Futebol, política, resistências
Vez ou outra alguém me pergunta se política e futebol se misturam.
Eu acho curiosa a pergunta, porque ela não se sustenta nem enquanto questionamento. Porque perguntar se futebol e política se misturam é considerar a hipótese de que são dois elementos diferentes que eventualmente podem – ou não podem – estar juntos.
Mas… viver é um ato político. As palavras que utilizamos – dentre tantas outras possíveis – são atos políticos. Vestir-se com uma ou outra camisa é também um ato político, é marcar posição. O lazer e o ócio, igualmente, são atos políticos. O futebol, óbvio, também é.
A política é parte constituinte da vida. Não é dissociável de nada que esteja em nosso entorno.
Aliás, se vocês querem mesmo saber, tentar convencer as coletividades de que futebol e política não se misturam é também um ato político. Tentar calar as multidões é um ato político de golpistas de extrema direita que hoje, infelizmente, estão à frente do país.
A quem interessa, afinal, o silenciamento? A apatia? O fim do debate?
Eu vou dizer a verdade. Eu tinha muitos outros temas a escrever por aqui. Nem sei se esse está no escopo do que é em regra produzido no Ludopédio.
Mas calhou que a minha vez de voltar a escrever por aqui caiu bem em 7 de setembro, o dia da suposta independência brasileira, a data em que um presidente da República convoca aliados para questionar a democracia, desrespeitar a constituição, paquerar com um golpe de estado.
Não poderia me calar, portanto.
A nascente democracia brasileira nunca esteve tão em risco. Ao menos desde que ela foi retomada, no finalzinho da década de 1980.
Já não é exagero afirmar que o presidente vai tentar dar um golpe. Isso, me parece, é fato consumado. Resta saber se vai dar certo, se vai ter os apoios necessários, observar quem estará de um lado e de outro nesse momento limítrofe de nossa história.
E, se haverá uma tentativa de golpe, eu estarei na resistência torcedora. Em defesa da democracia e em defesa de um futebol popular, acessível a todas as classes sociais.
Torcer, afinal, também é um ato político.
Chamar de Amigão o estádio de Campina Grande, na Paraíba, que oficialmente tem nome de governador golpista dos tempos da Ditadura Militar, é um ato político.
Relegar às notas de rodapé os nomes oficiais dos estádios, e privilegiar os nomes populares, dar voz ao povo e ao torcedor de arquibancada, é um ato político que gosto de praticar.
Cantar, sofrer, chorar numa Série C de Campeonato Brasileiro são atos políticos.
São exemplos, apenas. O que importa aqui é apenas um apelo.
Resistamos!
É tudo o que posso pedir num dia como hoje.
E sim… resistir, acima de tudo, é um ato político dos mais importantes em nossas vidas.