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Memória de um histórico 2 de dezembro alviverde

Depois de mais de uma década de vexames e sofrimento, o palmeirense teve sua redenção na conquista da Copa do Brasil 2015. Há cinco anos, num dia 2 de dezembro como hoje, o improvável gol de Fernando Prass recolocou o Palmeiras no caminho dos títulos.

A distância temporal de um determinado acontecimento, normalmente, contribui para aumentar sua importância histórica. No entanto, alguns momentos nos dão a exatidão de seu tamanho na linha do tempo e é possível perceber a história sendo escrita diante dos olhos.

No futebol, a história recente guarda alguns episódios que já estão consagrados mesmo sem tantos anos de distância. Entre palmeirenses, o dia 2 de dezembro de 2015 é, sem dúvidas, uma dessas datas. O contexto no qual o clube foi arremessado após o rebaixamento em 2002 passando por outra queda 10 anos depois e por inúmeros vexames, faz da retomada coroada pela Copa do Brasil de 2015 um dos momentos mais marcantes da história alviverde.

São Paulo- SP- Brasil- 02/12/2015- Em mais um jogo com emoção de minuto em minuto, Palmeiras e Santos decidiram o título da Copa do Brasil 2015 nesta quarta-feira (2), diante de quase 40 mil pessoas, no Allianz Parque. Após perder a primeira partida por 1 a 0, o Alviverde conseguiu a vitória por 2 a 1, com dois gols de Dudu, e levou a decisão para os pênaltis – a primeira na história da competição. Tendo Fernando Prass e Dudu como destaques da decisão – o goleiro defendeu um pênalti e converteu sua cobrança -, o Palmeiras chegou ao tricampeonato do torneio ao vencer por 4 a 3, com direito a uma defesa e a um gol do camisa 1. Foto: Rafael Ribeiro/ CBF

A reconstrução 

O ano do centenário apresentou ao palmeirense o mais tenebroso horizonte. Recém-saído da Série B, o Palmeiras chegou a 2014 com a esperança de fazer uma temporada que honrasse os 100 anos de fundação. 

Com um dos piores elencos que já vestiu a camisa verde, o Palmeiras colecionou desastres durante o ano e só escapou da segundona na última rodada com uma combinação de resultados, quando empatou com o Atlético Paranaense e aguardou o Santos derrotar o Vitória.

Definida a permanência na elite do futebol brasileiro, o planejamento do clube passou a ser a próxima temporada e logo nos primeiros dias após o término do Brasileirão 2014, o pilar dessa reconstrução foi anunciado: Zé Roberto.

Nos primeiros dias de janeiro, o que se viu foi uma enxurrada de reforços. Ninguém contratou tanto quanto o Palmeiras naquele início de temporada e o chapéu na contratação de Dudu resgatou a autoestima do torcedor, que se viu em pé de igualdade com outros clubes. 

A campanha 

Uma mudança na fórmula de disputa alongou a duração da Copa do Brasil, que para os clubes que estavam fora da Libertadores passou a ser disputada logo no início da temporada.

Assim, o Palmeiras deu o primeiro passo na competição em março contra o Vitória da Conquista, na Bahia. No placar a vitória por 4 a 1 animou o palmeirense, mas ninguém imaginava que aquele time poderia ser campeão.

O ASA foi o adversário da fase seguinte e o palmeirense na faixa dos 25 anos sabe bem que o time de Arapiraca representa uma das piores eliminações do Palmeiras, justamente numa Copa do Brasil, no início dos anos 2000, o pior período do clube. Daquela vez, porém, o primeiro gol profissional de Gabriel Jesus salvou a pátria.

Se Gabriel era uma promessa no início de julho, quando agosto chegou, o menino já era uma realidade. Muito em função da troca de treinadores, quando saiu Oswaldo Oliveira e chegou Marcelo Oliveira, Gabriel passou a ser mais utilizado e foi o grande nome das duas vitórias nas oitavas de final contra o Cruzeiro.

Um tanto quanto desconfiado, o palmeirense passou a acreditar que aquela campanha poderia acabar de uma forma mais feliz que os anos anteriores. No entanto, o adversário das quartas era o poderoso Internacional. Em dois jogos emocionantes, a classificação alviverde só aconteceu com um herói improvável: Andrei Girotto e seu gol aos 30 do segundo tempo que definiu a vantagem palmeirense.

