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Libertadores: um desabafo

Marina Oliveira de Almeida 8 de maio de 2012

O Sport Club Corinthians está em sua 10ª participação na Copa Libertadores da América. A competição nunca foi fácil para o torcedor corintiano. Na verdade, a Libertadores nunca foi fácil pra nenhum time. Mas parece que para o Corinthians é mais difícil ainda.

Desde sua primeira participação na competição em 1977, que o torneio atormenta a vida do torcedor corintiano. O time de Oswaldo Brandão não conseguiu passar da primeira fase, conseguindo apenas uma vitória, ficando em terceiro lugar no grupo.

Após essa campanha desastrosa, o Corinthians sofreu um jejum de 14 anos sem participação no torneio, voltando somente em 1991. Mesmo não fazendo uma boa primeira fase, garantiu a classificação para as oitavas com quatro empates. A única derrota do time na primeira fase rendeu o episódio que ficou conhecido como “chuva de garrafas”. A derrota para o Flamengo dentro de casa revoltou os torcedores, de maneira que esses atiraram diversas garrafas no gramado do estádio do Pacaembu, em São Paulo, como forma de protesto diante de uma campanha considerada fraca. Mas foi na segunda fase, que a torcida pode perceber a situação real do clube dentro da competição. Foi no mata-mata que o Corinthians conheceu a força do futebol argentino, tão afeito à Libertadores da América. Caiu diante do Boca Juniors e foi o começo do mais longo tabu da história corintiana.

Torcedores do Corinthians. Foto: Leonardo Soares.

Em 1996, o Corinthians volta à competição com um time mais encaixado e confiante, com Edmundo e Leonardo no ataque, o time faz uma primeira fase muito boa se classificando em primeiro do grupo. Pela primeira vez o Corinthians conseguiu eliminar um clube na fase de mata-mata. O Espoli, do Equador, caiu diante do time brasileiro com duas derrotas, 1 x 3 e 2 x 0. Ao chegar às quartas o clube enfrentou o Grêmio, de Porto Alegre e não conseguiu ir adiante. Apesar de uma boa campanha até ali, a derrota por 3 x 0 para o time de Luiz Felipe Scolari, “Felipão”, não permitiu ao Corinthians, mais uma vez, manter a chance de sagrar-se campeão da Libertadores.

Depois de três anos, o Corinthians voltou à competição em 1999, provavelmente a mais triste eliminação do time em todas as edições já disputadas. Novamente, o time fez uma boa primeira fase, se classificando em primeiro lugar. Nas oitavas eliminou o clube boliviano Jorge Wilstermann com uma vantagem de gols considerável, 1 x 3 e 2 x 0. Nas quartas enfrentou o rival histórico Palmeiras. Esses 180 minutos o torcedor corintiano não esquece. Nos primeiros 90 minutos venceu o Palmeiras por 2 x 0, já no jogo de volta o Corinthians venceu por 2 x 0. No placar agregado o jogo ficou em 2 x 2, pelo regulamento da competição esse resultado leva os pênaltis. Nos pênaltis o Corinthians caiu: perdeu por 4 x 2 para o Palmeiras. A chance da conquista da América se vai mais uma vez. E o pior, o Palmeiras passou pelo Corinthians e se sagrou Campeão.

No ano seguinte, em 2000, o Corinthians retornou a competição, com status de favorito ao título. Classificou-se em primeiro do grupo na primeira fase. Passou pelo Rosário Central, da Argentina, nas oitavas de final. Passa pelo Atlético Mineiro nas quartas, e pela primeira vez chegou à semifinal do campeonato das Américas. Mas teve pela frente o mesmo carrasco do ano anterior , o seu rival, o Palmeiras. O Corinthians vence o primeiro jogo por 4 x 3. O Palmeiras vence o segundo jogo por 3 x 2. E novamente, empate no placar agregado, novamente pênaltis. Nos Pênaltis, 5 x 4 Palmeiras. Marcelinho Carioca, o ídolo corintiano perdeu o pênalti mais dolorido da existência corintiana. A história se repetiu. Outra chance que se esvaiu, como areia pelos dedos. Novamente pelo grande rival. Novamente o Corinthians não carregou a taça da América. Doeu, talvez menos que no ano anterior, talvez igual, mas o corintiano continuava carregando a sua dor.

Bandeira da torcida do Corinthians. Foto: Mariana Garcia Macedo.

