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Madureira Esporte Clube: entre idas e vindas, entre cores e nomes

João Azevedo 26 de dezembro de 2016

O Madureira Esporte Clube é um tradicional clube da zona norte do Rio de Janeiro, o “Tricolor suburbano” joga há muitos anos o campeonato carioca da primeira divisão, torneio este que o clube se sagrou vice-campeão em 2006, após ter sido campeão da taça Rio. Em 2010, o time pela primeira vez subiu de divisão em um campeonato nacional, após ser vice-campeão da série D do brasileirão. A história deste clube suburbano do Rio se notabiliza pelas diferentes etapas no seu processo, notadamente as mudanças de nome, cores da bandeira e local de sede e campo.

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Jogadores comemoram o acesso para Série C em 2010.

No início do século passado, o surgimento de clubes esportivos e sociais na cidade do Rio de Janeiro, foi bastante significativo. “Se em 1907 constavam do noticiário dos grandes jornais cariocas cerca de 77 clubes de diferentes perfis sociais, em 1915 apareciam 216 só nas páginas do jornal O Imparcial – tendo quase triplicado, em oito anos, o número de clubes futebolísticos no Rio de Janeiro”[1]. Um desses tantos clubes que surgiam pela cidade, era o Fidalgo Football Club, fundado em 8 de agosto de 1914.

[1] Pereira, L.A.M. Footballmania: Uma história social do futebol no Rio de Janeiro, 1902-1938. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. p. 147.

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Escudo do Fidalgo Football Club

O Fidalgo Football Club tinha campo e sede na rua Domingos Lopes[1] no bairro de Madureira. O bairro tinha também um outro clube de futebol contemporâneo ao Fidalgo. O Magno Football Club foi fundando em 15 de Agosto de 1913 e ficava localizado na rua Carolina Machado[2], na estação de Madureira.

[1] No periódico Diário Carioca de 14 de dezembro de 1930, o cronista informa que a numeração da praça de esportes fica nos números 149 à 169 da rua Domingos Lopes. Já no Jornal do Brasil de 24 de março de 1931, é informado o número 199 da rua Domingos Lopes como a praça de esportes do Fidalgo Football Club.

[2] A Batalha, Anno IV, n.00675, 15 de março de 1932, p.7.

Na década de 1910 o Fidalgo era vinculado a Associação Atlética Suburbana, tendo conquistado o título em 1919. No decênio seguinte, filia-se a LMDT (Liga Metropolitana de Desportos Terrestres). Nos anos de 1920 começam aparecer com mais força as disputas entre os clubes e ligas pela hegemonia do futebol quando em 1925 ao tentar filiação junto à AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Athleticos) criada em 1924, o Fidalgo é negado pela Associação[1] e permanece filiado a LMDT até 1934.

Segundo o site oficial do Madureira Esporte Clube[2], no dia 16 de fevereiro de 1933 ficou considerado a fundação do Madureira Atlético Clube após o fechamento do Fidalgo Football Club. O Madureira A.C herdou a cor roxo do Fidalgo[3], juntando com as cores branco e azul (que seria herdada do Magno F.C) e o seu campo de jogo na rua Domingos Lopes.

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Símbolo do Madureira Atlético Clube e jogador do MEC usando a camisa comemorativa ao centenário do clube em partida válida pelo Campeonato Carioca de 2014.

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Em 1935 o Madureira A.C realiza obras de melhoria no seu estádio como noticiado pela Gazeta de Notícias no dia 23 de outubro daquele ano. “Domingo próximo, o Madureira A.C, inaugurará os melhoramentos feitos em sua praça de sports, na rua Domingos Lopes, ficando desse modo a pujante Federação Metropolitana de Desportos, com mais uma praça de sports, para enriquecer seu archivo.”[1]Contudo o Diario da Noite de 22 de novembro de 1935 anuncia que a prefeitura da então capital federal manda fechar o Madureira A.C por falta de segurança nas instalações.[2]

Até que em 1939 após um jogo válido pelo campeonato carioca contra o Flamengo, a Polícia interditou mais uma vez o estádio do Madureira A.C por conta de um desabamento da arquibancada local.[3] Com o estádio interditado e um fraco desempenho no torneio o comerciante da região Aniceto Moscoso se propõe a construção de uma nova praça esportiva para o Tricolor suburbano. Em 1941 o estádio que leva o seu nome é inaugurada à rua Conselheiro Galvão, em Madureira, com a vitória do clube local sobre o Fluminense pelo placar de 4×2.[4]

[1] Gazeta de Notícias, Anno 61. n.251, 23 de outubro de 1935, p.12.

[2] Diario da Noite, Anno VII, n2.475, 22 de novembro de 1935. P.3.

[3] Diario da Noite, Anno XI, n.03757, 22 de setembro de 1939, p.6.

[4] Esporte Ilustrado, Ano 4, n.161, 19 de julho de 1941

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Inauguração do Estádio Aniceto Moscoso, em Conselheiro Galvão. 1941.

O Madureira A.C é o clube brasileiro que mais tempo permaneceu atuando no exterior em uma única excursão. Foi em 1961 quando realizou 36 jogos em 144 dias pela Europa, Estados Unidos e Ásia. O time do Zé Carioca[1] foi também o primeiro clube brasileiro a disputar partidas no Japão e em Hong Kong. [2] Dois anos após o clube realiza uma viagem pela América Latina, depois de passar por Colômbia, Costa Rica, El Salvador e México, chegam a Cuba onde realizam cinco jogos e um deles fica marcado para história com uma fotografia da equipe posando ao lado de Che Guevara que assistia à partida.

[1] Mascote do Madureira.

[2] Disponível em: <http://madureiraec.com.br/index.php/historia> acesso em 11 de outubro de 2016.

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Camisas do Madureira lançadas em 2014 em homenagem as excursões por Hong Kong e Cuba e a tradicional foto da equipe em 1963 ao lado de Che Guevara.

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No início dos anos de 1970, uma vez mais este clube do subúrbio carioca passaria por mais uma mudança. No dia 12 de outubro de 1971 após fusão com dois clubes esportivos do bairro de Madureira, Madureira Tênis Clube e Imperial Basquete Clube, é criado o Madureira Esporte Clube que passou a adotar as cores Amarelo (cor do Imperial B.C), Azul e Grená (cores do Madureira Tênis e Madureira A.C).

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Zé Carioca, o famoso desenho de Walt Disney é o mascote do MEC.
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Escudos que resultam na fusão do Madureira Esporte Clube em 1971.

De lá para cá o Madureira Esporte Clube mantém-se com as mesmas cores, o mesmo estádio e os mesmos sonhos. Apesar do acesso para Série C em 2010, o clube chegou muito perto da Série B em dois anos seguidos, 2013 e 2014. Em 2015 voltou para Série D e este ano não passou da primeira fase da competição. No campeonato regional o Tricolor segue sonhando com o título do torneio.

[1] Gazeta de Notícias, Anno 51, n.00092, 18 de abril de 1925, p.8.

[2] Disponível em: <http://madureiraec.com.br/index.php/historia> acesso em 11 de outubro de 2016.

[3] Jornal do Brasil, Anno XLIV, n.00131, 4 de junho de 1933, p.20.

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João Azevedo

Mestrando em Estudos do Lazer pela UFMG. Graduado em Educação Física pela Universidade Gama Filho-RJ. Membro pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Futebol, Linguagens e Artes (FULIA), da UFMG.

Como citar

AZEVEDO, João. Madureira Esporte Clube: entre idas e vindas, entre cores e nomes. Ludopédio, São Paulo, v. 90, n. 13, 2016.
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