Na semifinal, o ainda rico Fluminense foi o adversário. Por sorte nos sorteios, o Palmeiras ganhou a vantagem de decidir a segunda partida sempre no novíssimo Allianz Parque e a torcida se mostrou imprescindível para alcançar as vitórias e, quando necessário, as viradas.

Foi assim com o Tricolor das Laranjeiras, que venceu no Maracanã e tinha tudo para confirmar a classificação em São Paulo. O Palmeiras devolveu o 2 a 1 do primeiro jogo e levou a decisão para as penalidades. Com uma pressão absurda, Fernando Prass — que já havia sido decisivo com a bola rolando — , pegou dois pênaltis e levou o Palmeiras à final da Copa do Brasil.

O Santos seria o adversário e logo que foram conhecidos os finalistas, o clima de rivalidade tomou conta da pauta esportiva.

Mosaico de Fernando Prass e da Copa do Brasil.

A rivalidade com o Santos 

A temporada não foi das melhores para o Palmeiras. Apesar de reestruturar o clube e remontar o elenco com muitas contratações, Paulo Nobre ainda não havia conquistado um título. Na oportunidade até ali, o vice contra o Santos, no Paulistão foi um golpe dolorido e frustrante para o torcedor.

Além da derrota no estadual, alguns fatos como o grito de Ricardo Oliveira no ouvido de Dudu, que acabara de perder um pênalti no primeiro jogo do Paulistão, acirraram os ânimos entre palmeirenses e santistas. 

Definitivamente, Ricardo Oliveira foi o estopim para a rivalidade. No Brasileirão, o Prass saiu de campo reclamando de um soco do rival e no segundo turno, o atacante provocou após fazer um gol com uma careta que ficaria famosa no título da Copa do Brasil. Por tudo isso e muito mais, o clima para aquela decisão não era dos mais amistosos.

Após muita provocação e até análises da imprensa como a frase de Carlos Cereto, que cravou “o Palmeiras vai ser goleado na Vila e em São Paulo”, no primeiro jogo, a vitória magra do Santos, por 1 a 0, deixou a decisão aberta.

O gol perdido de Nilson no último minuto é apontado como o ponto central para a derrota santista. O fato de os jogos terem sido adiados para o fim de novembro e início de dezembro também pode ter influído no resultado.

A decisão, Fernando Prass e a glória

No dia 2 de dezembro de 2015, a primeira taça seria erguida no Allianz Parque. Uma multidão cercou o estádio e recebeu o ônibus da delegação palmeirense num caloroso abraço que seria capaz de motivar até o mais gelado jogador.

Casa cheia, mosaico homenageando Fernando Prass e a torcida sedenta pelo título. A Copa que era distante há alguns meses, agora estava mais próxima do que nunca. 

Os gols de Dudu no segundo tempo — o 2 a 0 aconteceu aos 40 minutos — , davam a quase certeza da glória, mas Ricardo Oliveira, logo ele, empatou no minuto seguinte e decisão foi para os pênaltis mais uma vez. 

A tensão era palpável, no Allianz Parque não havia ninguém que estivesse tranquilo. Marquinhos Gabriel escorregou e bateu por cima, Gustavo Henrique parou em Prass e Rafael Marques em Wanderlei. Inexplicavelmente, Fernando Prass pegou a bola para a cobrança decisiva e chutou forte para fazer o palmeirense desatar a mais saborosa comemoração dos últimos anos.

https://www.youtube.com/watch?v=QdLdwKqEzpI

Com a máscara da careta de Ricardo Oliveira, o elenco teve sua redenção e com a taça na sala de troféus, o palmeirense teve de volta seu orgulho, a possibilidade de gritar é campeão, um presente ao poder novamente estar junto aos grandes. Tudo isso numa noite histórica de 2 de dezembro.


** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Pedro Henrique Brandão

Comentarista e repórter do Universidade do Esporte. Desde sempre apaixonado por esportes. Gosto da forma como o futebol se conecta com a sociedade de diversas maneiras e como ele é uma expressão popular, uma metáfora da vida. Não sou especialista em nada, mas escrevo daquilo que é especial pra mim.

Como citar

BRANDãO, Pedro Henrique. Memória de um histórico 2 de dezembro alviverde. Ludopédio, São Paulo, v. 138, n. 3, 2020.
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