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Idade x Desempenho: uma análise de equilíbrio do elenco dos grandes paulistas em 2022

O período entre o fim de uma temporada e o início de uma nova é sempre marcado pelas especulações de saídas e chegadas nos clubes. As torcidas em geral, com saudades de verem suas equipes em campo, criam grandes expectativas com as movimentações das diretorias em relação à montagem do elenco para o próximo ano, na esperança da vinda de grandes atletas e também da saída daquele jogador nem tão querido assim.

Diferentes estratégias podem ser adotadas na montagem das equipes para o ano seguinte, refletindo normalmente o momento no qual o clube se encontra. Equipes já estruturadas costumam buscar poucas peças, enquanto equipes muito jovens ou muito experientes tentam balancear a idade de seus elencos. O fato é que essa montagem inicial irá ditar muito provavelmente o sucesso ou fracasso da equipe na busca de títulos e outros objetivos ao longo de toda a temporada, além de também influenciar os rumos do clube para os anos seguintes.

A partir dessa ideia, apresentamos a seguir uma análise sobre os elencos dos quatro grandes clubes do estado de São Paulo, observando a idade dos atletas de cada equipe e tentando entender de qual forma este dado se refletiu na temporada 2022 das equipes. Para essa análise, foram coletadas as idades inteiras de todos os jogadores que constavam no elenco profissional nos sites oficiais de cada clube na primeira semana de outubro de 2022. A coleta dos dados foi realizada neste momento da temporada pelo fato da importância do mês de outubro no calendário das equipes, em que houveram as finais da Copa do Brasil, da Copa Sul-Americana, da Libertadores e a reta final do Brasileirão, que se encerrou no início de novembro.

Essa análise tem como objetivo ilustrar um pouco a temporada de cada clube, não sendo um levantamento estatístico mais aprofundado. Por isso foi considerada apenas a idade completa de cada atleta, não se levando em consideração a idade decimal (atletas, por exemplo, de 20 anos recém completados e de 20 anos e 11 meses foram colocados na mesma categoria). 

Por fim, classificamos os atletas em cinco categorias segundo suas idades: 1- Revelação (até 20 anos), 2- Pré-auge (entre 21 e 25 anos), 3- Auge (entre 26 e 30 anos), 4- Pós-auge (entre 31 e 35 anos) e 5- Declínio (igual ou acima de 36 anos). Ainda que tenhamos total clareza de que essas caixinhas não conseguem dar conta das fases da carreira de um jogador, acreditamos que observá-las pode nos dar um parâmetro geral da situação de cada uma das equipes, principalmente em questões físicas e de amadurecimento.

Para esclarecimento: Palmeiras, Corinthians e Santos não têm como costume incluir em sua relação de elenco profissional no site oficial os jogadores oriundos das categorias de base que ainda mantenham relações com as equipes inferiores, ainda que já estejam integrados ao elenco adulto e disputem jogos pelo profissional de forma ocasional ou constante. Por esse motivo, jogadores como Endrick, Robert Renan e Miguelito não aparecem na análise. Por outro lado, o São Paulo inclui em sua relação todos os atletas integrados ao elenco profissional

Sem mais delongas, vamos para a análise!

Abel Ferreira
Fonte: divulgação

Palmeiras

Sem dúvidas, a grande equipe paulista da temporada. Sob o comando de Abel Ferreira, o Palmeiras alcançou os títulos de campeão Paulista e da Recopa no primeiro semestre e dominou completamente o Brasileirão no decorrer do ano. Tal constância, entre outros fatores, também pode ser explicada pelo equilíbrio do elenco palmeirense, com muitos jogadores com bastante tempo de casa e vivendo seus respectivos auges de carreira na equipe:

O fato é que o equilíbrio apresentado na temporada palmeirense é perfeitamente refletido em seu elenco. Mais da metade da equipe se encontrava na categoria “Auge” no momento do levantamento, e apenas três atletas já haviam passado desta fase da carreira, sendo dois goleiros (que reconhecidamente possuem uma longevidade maior de desempenho) e um defensor. Não à toa a intensidade e o equilíbrio emocional (apesar de algumas expulsões desnecessárias), junto de uma baixa quantidade de lesões mesmo com um elenco pouco numeroso, foram marcas da equipe palmeirense neste ano vitorioso.

Também chama a atenção o fato de que praticamente toda a equipe titular durante a temporada, com as exceções de Murilo e Piquerez, já pertencia ao elenco desde o início do trabalho de Abel Ferreira. Com certeza o tempo de treino e maturidade de uma proposta de jogo têm papel mais do que fundamental no sucesso palmeirense dos últimos anos.

Corinthians

Uma temporada de altos e baixos, com troca de comando ainda durante o Campeonato Paulista, mas que terminou com um saldo positivo com o vice-campeonato da Copa do Brasil e a classificação direta para a fase de grupos da Libertadores 2023 por meio do Brasileirão. Podemos ver o Corinthians como um elenco um tanto desequilibrado, algo que com certeza atrapalhou na maratona de jogos que foi em 2022.

 

Ao analisarmos o elenco corintiano, chama-nos a atenção o fato de apenas quatro jogadores se encontrarem na categoria “Auge”, sendo eles os atletas Rafael Ramos, Cantillo, Bruno Melo e Ramiro, todos reservas. De ponto positivo, vemos diversos jogadores já importantes na equipe na fase de “Pré-Auge”, como Roger Guedes, Maycon, Yuri Alberto e Fausto Vera, que podem garantir uma base sólida e ainda em evolução para as próximas temporadas. 

