– Soube do meu gol no jogo de ontem?
– Mais ou menos, por alto…
– Perdeu.
– Ah, é? Como foi? Tive um compromisso, não deu pra ir.
– Rapaz, tava uma pressão desgraçada, partida difícil, equilibrada. Geral na área e fiquei mais afastado pra impedir um contra-ataque, né? Aí a zaga afastou, ela sobrou limpinha pra mim, veio devagarinho, tava pedindo, peguei na veia.
– Eita!
– Calma… foi no ângulo, o goleirão se esticou todo, eles ficaram com o olho todo arregalado, golaço. Do jeito que eu gosto. O juiz apitou poucos segundos depois, foi o gol da vitória. Acabou 4 a 3 pra nós. Fosse futebol profissional, meu bicho seria dobrado, sem dúvidas.
– Estranho.
– Foi estranho não, foi um golaço aço aço mesmo. Daqueles de ganhar placa, sair nos programas de gols históricos daqui a dez, quinze anos. Os caras tão me devendo, pode crer.
– Não, pô. Estranho é que a galera falou de um jeito diferente.
– Como assim?
– O pessoal disse que não foi bem assim. Que acertou um chutão despretensioso, desengonçado. A bola desviou num zagueiro desavisado, o goleiro escorregou e só assim a bola foi pro gol. Não falaram tudo isso aí não, viu?.
– O povo gosta de diminuir, né? Pura inveja! Sempre assim, quem tava lá e viu comemorou como em Copa do Mundo.
– Mas quem comentou tava lá.
– Papinho. Tá mais que na cara, preciso ser titular pra mudar a cara do time, o que custa reconhecer isso?
– Olha, o pessoal andou dizendo que você amassou a bola o jogo todo. Não saiu porque não tinha ninguém no banco, tava todo mundo irritado e deu a sorte de a bola sobrar assim, por mero acaso.
– Esses caras não manjam nada de futebol, rapaz.
– Será? Não tem uns dois ou três caras do time que chegaram a jogar no profissional? Eles tavam reclamando…
– Besteira. Tem uma história de uma antiga namorada que um deles perdeu pra mim, rapaz. Você sabe que mando bem, mas não quis ir atrás dessa carreira porque preferi estudar.
– Entendi, entendi.
– Próximo jogo é semana que vem, vai me ver dar show?
– Não sei, preciso resolver umas coisas e…
– Rapaz, vê se aparece, vai valer a pena.
– É que eu tenho uns compromissos…
– Para, vai lá. Eu resolvo, vale a pena adiar teu compromisso aí.
– Tá bom, vou sim. Quero ver isso.
– Valeu, até o próximo jogo.
– Vai lá, craque, abraço!