Chão de terra batida com buraco. Dois ou mais jogos: o mesmo craque – esse sabe o atalho da grande área. Torcida veterana, torcida mista – torcida popular. Futebol Grande Sertão Veredas: de pouco peito e muita peia. Das palavras tortas, do meio fio, do grande triunfo do “nada de todas as coisas”.
Lembro quando li textos do querido Colombiano, Eduardo Galeano e fiquei em choque com a facilidade de relatos. Logo pensei que rascunhar sobre o universo cultural da pelota não ia ficar distante da minha vida. Futebol: Ordem elaborada de jogo que só pode ser quebrada quando o Macro é por alguns minutos esquecido. E o que conta é o momento. É um sacolé de possibilidades, sabores e dissabores…
Alguns grandes Silvas, algumas torcidas tão fiéis, gritaria, palmas, celebração. E por que não a maior manifestação popular brasileira? SOTAQUE. Realmente, o futebol é um carnaval. Vai entender. Me passa pela cabeça, plano sequência, nossa nada humilde história política. Nossa democracia nada democrática. Com todo respeito aos grandes nomes que lutaram dentro e fora de campo.
O futebol que vai além das linhas, da regra e dos números, acontece a todo vapor. Feita por jogadores em diversas situações sociais. O Futebol na sua forma mais democrática, acontece em terreiros cercados de crianças e sonhos, gargalhadas e batuque. Quase tudo pode.

A quem vale falar sobre nossos ídolos dentro e fora dos gramados, que não a nossa própria vontade de acreditar que as coisas podem mudar? Fica a pergunta.
O suspiro do dia-a-dia do boleiro, a diversão garantida do fim de semana, da organização de bairro, daqueles que disputam uma coca cola dois litros na quadra do clube mandante. Muitas gerações viveram esse drible. Driblamos e levamos carrinhos da ditadura até a configuração atual de poder a qual estamos submetidos, e com toda a mudança refletida no futebol “live in pompeia”, indústria cultural, a peleja e a promessa que ninguém sabe porque a gente precisa pagar
As coisas as vezes são muito mais organizadas (e que bom) do que se pode imaginar. Isso me dá certo entusiasmo, confesso. Excepcionalmente quando vejo o futebol feminino. Romântico? Pode ser. Utópico, com certeza.
Os buracos são tão singelos as vezes, amigos. Futebol de vala, todos tem seu lugar a sombra, não vai ser a invisibilidade do mundo que vai acabar com as formas de jogar e torcer. Brincamos e levamos a sério. Esse levar a sério merece sair de uma “crítica da razão tupiniquim” para além do que acreditamos alcançar. É isso, com ou sem dureza, com ou sem piada, o futebol suspira. Só não precisa de holofote.
Falar de mudança política no futebol hoje é difícil e com proporções estratosféricas tão tristes. Que fase. Podemos buscar vários caminhos, mas não simplesmente parar pra viver de história. Nossa história viva tá pedindo transfusão de sangue, amigo. E agora?
Todo mundo já tá cansado de saber que não dá pra deslocar futebol dos acontecimentos ao nosso redor. O futebol em palavras, olhares, sentido, sabor, jogo, também. Falar de futebol, é acessar o campo minado. Viver o futebol também. Metáfora da vida.
Água corrente presente e em pleno estado de mudança.
“É tudo o que a boca come”. É tudo o que o corpo sente.
Ou a gente pensa futebol além de entretenimento, ou a gente não tem mais sobre o que falar.
(João Saldanha se revira no túmulo)