O início do ano para o são paulino não foi empolgante, o torcedor não tinha grandes expectativas. Os reforços chegaram de última hora, nenhum grande nome com a promessa de mudar o time de patamar, e Ceni com uma pré-temporada para trabalhar, ciente de que não teria grandes investimentos e precisaria trabalhar muito bem com todo o elenco por conta do calendário.

Nós, são paulinos aqui do camisa 012 fizemos uma expectativa para o ano que incluía uma classificação para a libertadores pelo brasileirão (acreditando no possível g8), chegar às quartas de final da Copa do Brasil e a final de Paulista e Sul-americana. Nos pareceu metas razoáveis, a garantia de título nunca existe, mas boas campanhas poderiam premiar o ano do São Paulo com um possível título nas duas competições que ele chegaria até a final. O que o torcedor não esperava foi a campanha tão abaixo no Brasileirão. Ao cheiro de uma possível final da Copa do Brasil o tricolor se deslumbrou, sacrificou o caminho mais seguro, embora mais lento, para jogar todas as fichas nas duas copas que poderiam garantir uma vaga na briga pela “glória eterna”, e a chance remanescente se foi na última final da sul-americana.

Foi um  jogo equilibrado. Embora torcedor do tricolor paulista, é necessário fazermos algumas pontuações equilibradas sobre a final que vimos. A primeira coisa que não pode ser ignorada é a qualidade do adversário. O Del Valle é um time com um projeto consistente e de longo prazo com uma equipe bem organizada e filosofia constante, e apesar de qualquer discrepância financeira ou de nível de enfrentamento era de se esperar que a final seria um jogo, no mínimo,  equilibrado. Outro ponto importante é que o São Paulo não conseguiu ser consistente ao longo do ano e tem uma dificuldade gigante em gerenciar o elenco em uma temporada onde avançou bastante nas copas, atropelando ainda mais o calendário insano. Além disso tudo, tem um histórico recente de queda de rendimento em jogos “grandes”.

Independiente Del Valle
Faravelli marcou um gols do Independiente del Valle diante do São Paulo na final da Copa Sul-Americana
Fonte: Divulgação / Conmebol

O que se viu em campo foi um jogo disputado, sem uma grande carga dramática, os dois times tentaram jogar com bola no chão, e as estatísticas foram fiéis em mostrar esse equilíbrio. Com quase 50-50 na posse de bola, as finalizações e as grandes chances criadas também ficaram iguais, segundo o sofascore. Jogando no 4-1-3-2 que se consolidou ao longo do ano, Patrick foi um dos principais jogadores na criação, deixando o time até meio penso com muita chegada do lado esquerdo, junto com Nestor (centralizado) e Calleri. O São Paulo foi ligeiramente melhor no primeiro tempo, no segundo o rendimento não se manteve, muito por conta do nervosismo de estar atrás no placar. O Del Valle foi muito eficiente em aproveitar as chances e embora tenha sofrido alguns sustos sustentou bem a vantagem.

Não concordamos que tenha sido um vexame a derrota tricolor, embora muitos pensem assim. Contudo, a ausência da Libertadores por mais um ano no São Paulo é catastrófica e essa situação cria alvos na cabeça de algumas pessoas dentro da instituição, como por exemplo o Rogério Ceni. Também não concordamos com possíveis turbulências que o Ceni passará nas próximas semanas. Ele nos mostrou que pode ser a única pessoa capaz de tirar o São Paulo dessa situação, trazendo de volta a raça e entrega dos jogadores que faltava a quase uma década.

Porém, ser um grande motivador e gestor de grupos não é mais suficiente e as campanhas do São Paulo durante o ano todo nos mostravam que faltava algo pro time. Ceni mostrou em vários momentos (principalmente os mais importantes) uma teimosia extrema, se agarrando a posicionamentos e atletas que não estavam funcionando no esquema. Galoppo, Nikão, Colorado quase não tiveram chances durante o ano, mesmo com os jogadores da sua posição sendo questionados e jogando bem os minutos que tiveram oportunidade. Rogério Ceni claramente tinha seus preferidos e em alguns momentos queria tanto que eles dessem certo que funcionou como âncora aos pés deles os afundando. Infelizmente, não temos opção e dependemos do Ceni melhorar para evoluirmos. Sentimos que se não for com ele, não será com ninguém.

O grande ponto de reflexão aqui é o peso que essa derrota ganha por conta da campanha no Brasileirão. Até aqui, com uma campanha de meio de tabela o São Paulo vai ter menos de ⅓ do campeonato para se recuperar e tentar a vaga na Libertadores, fundamental para o moral da time e também para o caixa que com passos de tartaruga vai se arrumando. O que sobrou é o caminho mais longo, e agora, a maratona que poderia ter sido disputada com equilíbrio, moderação e tranquilidade, vai virar uma corrida de tiro curto que a cada rodada será de vida ou morte. 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Lucas do Carmo Santos

Formado em educação física, professor de ensino médio e são paulino.

Vitor Freire

Mestre em Educação Física na FEF-UNICAMP, amante de Esportes, são Paulino desde sempre.@vitordfreire@camisa012

Como citar

SANTOS, Lucas do Carmo; FREIRE, Vitor. Mais decepção no Morumbi. Ludopédio, São Paulo, v. 160, n. 13, 2022.
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