Goalball do Brasil na trilha do sucesso!
Nos últimos dias de maio de 2018, partiu do Brasil em direção a Malmö, Suécia, uma delegação de esportistas e apoios técnicos com vistas à participação em um campeonato mundial sui generis: o World Goalball Championship ou Campeonato Mundial de Goalball, um evento sancionado pela Federação Internacional de Esportes para Cegos (IBSA). Tal delegação brasileira trouxe como resultado a medalha de bronze na categoria feminina e a de ouro na masculina.
Para quem nunca ouviu falar na modalidade, não tem ideia do que ela representa para quem a pratica ou, para aqueles que não conhecem sua história, apenas as medalhas podem não dizer muito. Porém, acreditem, não é bem assim. Praticado por atletas brasileiros e brasileiras que possuem alguma deficiência visual, o goalball como esporte tem empolgado sistematicamente centenas de pessoas há muitos anos. Ele é jogado numa quadra com as mesmas dimensões do voleibol, possui linhas táteis em relevo para melhor posicionamento de atletas e a equipe que fizer mais gols vence a contenda. O placar é interrompido quando houver um saldo de 10 gols de diferença entre um e outro time. E há competições para ambas as categorias, masculina e feminina.
Sua história remonta ao “mito de origem” (para usar termos críticos do historiador francês Marc Bloch) dos médicos europeus alemães e austríacos que o teriam desenvolvido para equacionar tarefas pós-reabilitatórias para soldados mutilados na Segunda Guerra Mundial. No Brasil chegou alguns anos mais tarde, por vias distintas, porém sua prática se iniciou, ainda parcamente sistematizada, no transcorrer dos anos 1980. Ele é um esporte específico para indivíduos cegos e com deficiência visual (em diferentes níveis que combinam acuidade e campo visual) e naqueles anos não empolgou praticantes inveterados de futsal. Afinal, nos anos 1980 ainda vivia-se a euforia das conquistas futebolísticas nacionais de 1958, 1962 e 1970 e isso atingia a todos em todo o país – inclusive os cegos!

A prática do goalball ganha fôlego renovado a partir de algumas decisões institucionais da extinta Associação Brasileira de Desportos para Cegos (ABDC), que em 1997 decide injetar esforços para alavancar a modalidade de último posto de suas opções esportivas para um dos paradesportos mais bem estruturados de seu catálogo. A então Coordenação Técnica Nacional da modalidade não apenas implantou uma competição setorizada por regiões geoeconômicas, como proporcionou cursos sistemáticos de formação de árbitros e técnicos, o que inevitavelmente desembocou em melhor qualificação de atletas nos anos que se sucederam. Paralelo a isso, a decisão de apitar o goalball em inglês em todo o Brasil, que num primeiro momento ganhou críticas ferrenhas de todos os setores envolvidos com a modalidade, qualificou de igual maneira todo um corpo de profissionais (de atletas a árbitros/as e técnicos/as), habilitando-os/as para participações internacionais, que virariam rotinas a partir de 2001.
A primeira conquista de vaga para os Jogos Paralímpicos veio em 2003, no evento qualificatório das Américas em Quebéc, Canadá. No ano seguinte, nos Jogos de Atenas-2004, o goalball feminino brasileiro participaria junto às outras equipes selecionadas, talvez não em mesmo pé de igualdade em termos técnico-táticos, mas certamente ostentando prerrogativa de respeitabilidade pelo feito de ali estar. Em 2008, na imponente capital chinesa, ambas as equipes marcaram presença pela primeira vez na história paralímpica brasileira da modalidade e até hoje não deixaram de se fazer representar. Em Londres-2012 e no Rio-2016 participaram das contendas com resultados expressivos e dignos de nota no rol das equipes com tradição no jogo: a seleção masculina de goalball logrou, respectivamente, uma medalha de prata dos jogos londrinos e uma de bronze dos jogos cariocas.
Muito do sucesso do goalball tem relação com uma equipe de profissionais que há muito tempo vem trabalhando em prol do desenvolvimento da modalidade. Salvo novas figuras (como psicólogas, fisioterapeutas e demais pessoas de suporte), técnicos, auxiliares-técnicos e mesmo preparadores físicos vêm de longa data aperfeiçoando perspectivas do treinamento deste (para)esporte coletivo e desenvolvendo procedimentos que ajudam a melhorar o jogo de atletas brasileiros/as em relação aos estrangeiros/as. Afinal, se os/as brasileiros/as têm cerca de 15 anos efetivos numa prática mais sistemática de treinamento de alto rendimento do goalball, países como Alemanha, Áustria, Inglaterra, Finlândia, Suécia já o praticavam desde fins dos anos 1940, e outros, como Canadá e EUA, desde os 1970. Junto com países como Turquia, Irã, Japão, México ou Coreia do Sul somos a surpresa que ainda se reinventa e modifica a geopolítica do goalball em nível global.

Além disso, não se pode esquecer que o suporte institucional do Comitê Paralímpico Brasileiro e das associações e federações nacionais sempre foram fundamentais para a consolidação da prática e seu espraiamento. Claro que, em termos de resultados, nunca a modalidade viu tanto recurso disponível a partir das marcas auferidas de 2012 em diante.
Com seus poucos 21 anos de quadras, o goalball brasileiro mostrou que é mais do que um mero esporte criado para pessoas com deficiência; é uma modalidade de alto rendimento, que empolga pelas jogadas e envolve pelas peculiaridades de seu desenvolvimento. Muito ainda a empolgar toda a sociedade brasileira, o goalball já se encontrou e, a cada dia que passa, percorre cada vez mais milhas dessa trilha do sucesso!