140.29

Giant Killing – o mangá com todas as nuances do futebol

Marcus Arboés Universidade do Esporte 13 de fevereiro de 2021

Os mangás ajudaram o futebol a se popularizar no Japão, mas um deles tem algo especial. Giant Killing mostra todos os ambientes que envolvem a modalidade, do treinador ao torcedor.

Giant Killing
Imagem: Kodansha/Reprodução.

Na semana passada, nessa mesma coluna, a Leila de Melo publicou a respeito de três mangás sobre esporte. Depois de ler seu texto, onde ela fala da série Captain Tsubasa, pensei em uma outra obra japonesa em quadrinho que também merece visibilidade.

Giant Killing é um mangá sobre futebol, mas é um pouco diferente da proposta de Super Campeões e, apesar de ter recebido uma animação em 2010, não chegou a vir ao Brasil e sequer se popularizou muito no Japão, além de ter sua serialização cancelada para televisão.

Isso aconteceu por que, diferente de outros mangás/animes que tratam do futebol, o foco de Giant Killing não está especificamente na emoção do jogo em si, mas sim em tudo aquilo que está em volta do futebol, dentro e fora das quatro linhas.

Essa diferença está basicamente no gênero. Enquanto o público-alvo de Super Campeões é shounen (juvenil masculino), o de Giant Killing é seinen (adulto masculino). O que mais diferencia os dois gêneros é a linguagem utilizada e, por isso, a animação não teve o mesmo sucesso que o mangá.

Até hoje, Giant Killing segue sendo serializado pela publicação semanal da Kodansha. Mas afinal, do que se trata essa história? Decidi trazer pra vocês tudo o que é abordado no mangá!

Tatsumi Takeshi
Tatsumi Takeshi e seus jogadores. Imagem: NHK/Reprodução.

O treinador

A história do mangá começa com um tradicional time de Tóquio, a capital japonesa, o East Tokyo United, em uma má fase. Eles recentemente escaparam de um rebaixamento e os diretores do clube decidem fazer algo arriscado, trazer um ex-ídolo de volta, agora como treinador.

Tatsumi Takeshi foi o principal jogador da história do clube, tendo dado muitas glórias, mas ele é odiado por muitos torcedores por ter aberto mão de continuar no clube e ir jogar num clube não muito expressivo da Inglaterra. Lá, ele rapidamente se lesionou e encerrou a carreira.

Então, anos depois, ele se reinventou como treinador e conseguiu fazer um time inexpressivo, montado com cidadãos locais, avançar muito na FA Cup, da Inglaterra. Lá, os agentes do East Tokyo United o convencem a voltar.

O que o tenta a retornar para Tóquio é o mesmo que o levou a um time inexpressivo como jogador: a vontade de “matar gigantes”, trabalhar em um time menor para superar aqueles que são melhores ou favoritos.

Como treinador, Tatsumi gera muitos desconfortos na imprensa, na torcida, nos seus jogadores e nos outros técnicos do país. Em campo, seu time sempre se adapta ao adversário e ele lida muito bem com as situações de jogo, mas nem sempre sai vitorioso.

mangá de Giant Killing
Capa do volume 17 do mangá de Giant Killing. Imagem: Kodansha/Reprodução.

O time do East Tokyo United

Diferente dos outros mangás populares que envolvem colegiais e adolescentes, Giant Killing foca em jogadores adultos e profissionais tendo de lidar com tudo aquilo que atletas precisam realmente lidar na carreira. Nisso entra: disputa por posição e vaga de titular, lesão e recuperação de lesão, lidar com má fase, treino para aperfeiçoar alguma característica, problemas extracampo, rivalidade com atletas de outras equipes e muito mais.

Pra mostrar tudo isso, Masaya Tsunamoto, o autor do mangá, recheia o elenco do time com vários perfis diferentes de atletas. O E.T.U. é uma mistura de jogadores experientes remanescentes da última temporada e de jovens novos atletas que estão buscando espaço, cada um com uma personalidade específica bem traçada.