Em 2003, o time retorna à competição. Fez uma boa primeira fase. Mas, um rival argentino foi o algoz da vez. O River Plate eliminou o Corinthians nas oitavas de final com duas vitórias, 1 x 2 e 2 x 1, não dando nem uma chance ao timão.

Em 2006, a eliminação mais devastadora de todas. Devastação no sentido físico mesmo! Após uma bela primeira fase, o Corinthians chegou às oitavas e cruzou novamente com o River Plate. Novamente o Corinthians ficava pelo caminho. O torcedor, cansado de ficar pelo mesmo caminho, explodiu toda a sua raiva e dor invadindo o gramado do Pacaembu. A tentativa de agressão aos jogadores foi barrada pela polícia, houve muita confusão, dentro e fora de campo, alguns torcedores se feriram. Foi um episódio traumático na história do torcedor corintiano. Foi uma forma extrema de dizer ao clube o quanto a Libertadores da América significa para os torcedores apaixonados pelo Corinthians.

Em 2010, uma primeira fase invicta, apenas um empate, poderia ter sido o ano do Corinthians, mas não foi. O algoz da vez foi um time carioca, o Flamengo, um adversário caseiro, conhecido do campeonato Brasileiro, que também desejava a América. E com esse objetivo eliminou o Corinthians nas oitavas de final, com os placares 1 x 0 para o Flamengo e 2 x 1 para o Corinthians, vitória por gols fora de casa. Sempre as oitavas! Os jogadores saíram de campo chorando. E os torcedores também. Talvez as lágrimas dos torcedores fossem mais verdadeiras, reflexo de um triste histórico de anos de eliminação do clube na Libertadores. E o Flamengo, por mais que desejasse a conquista foi eliminado duas semanas depois, nas quartas de final.

Em 2011. Não dá para enxergar o Corinthians na Libertadores de 2011. Os torcedores querem esquecer essa participação. Nesse ano o Corinthians não chegou a disputar a Libertadores de fato. O Corinthians caiu diante do Tolima. E caiu na pré-Libertadores, perdeu para um quase desconhecido time colombiano. Mesmo contando com Ronaldo e Roberto Carlos, jogadores que foram contratados em 2010, justamente pensando em trazer um pouco de esperança de título aos torcedores, o Corinthians caiu novamente. Em 2011, o Corinthians não fez história na Libertadores, no máximo uma nota de rodapé. Foi a pior participação do Corinthians em uma Libertadores.

Vendedor com a bandeira do Corinthians. Foto: Silmara Cavalcanti.

Por quê?

Por que a Libertadores é tão difícil para o Corinthians? Por que um coração corintiano sofre tanto sem essa taça? Por que não conseguimos abraçar a América?

Não é possível responder a tudo isso com facilidade. Não tenho certeza sequer se é possível responder. Mas uma coisa é importante ressaltar. Dói. Dói não ter Libertadores. Mais do que qualquer piada dos rivais, fere o meu coração corintiano nunca ter conquistado a América.

O nervosismo pode explicar todas essas eliminações. Mas entre poder e explicar existe muitas lacunas. A falta de competência também pode explicar, mas somente em alguns casos. Afinal em algumas edições o Corinthians era o favorito. Não sei o que realmente explica essas sucessivas eliminações. Não sei se uma explicação é realmente necessária.

Em 2012, aqui estamos. Uma primeira fase muito boa. Uma goleada incrível, 6 x 0 sobre o Deportivo Táchira, da Venezuela, no último jogo da fase de grupos. E novamente nas oitavas de final. Ah, as oitavas, sempre dando muito trabalho. E o que vem pela frente é o clube equatoriano Emelec. E o que nos resta, é esperança, o sonho. O sonho de trazer no peito uma Libertadores da América, que para o torcedor corintiano significaria muito mais do que para qualquer outro torcedor, porque a Libertadores sempre foi muito mais difícil para o louco torcedor corintiano.

Talvez esse sofrimento seja um pouco inexplicável, talvez meio sobrenatural, mas sentimos que tudo é mais sofrido para nós, talvez a gente já tenha sofrido bastante, e esse ano talvez seja o ano do Corinthians na América. Enquanto as coisas não se definem ficamos com o sofrimento do passado e com a esperança no futuro.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Marina Oliveira de Almeida

Formada História na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e é integrante do GIEF (Grupo Interdisciplinar de Estudos sobre Futebol).

Como citar

ALMEIDA, Marina Oliveira de. Libertadores: um desabafo. Ludopédio, São Paulo, v. 35, n. 3, 2012.
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