio” e procurava suplantar o sono que tentava me arrastar pra cama.
Mas eis que José Sand instilou esperança na torcida Granate aos 45 minutos do primeiro tempo, marcando o primeiro gol. O River contava então com um placar agregado de 3 a 1. Achei que seria necessário dar mais uma chance ao jogo, e aguardei o segundo tempo.
Fiz foi é bem! Sand novamente infla a torcida do Lanús marcando o segundo tento e diminuindo a vantagem de La Banda.
Habemus Libertadores!
De enfadonho a frenético, o embate argentino devolveu aos amantes da competição muitos motivos para seguir com a tevê ligada. E ninguém se arrependeu. O Lanús buscou a virada e a classificação inédita para a final da Libertadores: 4 a 3 no placar geral.
Na outra ponta, o Grêmio construiu placar super favorável em Guayaquil: 3 a 0 sobre o Barcelona, e encaminhou com tranquilidade sua qualificação para a final.
Libertadores
A
B
I
S
M
O
Champions League
Brasileirão
A
B
I
S
M
O
La Liga
O futebol sul americano respira o imponderável, escreve seu roteiro com contornos desesperadores entre o trágico e a glória. Traduz, de modo muito peculiar, o que o jogo representa para todo o continente.
Se de um lado temos cartolas que insistem em reproduzir a tacanha politicagem no ambiente futebolístico (e exemplos dessa tacanhice temos aos montes, desde a CBF até clubes menos expressivos), o jogo em si eleva o sentido de emoção, de beleza e de encantamento que só ele é capaz de fazer reverberar em nossos corações.
E que ele continue sendo esse elemento produtor das mais variadas ~belas~ emoções.