A direção do clube

Essa parte é mais sucinta, mas é mostrado como funciona o trabalho dentro de um clube com poucos recursos e como os dirigentes precisam lidar com situações adversas, tornando o East Tokyo United uma verdadeira unidade.

Alguns outros funcionários são apresentados durante a trama: a assessora, fazendo mil e uma coisas o tempo inteiro e até mesmo o olheiro do time, tentando trazer novos talentos pra equipe e mostrando como funciona o scout.

torcida organizada do East Tokyo United
Skulls, torcida organizada do East Tokyo United. Imagem: NHK/Reprodução.

A torcida

No início da história, a única torcida ativa do time é a organizada “The United Sulls”, que cobra ofensivamente a diretoria e discorda muito da contratação de Tatsumi. Além de mostrar o núcleo deles e todos os problemas que torcidas organizadas têm, há muito mais.

O retorno de Tatsumi Takeshi chama a atenção de um antigo torcedor, esse já mais velho, que começa a reunir os seus amigos dos “bons tempos” para voltar a acompanhar e torcer. Enquanto isso, o filho mais novo desse torcedor, que joga nas categorias de base do E.T.U., tenta formar uma torcida organizada mirim com os seus amigos.

A imprensa

Apesar de passar despercebida por muitos fãs, essa é minha parte preferida, principalmente por eu estudar jornalismo. Aqui, se foca muito mais em uma personagem específica, que é setorista do East Tokyo United, que depende muito que certas coisas aconteçam pra que o trabalho dela funcione. Há um fotógrafo que vez ou outra interage com ela e tem lá os seus momentos, até mesmo aprendi algumas dicas lendo o mangá.

Resultado de imagem para giant killing
Um dos personagens brasileiro da série de mangá e anime (Imagem: Reprodução / NHK)

O futebol japonês

Além de tudo o que é muito bem apresentado pelo mangá, o que mais pode se destacar diante de outros títulos japoneses sobre futebol, é como Giant Killing realmente explica muito sobre como a modalidade é praticada no Japão.

Todas as competições são reais e, por causa dos direitos reservados, cada um dos times tem um nome alternativo. Cada detalhe da J-League e de outros torneios é muito minucioso, além de, durante o jogo, algumas regras e lances serem explicados.

Outro detalhe interessante é o fato de terem vários jogadores estrangeiros, como realmente é visto no país. E muitos, muitos mesmo, deles são brasileiros. Em vários times há brasileiros e eles sempre são bem característicos.

A seleção olímpica também é trabalhada num ponto mais futuro da série, mostrando gradualmente como funciona o monitoramento do treinador e a cultura japonesa de convocação, que é bem diferente da nossa.

Para entender melhor isso e todos os outros detalhes, você realmente precisa ler e descobrir a magia de Giant Killing. É uma situação cativante, que presenteia o leitor com uma experiência diferente.

Enquanto outros mangás e animes de futebol vão te passar a emoção do jogo, Giant Killing te oferece o universo do futebol, mesmo não ficando pra trás no quesito emocional. Enquanto os outros mangás ajudam na popularização do esporte e no entretenimento, Giant Killing é um mangá para quem é fã, entusiasta do futebol.

Mesmo com a abordagem mais adulta, é uma experiência divertida e acessível, que com certeza vai te fazer imergir e simpatizar – ou não -, com cada personagem que faz o East Tokyo United acontecer.


** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
Seja um dos 14 apoiadores do Ludopédio e faça parte desse time! APOIAR AGORA

Marcus Arboés

Acadêmico em jornalismo na UFRN, narrador esportivo em formação e apaixonado por um futebol bem jogado e com aproximações, no melhor estilo latino! Atuo no Universidade do Esporte.

Como citar

ARBOéS, Marcus. Giant Killing – o mangá com todas as nuances do futebol. Ludopédio, São Paulo, v. 140, n. 29, 2021.
Leia também: