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Futebol Feminino e a necessidade do adeus aos dirigentes obtusos

Luciane de Castro 3 de fevereiro de 2012

Alguns assuntos deixaram a zona do tabu para virar realidade. Se o decorrer dos anos foram indicativos de mudanças importantes na rotina das mulheres pelo mundo, a mentalidade de um parcela da população não foi capaz de acompanhar tais mudanças. Exemplo recente se deu na gestão santista de Luis Alvaro, o LAOR. Ao assumir a presidência do Santos, LAOR deixou claro nas entrelinhas o pouco interesse deste mandato pelo futebol feminino já então estruturado na Vila.

O fato ficou confirmado ao anunciar, findando o ano de 2011, que o clube havia desistido de manter a equipe das Sereias da Vila por falta de patrocínio. Retornando um pouco no tempo, para a época em que LAOR assumiu a presidência do Santos, convém observar que as Sereias contavam com cinco patrocinadores. No decorrer de sua gestão, a equipe perdeu os cinco patrocinadores até chegar na situação em que se encontra, ou seja, o que parece ser a desejada pelo atual comando santista.

Equipe do Santos no Torneio Internacional Interclubes de Futebol Feminino em janeiro de 2011. Foto: Bruno Miani/ZDL.

Apesar do argumento carregado de lamentação, as entrelinhas denunciavam a mesma posição do discurso de sua posse: O feminino não será prioridade. O resultado está aí para que todos vejam. As atletas buscando soluções, Neymar angariando fundos para que o projeto das Sereias não vá para o lixo e ponderações e mais ponderações quanto ao valor conseguido para a manutenção da equipe.

Mas a verdade é uma só: esta gestão não tem o menor interesse pelo feminino e seu fim era previsto. Quando LAOR coloca empecilhos na ordem de mais de R$ 1 milhão para que seja possível a manutenção da modalidade, ratifica a postura da maioria dos dirigentes dos grandes clubes brasileiros: má vontade e desinteresse pelo futebol das nossas meninas. Vivem no século passado, onde o futebol segue sendo, em seus conceitos sobre esporte, do gênero masculino. Não entenderam e tampouco entenderão que o futebol feminino é outra modalidade, é outro jogo.

Equipe do Santos comemora gol. Foto: Bruno Miani/ZDL.

Ao colocar empecilhos para cada valor oferecido para manter as Sereias da Vila vivas, LAOR demonstra o quanto precisamos trabalhar para que nossa cultura mude. O quanto nossos dirigentes precisam abrir suas mentes e seus caixas. Precisam entender que não temos mais espaço para diferenças e para preconceitos quanto ao gênero. Nos mostram, felizmente, que os equivocados e obtusos têm cada vez menos espaço no mundo. Em breve, diremos aquele adeus carregado de alívio.

 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Lu Castro

Jornalista especializada em futebol feminino. É colaboradora do Portal Vermelho e é parceira do Sesc na produção de cultura esportiva.

Como citar

CASTRO, Luciane de. Futebol Feminino e a necessidade do adeus aos dirigentes obtusos. Ludopédio, São Paulo, v. 32, n. 1, 2012.
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