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A influência política no Dínamo Zagreb

Dyego Lima Universidade do Esporte 15 de novembro de 2020

Fundado no dia 26 de abril de 1911, o Dínamo é oriundo da cidade de Zagreb, capital da Croácia. Durante toda a sua existência, o clube esteve presente na elite dos campeonatos nacionais. Na Liga Iugoslava, de 1946 até 1991. Na Liga Croata, desde seu surgimento em 1992. O time possui um leão como mascote, apelidado de Maksi. Ele representa força e resistência, características tidas como essenciais para a conquista da independência croata em 1992. Até o início da década de 90, o ano de 1945 era considerado o de fundação do clube. Entretanto, em meio a turbulências políticas durante a dissolução da Iugoslávia, a equipe passou a reivindicar linhagem direta com o Gradanski Zagreb e o HASK Gradanski, datados de antes da Segunda Guerra Mundial, e dissolvidos durante o regime comunista no país. A sigla GNK em seu nome faz essa referência, significando Gradanski Nogometni Klub.

A casa do Dínamo é o Stadion Maksimir, em homenagem ao maior parque urbano da cidade de Zagreb. Inaugurado no dia 5 de maio de 1912, passou por várias reformas ao longo dos anos. A última delas, em 2011, deixou o estádio com a sua capacidade atual de 35.123 lugares. É lá que a equipe sedia o Eternal Derby, que é como o clássico contra o Hajduk Split, seu maior rival, é apelidado.

O conturbado início

Em 1911, quando a Croácia ainda era parte do Império Austro-Húngaro, o Gradanski foi fundado por Andrija Mutafelija e alguns amigos. Era uma resposta aos rumores de que os clubes deveriam jogar apenas pela Liga de Futebol Húngara, em oposição à União Esportiva Croata, que estava prestes a ser estabelecida. O Gradanski surgiu como um clube poliesportivo destinado a atender os cidadãos de Zagreb, contando com seções dedicadas ao futebol, handebol e ciclismo. Internacionalmente, a equipe participou de algumas turnês de sucesso. Uma delas em 1923, quando venceu o Barcelona e o Athletic Bilbao na Espanha. O time também costumava viajar à Áustria e à Hungria para fazer amistosos contra clubes locais.

Gradanski, campeão do Reino da Iugoslávia em 1923. Foto: Wikipedia.

Em 1936, fizeram um tour pela Inglaterra, ocasião em que adotaram a formação W-M, que os ajudou a vencer o Campeonato Iugoslavo naquele ano e no seguinte. Márton Bukovi, técnico do Gradanski nas conquistas, foi o responsável por introduzir o W-M na Hungria no final da década de 1940 e pela sua modificação, passando a ser agora um W-W. A formação ajudaria a lendária seleção húngara na Copa do Mundo de 1954, quando seria derrotada pela Alemanha Ocidental na final. O esquema chegaria ao Brasil como um 4-2-4.

O Gradanski competiu na Mitropa Cup, a primeira competição internacional de clubes da Europa, em três oportunidades. Em 1928, caiu nas quartas, derrotado pelo Viktoria Zizkov, da Tchecoslováquia. Em 1937, foi eliminado já na primeira rodada ante o Genoa, da Itália. Finalmente, em 1940, o seu melhor desempenho. A equipe alcançou a final, mas o duelo contra o Ferencváros nunca aconteceu por conta da Segunda Guerra Mundial.

Invadido pelas potências do Eixo em 1941, o Reino da Iugoslávia foi dissolvido e as competições esportivas no país foram suspensas. O Estado Independente da Croácia, um estado fantoche apoiado pelos nazistas e pelos fascistas, foi a exceção, que pôde desfrutar de “paz” e da continuidade de seus campeonatos. Durante a guerra, quatro temporadas foram iniciadas, mas só duas foram finalizadas, com o Gradanski sendo campeão em 1942-43. Quando os conflitos foram encerrados em 1945, o Gradanski foi dissolvido pelo novo governo comunista do país, a República Socialista Federativa da Iugoslávia, junto de HASK e Concordia Zagreb, os rivais da cidade. Foi uma punição pela participação dos clubes em uma Liga patrocinada por fascistas em tempos de guerra. O último jogo oficial do time foi um empate por 2 a 2 contra o HASK, em 10 de abril de 1945.

O sucesso na nova vida

Em 9 de junho, uma nova instituição foi fundada: o FD Dínamo. Muitos dos jogadores do antigo Gradanski continuaram suas carreiras na nova equipe, tais como August Lesnik, Branko Plese, Milan Antolkovic, Ivica Reiss e Emil Urch. O time ingressou na Primeira Liga Iugoslava na temporada inaugural de 1946-47. Acabou na segunda colocação, cinco pontos atrás do Partizan. O primeiro título veio na época seguinte, dessa vez cinco pontos à frente do Hajduk Split e do próprio Partizan. Nos anos seguintes, o Dínamo venceria a Liga em 1954 e 1958, além dos vices em 1950, 1964 e 1966. A Copa da Iugoslávia seria conquistada em 1951, 1960, 1963 e 1965.

