Lésbica e acusada de tráfico: os problemas de Brittney Griner na Rússia
A jogadora estadunidense de basquete profissional, Brittney Griner, foi presa na alfândega russa, em fins de fevereiro passado, por transporte ilegal de drogas. Ela supostamente carregava cartuchos de óleo de canabis (maconha), o que não é permitido na Rússia.
Logo na detenção, no aeroporto de Sheremetyevo (arredores de Moscou), as autoridades acusaram-na de “transporte de drogas em larga escala”. Isso ainda segue sob investigação.
O fato é que Griner está detida há mais de dois meses e, segundo o senador democrata Tim Kaine, provavelmente se encontra na condição de “moeda de troca”, devido às crescentes tensões entre norte-americanos e russos no contexto da Guerra da Ucrânia.

A atleta é duas vezes medalhista olímpica de ouro nas disputas do basquete estadunidense, respectivamente, nos Jogos Olímpicos de Verão do Rio-2016 e de Tóquio-2021.
No entanto, quanto mais passa o tempo, além da possível pena de até dez anos de detenção na Rússia, outros fatores vão complicando a vida da basquetebolista. Griner é mulher negra e lésbica, elementos que complicam sua condição devido à política sexista, racista e homofóbica de Vladimir Putin.
Em termos de política externa, também vale lembrar que o presidente russo tem se posicionado contra as sanções feitas pelas nações ocidentais (e pelos Estados Unidos), interpretando-as como “declarações de guerra”. Neste sentido, mais do que moeda de troca, Griner pode estar sendo usada como “peão político”.
Como mulher negra, por sua vez, ganha menos que outros atletas no basquetebol dos EUA, notadamente, homens, tanto brancos quanto negros.
E, assim como muitas outras jogadoras de basquete da WNBA (Liga de Nacional de Basquete Feminino), ela viaja constantemente entre temporadas para fazer um “pé de meia” e ganhar um dinheiro extra no exterior. Há tempos jogava pela equipe russa UMMC Ekaterinburg.
Inclusive Tamryn Spruill, uma ativista mulher negra, deu início a uma petição pontuando exatamente tal questão, qual seja, a da desigualdade de rendimentos em termos de salários, no campo do basquete profissional estadunidense, entre atletas homens e mulheres.

Como mulher lésbica publicamente assumida, por outro lado, ela congrega a raiva e homofobia de pessoas conservadoras, particularmente de Putin e seu governo.
Basta lembrar de sua lei “anti-propaganda gay” (anti-gay propaganda law), gestada às pressas ainda durante o ano de 2013, com vistas a ser aplicada nos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi-2014.
Essa lei punia com prisão, e possível multa, as manifestações a favor da “homossexualidade como comportamento normal”. A decisão parlamentar havia sido amparada pela Igreja Ortodoxa e grupos conservadores russos, que defendiam a “família e os valores tradicionais”, de um contexto notadamente cisgênero e heteronormativo. Sobre isso já escrevi em outro momento.
Portanto, como “peão político” ou não, a situação de Griner não é nada confortável. O mundo segue em tensão neste contexto em que as sanções contra a Rússia se mantêm, ao passo que o país também estabelece contra-ataques em diversas direções.
Embora parte da diplomacia estadunidense esteja empenhada na libertação da esportista, o sistema jurídico russo tem um movimento próprio e o caso de Griner pode começar a ser arrolado por lá. Há, então, uma corrida contra o tempo.
A detenção de Griner na Rússia foi prorrogada até 19 de maio próximo. Não está claro o que acontecerá com ela depois desta data. Fiquemos alertas!