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Futebol Feminino em crescimento na França

O futebol feminino aparece na França em 1917, quando, em 30 de Setembro, se disputa a primeira partida entre duas equipes da organização esportiva “Fémina Sport”, existente ainda hoje. Depois de jogar entre si, a equipe de futebol feminino passou a disputar partidas contra equipes escolares e masculinas. Até que em 1918-19 nasceu o campeonato francês.

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Seleção feminina francesa em 1920.

Coube à Fédération des Sociétés Féminines Sportives de France (FSFSF), fundada em 18 de Janeiro de 1918, a responsabilidade de organizar torneio e não a FFFA, antigo nome da Federação Francesa de Futebol. A modalidade deixa de fazer parte da FSFSF em 1933, quando o campeonato feminino passa a ser organizado pela Ligue de Paris de Football Féminin. As competições continuam ativas até o início da 2ª Guerra Mundial. No início, o regime de Vichy era favorável ao esporte feminino, mas em 1941, eles proíbem a prática do futebol feminino por julgar nocivo para as mulheres. É preciso esperar até 1970 para que a Federação Francesa de Futebol passe a integrar também as equipes femininas.

A presença das mulheres foi recebida com constante desconfiança. Nos anos 1920 e 1930, as reticências e hostilidades vinham de setores masculinos do esporte, de educadores e de médicos. Muitas foram as acusações que o futebol virilizava às atletas e que colocava em risco a fertilidade das mulheres. Mesmo nos anos 1960 e 1970, muitas dessas ideias se mantinham presentes, de tal modo que os regulamentos eram adaptados para se ajustar a suposta condição mais frágil das mulheres, fazendo com que tempo de jogo fosse reduzido a 60 minutos e disputado em campos com dimensões reduzidas. Até 1989, as atletas deveriam usar uma bola mais leve e menor, usada por categorias de jovens e os contatos mais duros eram proibidos.

No início, o futebol feminino se concentra muito na capital francesa. No seu apogeu, em 1923, eram 18 times de Paris. Aos poucos o esporte foi se difundindo, e foram aparecendo equipes em Reims, Rouen, Lille, Toulouse e Marseille. No renascimento do futebol feminino, na década de 1960, os dois principais pólos eram a Alsácia e a região de Reims, onde o clube masculino era muito popular. Hoje em dia, o esporte já se  espalha de maneira geral pelo território, embora haja mais resistência nas regiões da Bretanha e da Corsa.

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Equipe do Lyon 2014-2015. Em pé: Lara Dickenman, Corine Petit, Lotta Schelin, Amandine Henry, Wendie Renard, Ada Hegerberg; agachadas: Saki Kumagai, Eugénie Le Sommer, Sarah Bouhaddi, Louisa Necib, Élise Bussaglia. Foto: Pierre-Yves Beaudouin/Wikimedia Commons.

Atualmente, a liga feminina conta com 12 equipes espalhadas pelo país. Do total, 8 equipes estão ligadas a clubes profissionais, com destaque para o Lyon (OL) que venceu os últimos 10 campeonatos e o Paris Saint-Germain, que a semelhança da equipe masculina tem feito grandes investimentos para se posicionar como líder no cenário nacional.

O começo da trajetória de sucesso do futebol francês se inicia nos anos 1990, com a criação dos primeiros polos de formação específica, mas a velocidade só aumenta nos anos 2000. Em 2011, o OL vence a Liga dos Campeões antes da Copa do Mundo a ser realizada na Alemanha e contribuiu para que os meios de comunicação dessem bastante atenção à competição. A equipe feminina consegue chegar a capa do jornal L’Equipe por três vezes e, na sequência, continuam a receber atenção da mídia, de modo que os direitos de transmissão televisiva do campeonato feminino são vendidos com sucesso.

franca2019_logoA meta é aumentar o número de participantes e alcançar bons resultados dentro de campo. Em Fevereiro de 2016, a Federação comemorou a marca de 100 mil atletas inscritas. Embora ainda esteja longe das 250 mil alemãs associadas à sua federação, é uma grande evolução das menos de 35 mil no ano 2000. No horizonte está um grande evento que pode contribuir ainda mais com essa história de sucesso: o mundial feminino vai se realizar na França, em 2019, quando a federação espera atrair ainda mais interessados, e planeja chegar pelo menos ao pódio.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Fernando Borges

Formado em Comunicação Social – Jornalismo pela UFRJ, mestre em Comunicação e Jornalismo pela Universidade de Coimbra e doutorando em Comunicação na Universidade Pantheon-Assas, em Paris, fez do esporte – principalmente o futebol – parte importante da sua trajetória profssional, porque acredita que é preciso gostar do que se faz.

Como citar

BORGES, Fernando. Futebol Feminino em crescimento na França. Ludopédio, São Paulo, v. 98, n. 27, 2017.
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