De ponto negativo, jogadores importantes como Renato Augusto, Fagner, Gil, Cássio (“Pós-Auge”) e Fábio Santos (“Declínio”) já se encaminham para o final de suas carreiras, não entregando a intensidade necessária em alguns momentos ou precisando serem poupados em muitos momentos visando jogos mais importantes. Isso mina a capacidade corintiana de competir em disputas longas de pontos corridos, como o Brasileirão, ainda que mantenha o time forte em mata-matas. As lesões, muito constantes na temporada, também são um importante desafio em um elenco um tanto envelhecido.

Corinthians
Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians/Fotos Públicas

São Paulo

O ano são-paulino também pode ser considerado de altos e baixos, mas com um gosto bem mais amargo do que o corintiano. Finalista do Paulistão e da Copa Sul-Americana, a equipe de Rogério Ceni sucumbiu nas decisões com um futebol muito aquém do esperado. E apesar de ter ido bem na Copa do Brasil, atingindo as semifinais, a fraca campanha no Brasileirão e a consequente não classificação para a Libertadores deixou um clima de temporada perdida no Morumbi. Com um elenco majoritariamente jovem, talvez a falta de experiência por parte dos garotos e de poder de decisão por parte dos mais velhos tenham sido os fatores que culminaram na temporada abaixo do esperado.

Chama a atenção que o elenco são-paulino é mais balanceado do que o corintiano, tendo um número alto de jogadores no “Auge” e uma fatia importante no “Pré-Auge”, totalizando 23 atletas nessas duas faixas. Mais do que um elenco desequilibrado, portanto, podemos enxergar o fracasso da equipe como uma má escolha dos nomes da equipe em si, bem como da insistência e baixo aproveitamento de outros atletas.

Alguns jogadores contratados e que poderiam levar experiência a equipe, como Nikão e Alisson, tiveram a temporada atrapalhada por lesões e pouco acrescentaram. Outras contratações, como Ferraresi, Bustos e Galoppo, tiveram poucas chances com Ceni. A insistência do treinador em outros nomes, como são os casos de Igor Gomes e Éder, também se mostrou equivocada nos momentos decisivos. Ainda que conte com jogadores com bom rendimento e que podem evoluir ainda mais, como Calleri, Luciano, Nestor e Diego Costa, o São Paulo precisará ser mais certeiro do que tem sido nas contratações se quiser um time que brigue por coisas grandes em 2023.

Rogério Ceni
Foto: reprodução Twitter/São Paulo

Santos

A temporada Santista, sem dúvidas, foi a pior entre os grandes paulistas. Quase rebaixado no Paulistão, eliminado de forma precoce na Copa do Brasil e na Sul-Americana e amargando um 12º lugar no Brasileirão, a equipe esteve longe de brilhar na temporada. Também apresentando um elenco jovem, a falta de experiência e poder de decisão (para não dizer “falta de qualidade”, em bom português) dos jogadores mais velhos contrasta com a estrela dos garotos Marcos Leonardo e Ângelo, que já são os destaques da equipe, algo não tão anormal na Vila Belmiro.

A equipe santista mostra um perfil parecido com a são-paulina, com uma grande quantidade de atletas em momentos de “Pré-Auge” e “Auge”. E de certa forma, uma análise parecida pode ser realizada, ao observarmos que a grande questão da equipe em si é a falta de qualidade do elenco, que tem nos dois garotos já citados, ambos na fase de “Revelação”, suas maiores esperanças de vitórias. Para além destes, apenas o ponta Soteldo e o goleiro João Paulo podem ser apontados como destaques reais da equipe ao compararmos com outros plantéis.

O ataque, portanto, mostra que tem bons valores a serem explorados e desenvolvidos. A defesa e o meio-campo, porém, caminham na direção oposta, sofrendo em excesso e contando com os milagres rotineiros de seu goleiro durante as partidas. As perspectivas santistas não são das melhores, que com pouco poder financeiro para contratar, precisará mais uma vez encontrar dentro de suas categorias de base as soluções para muitos de seus problemas. Resta torcer para que a equipe se encontre desde o início da temporada e consiga manter suas jovens promessas/realidades pelo maior tempo possível.

Santos
Fonte: Ivan Storti/Santos FC/Fotos Públicas

Conclusão

A partir desta análise, podemos ver com mais clareza quais são os pontos que cada uma das equipes deve ter como base para a montagem do elenco de 2023. O Palmeiras, grande destaque, deve se preocupar com a manutenção de seu elenco, encontrando apenas peças pontuais que qualifiquem ainda mais seu plantel e reponha eventuais saídas. O Corinthians, por sua vez, precisa ter uma preocupação maior com o rejuvenescimento de sua equipe, que apresenta bons nomes e tem bom potencial, mas que tem menos fôlego para gastar na longa e desgastante temporada brasileira.

São Paulo e Santos, por fim, se encontram em situações mais desafiadoras, com pouco dinheiro em caixa e, consequentemente, poucas possibilidades de investimentos. Ambas as equipes precisam ser certeiras no mercado se quiserem competir com seus rivais, trazendo peças que cheguem prontas para jogar. A equipe do Morumbi precisa de jogadores decisivos, que tomem conta da posição e acabem com a desconfiança de treinador e torcedor logo de cara. Já a equipe da Vila Belmiro carece de experiência,que faça com que não caia nas costas dos garotos de menos de 20 anos a responsabilidade de conduzir o time por toda a temporada.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Gustavo Dal'Bó Pelegrini

Professor de Educação Física e mestrando na área de Educação Física e Sociedade. E um pouco palmeirense. @camisa012

Como citar

PELEGRINI, Gustavo Dal'Bó. Idade x Desempenho: uma análise de equilíbrio do elenco dos grandes paulistas em 2022. Ludopédio, São Paulo, v. 163, n. 17, 2023.
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