Na temporada de 1966-67, o clube conquistou a Taça de Feiras, sendo a primeira e única equipe croata com uma conquista continental. A competição foi disputada entre os anos de 1955 e 1971, com o objetivo de promover a amizade entre países. Só participavam times oriundos de cidades que possuíam feiras de comércio. Ela foi a precursora da atual Uefa Europa League. A equipe eliminou Spartak Brno, da então Tchecoslováquia, Dunfermline, da Escócia, Dinamo Pitesti, da Romênia, Juventus e Eintracht Frankfurt, antes de encarar o Leeds na final. O Dínamo ganhou por 2 a 0 em casa e empatou em 0 a 0 na Inglaterra. A conquista veio para redimir o vice-campeonato para o Valência em 1963. O clube fechou a bem-sucedida década de 1960 com o título da Copa da Iugoslávia de 1969.

Grafite em Zagreb homenageia o título do Dínamo na Taça das Cidades com Feiras, em 1967. Foto: Wikipedia.

Os anos 1970 seriam de seca. Nas competições continentais, o sucesso passado não foi repetido. Um novo troféu só seria conquistado no início de 1980, o sétimo da Copa Nacional, batendo o Estrela Vermelha na decisão. Aos poucos, a década de 1980 se mostrava ser de redenção. O Dínamo venceu a Liga em 1982 e novamente a Copa no ano seguinte. Entretanto, esses seriam os últimos títulos da equipe como integrante da antiga Iugoslávia.

A era dourada

Luka Modrić foi capitão do Dínamo dez anos antes da Copa do Mundo da Rússia 2018. Foto: Wikipedia.

Após a dissolução do país, o Dínamo participou da criação da Liga Croata de Futebol, inaugurada em 1992. No mesmo ano, o clube mudou seu nome, de maneira controversa, para HASK Gradanski, e de novo, em 1993, para Croácia Zagreb. As trocas foram amplamente vistas como um movimento político por parte dos líderes da então recém-independente Croácia, com o objetivo de distanciar o clube de seu passado comunista.

Como as nomenclaturas também nunca foram aceitas pelos torcedores, a instituição passou a se chamar Dínamo Zagreb em 14 de fevereiro de 2000. Como Croácia Zagreb, o clube venceu seis campeonatos nacionais, sendo cinco de forma consecutiva, de 1996 até 2000. Já a Copa foi conquistada outras quatro vezes. Em nível continental, as atuações continuavam deixando a desejar. A década de 2000 é considerada a era de ouro do Dínamo. A Liga foi conquistada sete vezes: 2000, 2002, 2003, 2006, 2007, 2008 e 2009. A Copa, outras seis: 2001, 2002, 2004, 2007, 2008 e 2009. Além disso, a Supercopa da Croácia foi conquistada em três oportunidades: 2002, 2003 e 2007.

O clube também produziu muitos talentos que viriam a representar a Seleção Croata no cenário internacional, tais como Luka Modric, Eduardo da Silva e Niko Kranjcar. Porém, os resultados no âmbito europeu continuavam em baixa, com diversas eliminações nas fases iniciais da Champions League e da Uefa Europa Legue. O melhor jogo aconteceu na Champions de 2015, quando, em casa, derrotaram o Arsenal por 2 a 1, no dia 16 de setembro. No mesmo ano, a dobradinha Liga-Copa seria conquistada.

História recente

Na época 2016-17, pela primeira vez desde 2004-05, o Dínamo não venceu o campeonato nacional, além de perder a Copa, que havia sido conquistada nas duas últimas edições. Na Champions, o clube caiu em um grupo com Juventus, Sevilla e Lyon, sendo eliminado sem marcar um gol sequer e levando 15. Aquela foi uma das temporadas mais malsucedidas da equipe em sua história. Ainda em 2016, a escalação ideal da história do Dínamo foi escolhida por um grupo de especialistas, em parceria com os torcedores do clube. O time formado foi: Drazen Ladic; Rudolf Belin, Velimir Zajec, Ivica Horvat e Tomislav Crnkovic; Luka Modric, Zeljko Perusic, Zvonimir Boban e Marko Mlinaric; Drazan Jerkovic e Davor Suker.

Durante 2017-18, Nenad Bjelica assumiu o comando técnico. Ele ajudaria a equipe a garantir mais uma dobradinha Liga-Copa. Ao fim daquela temporada, o ex-diretor executivo do Dínamo, Zdravko Mamic, foi condenado a seis anos e meio de prisão por corrupção, o que pegou o clube de surpresa. Entretanto, isso acabou não afetando o desempenho em campo. Na Europa League de 2018-19, o Dínamo alcançou o mata-mata de uma competição continental pela primeira vez em 49 anos. Acabaria eliminado pelo Benfica nas oitavas de final. Na Liga Croata, a hegemonia continuou, com o 20° título sendo garantido. Na Copa, vice-campeonato após derrota para o NK Rijeka. Na Supercopa, a conquista do sexto troféu. Na última temporada, o sucesso local continuou. A Liga e Copa foram conquistadas mais uma vez, e nem mesmo o fracasso na fase de grupos da Champions League, com a eliminação na última colocação do grupo C, foi capaz de ofuscar mais um grande ano.


** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Dyego Lima

Jornalista formado pela UFRN. Aficionado por esportes. Futebol principalmente, mas não somente.Made in Universidade do Esporte! 

Como citar

LIMA, Dyego. A influência política no Dínamo Zagreb. Ludopédio, São Paulo, v. 137, n. 30, 2020.
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